Diretor do MNAA só se recandidata caso as "condições se alterem de forma substancial"
Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) há nove anos, António Filipe Pimentel comunicou na semana passada no final de uma reunião entre a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e diretores dos museus, palácios e outros monumentos da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), a sua intenção de abandonar a instituição em junho, quando termina o seu mandato.
A atual "equipa tem uma ideia para este museu que foi demonstrada. O Estado e o Governo têm pelos vistos outra. No quadro atual é inviável [uma recandidatura] e não faz qualquer sentido que me mantenha em funções", afirmou em entrevista à RTP3, transmitida nesta segunda-feira, justificando novamente a sua decisão.
Todavia, o diretor do museu admite que essa recandidatura aconteceria e as condições se alterarem de forma substancial". Aliás, acrescentou Pimentel, "teria o maior gosto e felicidade de prosseguir o esforço que aqui foi desenvolvido nestes anos e não desperdiçá-lo. Acho que o desperdício é pecado mortal."
Referindo que a questão da falta de vigilantes, que tem obrigado ao encerramento temporário de várias salas ao longo dos anos, "é apenas a mais visível" entre aquelas que obrigam a atual equipa "em condições extremamente austeras e limitadas", António Filipe Pimentel afirmou que a campanha de crowdfunding que permitiu ao museu adquirir o quadro A Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira "não seria possível hoje". Nessa altura, como recordou Pimentel, em visita ao museu António Costa, "com o maior dos otimismos", prometia a autonomia e ampliação do mesmo. Estávamos então em 2016.
O diretor do MNAA nunca escondeu a sua insatisfação face à falta de autonomia do museu. Nesta entrevista deu um exemplo de um pedido de autorização para comprar lâmpadas que o museu fez em janeiro de 2018 e que só há um mês recebeu. Relativamente novo regime jurídico de autonomia de gestão dos museus, monumentos, palácios e sítios arqueológicos, diploma que ainda não foi aprovado e só amanhã será discutido na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, Pimentel voltou a reconhecer a mudança como "insuficiente", lembrando que, apesar do aumento da autonomia, o MNAA continuaria a ficar privado de um número de identificação fiscal, que considera essencial.
A proposta de diploma foi apresentada em junho aos diretores de museus e entidades representativas e, entre os objetivos, constam a delegação de competências nos diretores dos museus, a redução da burocracia e o maior acesso aos recursos próprios gerados, deu já conta a agência Lusa, que teve acesso ao diploma. Este tem como objetivos "que o património cultural beneficie de uma maior autonomia de gestão para concretização de projetos que importem mais-valias para a cultura, o património, a economia e o turismo, fomentando-se o estabelecimento de parcerias entre museus, monumentos, palácios e sítios arqueológicos com outras entidades, públicas e privadas, e com a sociedade civil, valorizando o seu papel enquanto instituições com ligações estreitas ao território e às comunidades onde se inserem".