Diretores até concordam com modelo de avaliação. Mas criticam 'timing'

"Isto foi algo feito com muita rapidez e responde a um timing político e não pedagógico"
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Os diretores escolares concordam com o novo modelo de avaliação do ensino básico, mas criticam a rapidez da mudança e que tenha acontecido a meio do ano letivo, temendo que responda mais a um "timing político" do que pedagógico.

"Isto foi algo feito com muita rapidez e responde a um timing político e não pedagógico. Se respondesse a um timing pedagógico as alterações podiam ser antecedidas de um debate e entrar em vigor num próximo ano. 'A meio do campeonato' os alunos que iriam ter exames deixam de os ter e os alunos que nunca pensavam que iam ter provas de aferição este ano passam a ter. A avaliação dos alunos merece um debate sério antes de qualquer decisão final", defendeu Filinto Lima, presidente da Associação Nacional dos Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

O Ministério da Educação decidiu aplicar provas de aferição no 2.º, no 5.º e no 8.º ano de escolaridade e manter a prova final no 9.º ano, foi hoje anunciado, eliminando a obrigatoriedade de exames com peso para a nota final nos 4.º e 6.º anos de escolaridade.

[citacao:Daqui por quatro anos vamos ter um Governo, em princípio de direita, que vai dizer que está tudo mal e voltam os exames]

Filinto Lima lamentou que as associações de diretores não tenham sido ouvidas sobre o novo modelo e defendeu que "mudanças definitivas na avaliação dos alunos merecem um debate" prévio e uma ponderação que entende não ter existido.

E teme que esta seja uma decisão que não dure mais do que um mandato.

"A nós preocupa-nos é o futuro, e o futuro é daqui a quatro anos. Nós sabemos que em Portugal a alternância democrática é normal. Daqui por quatro anos vamos ter um Governo, em princípio de direita, que vai dizer que está tudo mal e voltam os exames. Daqui a oito anos temos um Governo de esquerda que vai dizer que está tudo mal e vamos ter provas de aferição. Isto não traz estabilidade, confunde as escolas e até os próprios alunos", disse.

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No mesmo sentido, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, defendeu que "teria valido a pena preparar tudo para entrar em vigor no início do próximo ano letivo", evitando mudanças a meio de um ano letivo em curso, que, disse, podem até criar uma ideia de desvalorização das provas de aferição, "um bom instrumento de trabalho para as escolas".

"Em termos de organização para as escolas tudo o que seja mexer a meio do ano nunca é uma coisa fácil", disse.

Filinto Lima e Manuel Pereira elogiam a decisão de retirar as provas de aferição previstas para o 5.º e 8.º anos do calendário de aulas, agendando-as para o período de exames.

"[Com o modelo anterior] era um mês inteiro desperdiçado de aulas, porque os alunos faziam as provas e depois desinteressavam-se das aulas no tempo que faltava até ao final do 3.º período", disse Manuel Pereira.

Ambos os dirigentes saúdam também a decisão de centrar a avaliação nas disciplinas de Português e Matemática, que, dizem, levou a que as escolas trabalhassem nos últimos anos orientadas sobretudo para a obtenção de resultados nessas disciplinas.

"A pressão dos exames foi uma pressão louca que obrigou os professores a insistir muito no Português e na Matemática, desprezando as outras matérias. Obrigava-nos a trabalhar para os exames", afirmou Filinto Lima.

Eduardo Lemos, presidente do Conselho de Escolas, disse que o órgão que representa foi apenas ouvido sobre as premissas que orientaram a elaboração do novo modelo, e remeteu para uma próxima reunião do conselho uma posição sobre as mudanças anunciadas.

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