Como antevê o país para 2022 e quais os principais desafios? Em 2022, a questão chave para Portugal será a solução de Governo que sairá das eleições de 30 de janeiro. Tendo em conta o principal desafio que o país tem pela frente - a recuperação social e económica de uma pandemia - e toda a incerteza que rodeia a evolução dessa mesma pandemia, há que encontrar modelos de desenvolvimento que privilegiam a inovação e o estímulo a novas cadeias de valor, sem perder de vista a coesão social. Precisamos de modelos alinhados com os princípios da moderação e da colaboração e não na radicalização de políticas e soluções que excluem em vez de incluir. Da Alemanha, no pós-Merkel, chega um exemplo de entendimento que pode ser um bom caminho para evitar os extremos. O jornal El País até usou esta forma de governo para dizer que a social-democracia está de volta..Que característica teria, para si, um governo ideal para Portugal? Um governo curto, com ministros de grande peso político, apoiado por um conjunto de técnicos que tenham uma visão que não pode esquecer o curto-prazo, mas tem de pensar no médio e longo-prazo. Um governo com uma nova estrutura e até arrojado na sua organização, atento aos impactos económicos e sociais da chamada era das transições: energética, verde e digital. Serão tempos de oportunidades e renovação, mas também de grandes disrupções que exigem líderes transparentes, com capacidade de resistência e de comunicação e que não cedam ao modelo da navegação à vista..De que forma poderá o país voltar a colocar a economia na rota de crescimento? No seu último relatório sobre Portugal a OCDE defende que deve ser definida uma estratégia de consolidação orçamental. Este é um tema incontornável e que deve preocupar toda a classe política e empresarial, tendo até em conta os preocupantes níveis de dívida pública. Este é também um primeiro passo para definir políticas de crescimento sustentáveis e que venham a gerar riqueza para a economia. Existem depois outros sectores - o do turismo, por exemplo - que têm de esperar pela retoma do mercado para voltarem a ser relevantes na economia nacional, mas não podemos deixar de olhar para oportunidades de negócio ligadas à descarbonização, à economia circular e à gestão de resíduos, por exemplo. A industrialização verde é uma oportunidade e que pode ser apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência. Como já várias vezes defendi, precisamos de mais indústria de reciclagem para fazer a economia circular e ter mais matéria-prima secundária a voltar a entrar no consumo. Há, desde logo, um enorme espaço de melhoria e transformação nos sistemas de reciclagem nacionais..A natalidade é um dos desafios nacionais. Que medida(s) poderá o novo governo implementar para colmatar a falta de nascimentos? A principal medida, não só do Governo, mas de toda a sociedade em geral, desde as empresas às instituições públicas, seria uma "revolução" nos horários de funcionamento da sociedade, com medidas que compatibilizassem mais a vida familiar com a profissional. O teletrabalho pode ser uma via, mas não pode ser visto como a única via, senão caímos numa visão "fundamentalista" da organização do trabalho..Promover a igualdade é outra preocupação na agenda nacional e europeia. Que medida poderia ser implementada em 2022 para acelerar e alcançar este objectivo? Julgo que já temos um "edifício" legislativo robusto que dá garantias de promoção da igualdade. O que falta mudar é a mentalidade da sociedade e a forma de atuar das lideranças. Diria que a principal medida será do bom senso - uma ideia já "gasta" mas que a realidade mostra que é muito difícil de aplicar. Acredito que estamos a passar às novas gerações bons exemplos de liderança e de diversidade que virão a ser fundamentais no caminho para a igualdade..Alterações climáticas: que contributo irá dar, a título pessoal e através da sua empresa, para colmatar esses efeitos? Lidero uma organização privada, mas que há 25 anos desempenha uma missão pública. Fomos uma das primeiras instituições e falar em reciclagem e desde então que convivemos muito bem com a disrupção e a inovação. Os resultados estão à vista: de 1500 toneladas de embalagens enviadas para reciclagem, em 1998, passámos para 409 mil, em 2020. Somos uma das entidades que mais contribuiu para mudar os hábitos e até a paisagem do país pois já não vemos lixeiras, mas sim 60 mil ecopontos espalhados pelas nossas cidades, vilas e aldeias. A Sociedade Ponto Verde (SPV) é hoje uma referência nacional na economia circular e parceira fundamental na bioeconomia. O nosso contributo é criar valor acelerando a transformação da gestão das embalagens e liderando a inovação e o conhecimento. Um contributo que se materializa em várias iniciativas em que continuamos a apostar em 22, desde a Academia Ponto Verde, projecto dirigido as escolas, até ao Ponto Verde Lab, o nosso projecto de inovação e economia circular, passando por parcerias que promovem programas de inovação colaborativa e pelo "nosso" Gervásio, que agora regressou em verão digital para relembrar que a missão da reciclagem é para sempre..Digitalização: o que falta fazer para que Portugal seja um país mais tecnológico e competitivo? Na digitalização temos de ser rápidos a adaptar-nos às constantes evoluções tecnológicas e criarmos talento focado na inovação, no desenvolvimento e numa interação intensa entre academia e empresas. O que não podemos ter é processos como o do concurso do 5G, que provocou atrasos numa área crítica para a digitalização. Resumindo: temos a vontade, os fundos, o espírito de inovação e a capacidade para funcionarmos com os ambientes digitais de hoje, mas depois há sempre o tal "papelinho" que é preciso preencher presencialmente e que emperra todo o sistema, não existindo digitalização que valha. Quando resolvermos essa nossa tendência para a burocracia, estaremos mais perto de um Portugal mais digital..Qual é aquele livro/desporto/viagem/atividade que tem vindo a adiar e que quer mesmo ler/fazer no novo ano? Acabar todos os livros que tenho na cabeceira e finalmente conhecer o Japão..Se fosse um super-herói, qual seria? Não encontro em mim vocação para tal, mas gostava de ter o dom do teletransporte.....Um luxo para si, em 2022, é? Menos écrans!
Como antevê o país para 2022 e quais os principais desafios? Em 2022, a questão chave para Portugal será a solução de Governo que sairá das eleições de 30 de janeiro. Tendo em conta o principal desafio que o país tem pela frente - a recuperação social e económica de uma pandemia - e toda a incerteza que rodeia a evolução dessa mesma pandemia, há que encontrar modelos de desenvolvimento que privilegiam a inovação e o estímulo a novas cadeias de valor, sem perder de vista a coesão social. Precisamos de modelos alinhados com os princípios da moderação e da colaboração e não na radicalização de políticas e soluções que excluem em vez de incluir. Da Alemanha, no pós-Merkel, chega um exemplo de entendimento que pode ser um bom caminho para evitar os extremos. O jornal El País até usou esta forma de governo para dizer que a social-democracia está de volta..Que característica teria, para si, um governo ideal para Portugal? Um governo curto, com ministros de grande peso político, apoiado por um conjunto de técnicos que tenham uma visão que não pode esquecer o curto-prazo, mas tem de pensar no médio e longo-prazo. Um governo com uma nova estrutura e até arrojado na sua organização, atento aos impactos económicos e sociais da chamada era das transições: energética, verde e digital. Serão tempos de oportunidades e renovação, mas também de grandes disrupções que exigem líderes transparentes, com capacidade de resistência e de comunicação e que não cedam ao modelo da navegação à vista..De que forma poderá o país voltar a colocar a economia na rota de crescimento? No seu último relatório sobre Portugal a OCDE defende que deve ser definida uma estratégia de consolidação orçamental. Este é um tema incontornável e que deve preocupar toda a classe política e empresarial, tendo até em conta os preocupantes níveis de dívida pública. Este é também um primeiro passo para definir políticas de crescimento sustentáveis e que venham a gerar riqueza para a economia. Existem depois outros sectores - o do turismo, por exemplo - que têm de esperar pela retoma do mercado para voltarem a ser relevantes na economia nacional, mas não podemos deixar de olhar para oportunidades de negócio ligadas à descarbonização, à economia circular e à gestão de resíduos, por exemplo. A industrialização verde é uma oportunidade e que pode ser apoiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência. Como já várias vezes defendi, precisamos de mais indústria de reciclagem para fazer a economia circular e ter mais matéria-prima secundária a voltar a entrar no consumo. Há, desde logo, um enorme espaço de melhoria e transformação nos sistemas de reciclagem nacionais..A natalidade é um dos desafios nacionais. Que medida(s) poderá o novo governo implementar para colmatar a falta de nascimentos? A principal medida, não só do Governo, mas de toda a sociedade em geral, desde as empresas às instituições públicas, seria uma "revolução" nos horários de funcionamento da sociedade, com medidas que compatibilizassem mais a vida familiar com a profissional. O teletrabalho pode ser uma via, mas não pode ser visto como a única via, senão caímos numa visão "fundamentalista" da organização do trabalho..Promover a igualdade é outra preocupação na agenda nacional e europeia. Que medida poderia ser implementada em 2022 para acelerar e alcançar este objectivo? Julgo que já temos um "edifício" legislativo robusto que dá garantias de promoção da igualdade. O que falta mudar é a mentalidade da sociedade e a forma de atuar das lideranças. Diria que a principal medida será do bom senso - uma ideia já "gasta" mas que a realidade mostra que é muito difícil de aplicar. Acredito que estamos a passar às novas gerações bons exemplos de liderança e de diversidade que virão a ser fundamentais no caminho para a igualdade..Alterações climáticas: que contributo irá dar, a título pessoal e através da sua empresa, para colmatar esses efeitos? Lidero uma organização privada, mas que há 25 anos desempenha uma missão pública. Fomos uma das primeiras instituições e falar em reciclagem e desde então que convivemos muito bem com a disrupção e a inovação. Os resultados estão à vista: de 1500 toneladas de embalagens enviadas para reciclagem, em 1998, passámos para 409 mil, em 2020. Somos uma das entidades que mais contribuiu para mudar os hábitos e até a paisagem do país pois já não vemos lixeiras, mas sim 60 mil ecopontos espalhados pelas nossas cidades, vilas e aldeias. A Sociedade Ponto Verde (SPV) é hoje uma referência nacional na economia circular e parceira fundamental na bioeconomia. O nosso contributo é criar valor acelerando a transformação da gestão das embalagens e liderando a inovação e o conhecimento. Um contributo que se materializa em várias iniciativas em que continuamos a apostar em 22, desde a Academia Ponto Verde, projecto dirigido as escolas, até ao Ponto Verde Lab, o nosso projecto de inovação e economia circular, passando por parcerias que promovem programas de inovação colaborativa e pelo "nosso" Gervásio, que agora regressou em verão digital para relembrar que a missão da reciclagem é para sempre..Digitalização: o que falta fazer para que Portugal seja um país mais tecnológico e competitivo? Na digitalização temos de ser rápidos a adaptar-nos às constantes evoluções tecnológicas e criarmos talento focado na inovação, no desenvolvimento e numa interação intensa entre academia e empresas. O que não podemos ter é processos como o do concurso do 5G, que provocou atrasos numa área crítica para a digitalização. Resumindo: temos a vontade, os fundos, o espírito de inovação e a capacidade para funcionarmos com os ambientes digitais de hoje, mas depois há sempre o tal "papelinho" que é preciso preencher presencialmente e que emperra todo o sistema, não existindo digitalização que valha. Quando resolvermos essa nossa tendência para a burocracia, estaremos mais perto de um Portugal mais digital..Qual é aquele livro/desporto/viagem/atividade que tem vindo a adiar e que quer mesmo ler/fazer no novo ano? Acabar todos os livros que tenho na cabeceira e finalmente conhecer o Japão..Se fosse um super-herói, qual seria? Não encontro em mim vocação para tal, mas gostava de ter o dom do teletransporte.....Um luxo para si, em 2022, é? Menos écrans!