Do fiasco indiano ao oleoduto: polémicas atingem Trudeau
Depois de um discurso na Assembleia Nacional francesa e de dois dias em Londres para a cimeira da Commonwealth, Justin Trudeau volta ao Canadá para novo encontro: desta vez a Convenção do Partido Liberal em Halifax. A 18 meses das eleições, o primeiro-ministro canadiano ainda está a recuperar dos danos que a visita à Índia em março causou à sua imagem - com os media a criticarem uma indumentária "demasiado berrante até para Bollywood" e a denunciarem um "desastre diplomático" - e já enfrenta outro desafio: gerir a guerra entre duas províncias em torno da construção de um oleoduto. Uma crise que ameaça deixá-lo sem maioria absoluta no escrutínio de outubro de 2019.
O centro do debate é a expansão do oleoduto Trans Mountain, o que triplicaria o volume de petróleo transportado de Alberta para a Columbia Britânica. Ora o governo da Columbia Britânica, uma coligação de esquerda que inclui os Verdes, rejeita a expansão do projeto, alegando que pode pôr em causa o ambiente e alertando para o risco de uma fuga de petróleo. Mas o executivo de Alberta defende-o por motivos económicos.
Ora o governo federal, que aprovou o projeto em 2016, garante ter jurisdição, apesar de o primeiro-ministro da Columbia Britânica, John Horgan, afirmar ter "um mandato para defender a nossa costa".
No poder desde 2015, Trudeau conseguiu a sua maioria absoluta - que pôs fim a quase uma década de domínio dos conservadores - muito graças ao apoio dos ambientalistas na Columbia Britânica. E se agora assumir uma posição dura a favor do oleoduto, arrisca-se não só a perder estes como a pôr em causa a vitória no Quebeque, a província de maioria francófona com forte tradição ecologista. Mas Trudeau não pode também minar a sua política energética, pondo em causa a economia canadiana. O último Outlook do Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 2,1% para este ano, abaixo dos 2,3% que previa em janeiro e um abrandamento claro em relação aos 3% de 2017.
"Se olharmos para os cálculos políticos puros e duros, o primeiro-ministro tem realisticamente de virar a favor do ambiente, caso contrário isso vai acabar com ele no Quebeque", explicou à Reuters Nik Nanos. O dono da empresa de sondagens Nanos garante que "não seria preciso muito para o governo perder a maioria".
Apesar de tudo, a última sondagem do Nanos para a CTV News dá 41,1% das intenções de voto para o Partido Liberal de Trudeau, contra 29,2% para os conservadores de Andrew Sheer e 15,8% para o NDP de Jagmeet Singh. E quanto ao líder com mais capacidades para governar o país, Trudeau surge largamente à frente dos futuros rivais, com quase 55% de respostas positivas. Valores mesmo assim abaixo dos que o primeiro-ministro conseguia em 2017, quando o Canadá e o mundo olhavam para Trudeau como o campeão do liberalismo e o contraponto ao presidente americano Donald Trump.
Excentricidade ou marketing
Filho do também primeiro-ministro Pierre Trudeau, que governou o Canadá de 1968 a 1984, com uma breve interrupção, Justin Trudeau causou surpresa ao conseguir a maioria para os liberais em 2015. Jovem - tem agora 46 anos -, o antigo professor primários provou, tanto durante a campanha, como desde que assumiu o poder, ser um mestre a gerir a imagem. Pai de três filhos pequenos, com uma mulher fotogénica, Sophie, não perde uma ocasião de aparecer diante das câmaras - seja quando foi trabalhar vestido de super-homem no Halloween ou quando se vestiu com um traje tradicional para o Ano Novo Chinês.
Campeão do liberalismo, que se afirmou pelo contraste com Trump ao aceitar refugiados sírios de braços abertos, feminista convicto, Trudeau levou o seu gosto pelo espetáculo um pouco longe demais na visita à Índia. Se no Taj Mahal surgiu de blazer, nos restantes dias multiplicou as kurtas coloridas, acompanhado pelo resto da família, também de traje tradicional indiano. Tais foram as críticas, que o The Washington Post escreveu um artigo a anunciar o "fim da história de amor entre os canadianos e Trudeau". Mas a um ano e meio das eleições, o primeiro-ministro tem "muito tempo para dar a volta", como lembrava Nik Nanos ao diário americano.