Direção do PSD ausente no lançamento do "Movimento 5 de Julho"
Dirigentes do CDS, monárquicas, figuras gradas do "passismo", monárquicos, militantes da "Aliança", liberais. Todos foram vistos esta tarde no restaurante do Espelho de Água, em Belém, onde se lançou o Movimento 5 de Julho.
Ausência notada: qualquer representação da direção do PSD. O CDS, pelo contrário, não escondeu a sua associação ao movimento. Embora salientando estar no evento "a título pessoal", a deputada centrista Cecília Meireles - vice-presidente do partido - compareceu, e até discursou.
O outro orador - além de Miguel Morgado, deputado do PSD que é o principal dinamizador do Movimento - foi Carlos Guimarães Pinto, presidente da Iniciativa Liberal, um partido já registado no Tribunal Constitucional mas que ainda não foi a votos (irá pela primeira vez nas Europeias).
Ao apresentar o movimento e o seu manifesto, Miguel Morgado - antigo assessor de Passos Coelho no seu governo - explicou precisamente que esta nova associação precisa de todas as famílias da direita, enunciando-as uma por uma: os liberais, os conservadores, os democratas-cristãos e os sociais-democratas.
Mas quando disse "sociais-democratas" acrescentou "não socialistas" - e toda a sala o aplaudiu, sabendo que Morgado estava dessa forma a referir-se à social-democracia que atualmente está representada na direção do PSD e na liderança de Rui Rio.
Morgado anunciou que a primeira prioridade do "Mov. 5.7" - assim se designa, numa referência à data de 5 de julho de 1979, quando Francisco Sá-Carneiro, Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles lançaram a Aliança Democrática, coligação entre o PSD, CDS e PPM - será "fazer um grande livro" sobre a Direita portuguesa - ou melhor, "sobre o espaço não socialista" da política portuguesa.
Segundo afirmou, o que está para esta nova associação política é lutar "pelo final do longo inverno socialista" que no seu entender vigora em Portugal. Nos seus agradecimentos iniciais, referiu-se ao historiador e colunista do "Observador" Rui Ramos como "a alma deste projeto, sem o qual nada disto teria existido". Dos órgãos sociais da associação faz também parte Pedro Lomba, advogado e ex-secretário de Estado de Passos Coelho.
O deputado do PSD fez questão de enunciar o que o Mov 5.7 rejeita "sem compromissos" nem "ambiguidades": o socialismo da "corrupção", da "estagnação", do "Estado centralista", das "vanguardas ideológicas", do "compromisso com as clientelas", da "tutela cultural".
Depois enunciou porque é importante para a associação - em que ocupa oficialmente o posto de porta-voz da direção - que no seu interior convivam "ideias bem diferentes" entre si.
Dos liberais precisa do "vigor reformista"; dos conservadores da forma como "protegem as instituições e o legado civilizacional de que somos herdeiros"; dos democratas-cristãos do seu "entendimento moral da política" e da "ética social" que representam; e dos sociais-democratas ("não socialistas...") do facto de "não perderem por um instante a visão dos mais desfavorecidos".
A abrir a sessão, Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, assumiu abertamente ter algum "pejo" em identificar-se como sendo de direita - preferindo antes assumir o Mov. 5.7 como congregador "do espaço não socialista".
E a seguir elencou vários "erros" no seu entender cometidos pela direita nos últimos anos - por exemplo o de em 2005 ter "cavalgado a homofobia" para assim acabar por "entregar Portugal ao pior primeiro-ministro da democracia", José Sócrates.
No entender, a direita também errou quando "focou a sua atenção" na oposição ao casamento gay, acabando com isso a "entregar uma geração inteira ao Bloco de Esquerda", ou ainda, por exemplo, por nunca ter reduzido a carga fiscal.
Já Cecília Meireles, deputada e vice-presidente do CDS, salientou a importância de existirem "espaços de reflexão diferentes dos partidos" que funcionem com um "tempo diferente" do tempo dos ciclos eleitorais. "Os partidos têm o seu espaço mas são precisos outros espaços", afirmou.
Cecília Meireles - tal aliás como Miguel Morgado - enfatizou também a diversidade do Mov 5.7: "Não estamos aqui para apagar diferenças."
À entrada do evento foi sendo distribuído o manifesto fundador do movimento, intitulado "Nascido a 5 de Julho".
O diagnóstico que faz da atual situação da direita não é sorridente - e nisso assenta a necessidade de um movimento como este: "Escolhemos os momentos como eles nos escolhem a nós."
"A direita atravessa hoje uma crise política e cultural que é evidente para todos", começa por se ler. Mas "o perigo que a espreita não é menor do que a oportunidade que abre" - e o que se lhe impõe então, à direita, é "refundar-se" e "reconstruir-se para depois se federar". "Este é o momento para iniciar essa tarefa".