Do Benfica a Peyroteo, passando por Amália e Santo António: Lisboa para descobrir em BD
Lisboa inventou uma ciência única, a olisipografia. Um olisipógrafo reconhece-se pelo instrumento: um espelho com que ele estuda a amada. Os olisiponenses, nós todos, gostamos muito dos olisipógrafos porque padecemos de coisa boa, a olisipofília: amar Lisboa perdidamente". Esta frase surge quase a meio deste Crónicas de Lisboa, de Ferreira Fernandes e Nuno Saraiva, mas sintetiza na perfeição o que é esta BD agora publicada pela ASA: uma declaração de amor a Lisboa. Dos autores, confesso que só conheço o desenhador pelo seu trabalho, tão bom e por isso tanto tão premiado. Já o autor dos textos, o jornalista Ferreira Fernandes, conheci-o quando comecei a trabalhar no Diário de Notícias em 1992 e quase três décadas depois não só foi meu diretor, como fiz parte da sua equipa. E não cometo grande indiscrição quando digo que ouvi de viva voz parcelas de algumas das histórias que surgem contadas neste livro, como a da passagem de Josephine Baker por Lisboa ou a estranha relação de Fernando Pessoa com o inglês Aleister Crowley.
Sei que Nuno Saraiva, lisboeta, é um apaixonado pela cidade. Tal como o luandense Ferreira Fernandes, que nela escolheu viver, o é. Dois olisiponenses e olisipófilos. Mas também sei que ao Ferreira Fernandes o que apaixona mesmo é uma boa história para contar, seja no fim da rua ou no fim do mundo, como dizia há uns anos um slogan inspiradíssimo da TSF. E isso nota-se na crónica dedicada a Baker, como na que fala de Jimmy Hendrix, que começou por tocar ukelele, que mais não é do que "o cavaquinho madeirense que um dia chegou ao Havai". Uma história também cheia de mundo (e de Lisboa, claro, cidade aberta ao mundo) é a dedicada a um dos cinco violinos, um branco de Angola, avançado centro do Sporting, que até fez António Silva dar um pontapé no tampo da mesa ao celebrar um golo n"O Leão da Estrela. Belo título o desse filme já antigo, grande título o desta crónica de Nuno Saraiva e Ferreira Fernandes: "Peyroteo, o Rei Leão". Para mim é a melhor destas histórias de Lisboa, mas também destaco a que fala do Benfica (ou da estrada de Benfica) e a que fala de Santo António de Lisboa (e não de Pádua).
Ferreira Fernandes foi com Catarina Carvalho fundar o jornal digital Mensagem de Lisboa e foi nesse projeto inovador de jornalismo de proximidade que primeiro foram publicadas estas crónicas em BD. Diz a diretora do Mensagem de Lisboa, numa pequena introdução: "Divirtam-se e esperem pelo próximo volume!". Divirtam-se a ler este Crónicas de Lisboa de Nuno Saraiva e Ferreira Fernandes e aprendam, atrevo-me a acrescentar.
Crónicas de Lisboa
Ferreira Fernandes e Nuno Saraiva
ASA
64 páginas
11,50 euros