Foi deputado e eurodeputado, secretário de Estado da Educação no governo de Santana Lopes (2002-2004). Licenciado em Direito, está há muitos anos apostado na sua carreira como advogado e professor universitário. Tem 49 anos e nasceu no Porto. Dirige o gabinete de estudos do CDS e ainda um think tank ligado ao partido, o Instituto Amaro da Costa..O que explica o mau resultado do CDS-PP nas legislativas? Depois de chegados os resultados, é sempre fácil ver os erros. Relembro que no fim do ano passado, início deste, tinha resultados na ordem dos 10%. E desde aí foi sempre a cair nas intenções de voto. O principal problema do partido nesta eleição foi a dificuldade em explicar qual a razão para votar no CDS. Ou seja, qual a utilidade do voto no CDS. Isto na estrita medida em que tudo se centrava em como se iria formar uma maioria à volta do PS, os acordos que o PS poderia fazer - e o CDS retirou-se deles. Ao fazê-lo, gerou uma dificuldade que não se conseguiu ultrapassar para que o eleitorado pudesse perceber uma razão para votar no CDS. Em segundo lugar, criou-se uma lógica de que o PSD poderia fazer algum contraponto ao PS, numa lógica de alguma bipolarização..Isso aconteceu na reta final da campanha... Sim, nas últimas semanas. Não acho nada que se chegue ao período oficial da campanha [duas semanas antes das eleições] já com os resultados predeterminados..Acha que também se pode responsabilizar pela derrota o discurso lunático e irrealista de Assunção Cristas a assumir para o CDS ambição de ser maior do que o PSD e de ela própria chegar a primeira-ministra? É provável que tenha havido um erro de cálculo em relação à forma de fazer o discurso. Se fizermos uma análise histórica, o CDS quando apresentou um slogan "Para a maioria", com Adriano Moreira, apresentando-se como tentando ser verdadeiramente a alternativa [ao PS], não é percecionado pelo eleitorado como tal. Por isso mesmo acho que é importante o CDS retomar aquela que é a sua função no espaço não socialista ou do centro-direita..Que é? O CDS deve funcionar com um partido federador e capaz de fazer pontes, com o seu espaço político mas também quando seja necessário para se alcançar objetivos que são seus (no Serviço Nacional de Saúde ou na carga fiscal, por exemplo)..Podem ser pontes com o PS? Diria que tem de ser combatida a ideia de que há um partido, o PS, que consegue dialogar com todos ou quase todos. E o CDS deve fazer parte disso. Dou um exemplo: se o PS considerar que as propostas fiscais do CDS são positivas, não vejo uma razão para o CDS não aceitar esse voto. O CDS tem de naturalmente ir assumindo uma lógica mais federadora. Depois do resultado das legislativas é a mais correta..Em 1995, o CDS saiu da condição de "partido do táxi" com um discurso soberanista, eurocético e securitário. É esse o caminho que o partido tem de voltar a percorrer para voltar a ter uma representação razoável? Não. O CDS não tem "centro" no seu nome por acaso. Foi uma questão pensada em relação à própria natureza que o partido poderia assumir. A tentativa de alargamento do espectro eleitoral do CDS não correu bem. Vamos ter de refletir nisso de uma forma aprofundada. Mas não me parece que a solução seja acantonar. Se esse discurso [soberanista, eurocético e securitário] foi aceitável nos anos 1990, neste momento essa não é uma solução de futuro. Até porque o CDS não está entalado entre partido nenhum e muito menos entre os novos partidos que surgiram [Chega e Iniciativa Liberal]. O CDS tem de discutir pouco a sua natureza e atuar mais para aquilo que as pessoas pretendem..Nos anos 1990, um dos protagonistas do regresso do CDS ao mundo dos vivos foi Manuel Monteiro, que agora está a querer voltar ao CDS. Se dependesse de si, Monteiro - que depois de sair do CDS até fez um partido contra o CDS - poderia regressar? Em primeiro lugar, a questão não depende de mim. Sobre essa matéria, fiz uma afirmação e não direi mais do que isso. Acho que alguém que se desfiliou de um partido, que saiu zangado com esse partido e que discordava da sua carta de princípios e do seu programa - que são hoje os mesmos -, naturalmente deve explicar por que razão agora pretende retomar..Monteiro deve dizer ao que vem. É isso? Sim. Houve a formação de um partido contra o CDS, houve uma saída quando a carta de princípios e o programa são os mesmos - e o principal dever de um filiado do CDS é defender estas duas coisas. Será estranho tudo se passar como se nada fosse....Há sinais, no Parlamento, de uma competição crescente entre o CDS e o Chega. Teme que se instale a perceção pública de que o CDS anda a competir com o Chega? Não temo. O CDS não tem rigorosamente nada a ver com o Chega. O Chega é um partido que acha que há excesso de Parlamento na vida política, quer acabar com o regime tal como o conhecemos. O CDS é um partido fundador do regime, tem responsabilidades perante ele, portanto o CDS nunca irá transformar-se numa espécie de Chega ou fazer uma competição com o Chega. Vejo como completamente impossível que o Chega seja um partido federador em Portugal, como o CDS é..Mas não sente que há uma perceção na opinião pública de que, neste momento - por exemplo, à volta da questão do 25 de Novembro - há uma certa competição entre os dois partidos? A partir do momento em que temos novos partidos - como o Chega ou o Iniciativa Liberal -, quando se toma determinadas medidas, vai-se sentir sempre que há uma competição parlamentar ou eleitoral. O que me interessa não é apenas olhar para a questão do 25 de Novembro, é olhar para os discursos globais dos partidos. Quando o CDS apresenta medidas fiscais amigas dos contribuintes não está a fazer uma competição ao Iniciativa Liberal, que tem propostas semelhantes. Quando muito, os novos partidos é que estão a fazer uma disputa com o CDS..Um dos assuntos que vão surgir agora na agenda é a questão da eutanásia. Defende um referendo nacional? Tenho refletido sobre isso. Essa é uma daquelas clássicas matérias ensinadas nas escolas de Direito como exemplo de matérias referendárias. Mas vendo a participação registada, tenho dúvidas se as pessoas querem esse tipo de referendos. No plano teórico é uma ideia mais do que aceitável; mas a prática tem demonstrado que não resulta. Portanto, o mais natural será que os políticos, representantes dos eleitores na Assembleia da República, decidam esse género de questões..Se tivesse de votar "referendo, sim" ou "referendo, não", o que votaria? Estaria dividido mas tendencialmente iria para o não..O PSD também está em fase de disputa da liderança. Das três candidaturas, qual lhe parece que pode assegurar uma relação mais saudável? Qualquer um dos três candidatos tem uma história de relacionamento com o CDS. Na Câmara de Cascais [Miguel Pinto Luz], na Câmara do Porto [Rui Rio] e na coligação PSD-CDS que governou entre 2011 e 2015 [Luís Montenegro, como líder parlamentar]. Os três têm experiência de relacionamentos com o CDS que correram bem..Diogo Feio quer a candidatura de João Almeida a presidente do partido? Quero que o candidato que vencer o congresso seja alguém com uma linha muito clara e uma grande capacidade de unir o CDS e de lhe dar esta lógica federadora no espaço em que está e na política em geral. Isso faz-se com grande experiência política e uma enorme capacidade de dar esperança, até porque sinto que os militantes estão preocupados..A candidatura de Abel Matos Santos pode contar com o seu voto ou não? Garantidamente que não. Mas vamos aguardar que todas as candidaturas estejam formalizadas. Valorizo muito a questão da experiência política, a capacidade de unir o partido e a perceção de que é preciso um partido federador. E isso reflete-se, já, por exemplo, na questão das próximas eleições presidenciais. Se Marcelo Rebelo de Sousa se recandidatar, na minha opinião, o CDS não se deve incluir em aventuras que sejam aventuras de divisão. A demonstração de que é um partido que não quer ser divisionista será a de um apoio claro e inequívoco a uma recandidatura do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Na minha opinião, será um erro não apoiar Marcelo Rebelo de Sousa ou fomentar qualquer espécie de candidatura que venha dividir. O CDS deve-se preocupar em incluir. E, já agora, iniciar um trabalho muito sério tendo em vista as próximas autárquicas, que estão claramente incluídas no mandato da próxima direção.