Junto à Universidade de Genebra, onde em tempos existiu a Brasserie Landolt que nos primeiros anos do século XX serviu de base às conspirações de Lenine, está agora um prédio moderno, cujo rés-do-chão é ocupada pelo Takumi, um restaurante japonês. Não sobra nada da cervejaria histórica, que surge nas biografias do revolucionário russo, mas no exterior continua a placa que homenageia os opositores portugueses que nas décadas de 1960 e 1970 ali conspiravam contra o fascismo português. Foi colocada em 1999, para assinalar os 25 anos do 25 de Abril.."Lembro muito bem do Landolt. Íamos lá muito, nem sempre para as tais conspirações políticas, às vezes só mesmo para conversar. Para tertúlias. O café era famoso por causa de Lenine e até se falava de uma mesa onde ele se sentava sempre nos anos de exílio na Suíça", diz ao DN Maria Emília Brederode dos Santos, que fazia parte do grupo de opositores portugueses que a tal placa recorda..A atual presidente do Conselho Nacional de Educação chegou à Suíça em 1969. Foi ter com José Medeiros Ferreira, um futuro MNE, que conseguira o estatuto de refugiado político e estudava história em Genebra. Ali o casal conviveu com outros exilados portugueses, como António Barreto, Ana Benavente, Eurico Figueiredo, Valentim Alexandre ou Carlos Almeida. "Tínhamos dois cafés preferidos, o Landolt e o Café du Commerce", conta Maria Emília, que se recorda também de Mário Soares vir a Genebra mas sem ter certeza já se foi ao Landolt..Sentada na cafetaria da Universidade de Genebra, edifício tal como a antiga cervejaria Landolt na rue de Condolles, Marine, estudante de história, para a leitura do Tribune de Genève para admitir que nunca ouviu falar do café, mas sabe que Lenine viveu na Suíça (além de Genebra, em Berna e Zurique) antes de atravessar a Alemanha em 1917 num comboio especial (com o acordo do Kaiser) para ir para a Rússia transformar a inicial revolução burguesa contra o czar na triunfante revolução bolchevique..Já a presença de um grupo de exilados portugueses em Genebra é facto conhecido de Francisco, empregado de mesa num restaurante do centro histórico. Chegou só em 1982, mas outros mais antigos contaram-lhe sobre esse tempo em que a Suíça era terra de liberdade para muitos portugueses, além de terra de ganha-pão como continua a ser hoje. Mas não conhece a placa. "Não estou a ver"..De facto, não é fácil de ver a placa. Está num ponto alto, bem acima da altura de uma pessoa, e é fácil de passar despercebida. "Foi uma homenagem muito bonita, uma iniciativa do nosso cônsul em Genebra, Aristides Gonçalves. Fui eu e o Zé assistir, assim como muitos dos que tinham vivido na cidade", diz Maria Emília, que sublinha que quanto ao Landolt, a história atribulada levou a que tivesse dado lugar primeiro a um bar de nome FBI e agora ao tal restaurante japonês..Na inauguração da placa esteve também o maire de Genebra, André Hediger, e o ato foi notícia na imprensa suíça. O fim da Landolt, fundada em 1875, terá sido pouco depois, ainda em 1999, mas houve o cuidado de preservar a placa dos portugueses, embora colocada na fachada que dá para a rue du Conseil General e não para a rue de Condolle (o edifício faz uma espécie de bico)..Quanto à memória de Lenine, uma das livrarias da cidade tem à venda a biografia escrita por Robert Service. Diz a dada altura o historiador britânico que, juntamente com Londres e Munique, Genebra foi uma das cidades do exílio que melhor memória deixou ao político comunista, que aí viveu durante vários meses em 1903 e 1908.