DGS lança plano de ação para inverno com três cenários: do melhor ao pior

A Direção-Geral da Saúde lançou hoje o Plano Referencial Outono-Inverno 2021-2022, que assenta em três cenários: um de estabilidade, a situação em que estamos agora, outro de maior propagação da doença e outro ainda, de maior gravidade, se for identificada uma variante resistente às vacinas. Este cenário é o mais perigoso, pouco plausível, mas possível. Veja aqui o documento
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Há um ano, precisamente, que os portugueses ouviram falar do Plano Outono-Inverno, como mais um ano e meio de combate à covid-19, a Direção-Geral da Saúde, volta a lançar o Plano Referencial para o Outono-Inverno 2021-2022, o qual define os cenários possíveis e as estratégias de atuação e como as autoridades de saúde, os cidadãos e a própria sociedade devem agir. Isto porque, e um ano e sete meses depois do início da pandemia, quase dois após a identificação do SARS CoV-2, na província de Wuhan, na China, é a própria diretor-geral, Graça Freitas, que admite ao DN que o vírus ainda nos pode surpreender este inverno. "É um vírus muito novo, muito recente, e não sabemos o que vai acontecer".

Por isso mesmo, explica, o plano para o outono inverno foi traçado para três cenários: "O cenário que vivemos agora, perfeitamente estável, outro em que a efetividade da vacina começa a perder-se, podendo haver aumento de casos, foi o que aconteceu com os mais idosos, e, por isso, mesmo começámos já a fazer a dose de reforço. E o terceiro, que seria o pior, aquele em que apareceria uma nova variante, com capacidade de escapar ao nosso sistema imunitário e à proteção dada pelas vacinas", acrescentando que este "não é um cenário plausível, mas que tem de estar sempre presente, enquanto o vírus continuar a fazer o seu percurso entre nós".

Ou seja, o vírus ainda nos pode surpreender este inverno. Aliás, já o está a fazer. Basta olhar para países como o Reino Unido, Israel e Rússia que estão a registar um aumento considerável de número de casos. No Reino Unido, por exemplo, ainda não foram tomadas medidas de restrição, porque a letalidade não tem aumentado, mas, no caso da Rússia, em que esta semana o número de casos atingiu os 40 mil por dia e o de mortes 15 mil, a sociedade começou a fechar e milhões de pessoas foram enviadas, de novo, para casa.

Graça Freitas, em declarações ao DN admite que tudo ainda pode acontecer, e que, por isso, este "plano referencial para o Outono-Inverno está preparado para fazer face a qualquer um destes cenários, quer seja o da estabilidade, de maior transmissibilidade ou de variantes mais agressivas". O foco é sempre: "Conter a doença grave, mais do que não ter infeção. Posso dizer que, neste momento, esta é a nossa preocupação principal".

De acordo com esta avaliação, as medidas vão sendo tomadas e adaptadas. No fundo, e como diz, não se vai inventar, mas reforçar o que já se aprendeu. Daí que a vigilância epidemiológica seja o primeiro pilar deste plano. "As medidas serão tomadas conforme forem ocorrendo os cenários e poderão ser de maior ou menor intensidade. Por isso, é muito importante a vigilância epidemiológica - que em saúde pública significa 'vigiar para agir' -, baseada na informação que diariamente vai sendo recolhida pelas várias entidades de saúde.

"A informação recolhida diariamente até pode não ser perfeita, mas dá-nos uma fotografia da realidade no momento, que é muito importante. É com esta informação que sabemos se devemos ou não intensificar a vigilância e as respostas que têm de ser dadas".

As medidas, como refere, "são as que todos nós já conhecemos" e que, em primeiro lugar, devem ser assumidas pelo próprio cidadão". Para a diretora-geral, a vigilância é um pilar para o combate à pandemia porque começa precisamente pela responsabilidade de cada um de nós. "A responsabilidade de cada um em se proteger continua a ser essencial, mesmo numa situação como a que vivemos agora, que é de estabilidade e em que temos mais de 85% da população vacinada".

Esta responsabilidade continua a ser tão importante quanto se sabe que a pandemia também evolui pelos nossos comportamentos, portanto Graça Freitas diz mesmo ao DN que se esta vigilância individual e de proteção não existir, "em última análise podemos chegar a uma situação em que se pode evoluir para um retrocesso, voltar ao passado e aos confinamentos".

Segundo sublinhou ao DN, "a vigilância é um dos pilares deste plano e tem sido sempre reforçada desde o início da pandemia quer nos aspetos que são avaliados como na criação de plataformas tecnológicas sofisticadas com cada vez maior capacidade de análise. Em função dos resultados, adaptamos a ação". É a partir da vigilância que serão tomadas as decisões, como se haverá ou não necessidade de vacinar com doses de reforços a população, em caso de perda de efetividade das vacinas, em que a imunidade começa a decair.

Daí que o segundo pilar de atuação para este inverno seja o da vacinação. Neste momento, "já estamos a fazer isso em relação aos imunodeprimidos e aos idosos, que é dar as doses de reforço", mas "se a ciência nos indicar que são precisos fazer reforços em outros grupos, também o faremos".

O terceiro pilar para atuar, se nos depararmos com uma situação de uma nova variante mais agressiva, e uma vez que ainda não há um medicamento que trate a doença grave provocada pelo SARS-CoV-2, poderá ser a adoção de medidas de maior restrição, como até voltar aos confinamentos.

Uma realidade que a diretora-geral espera que não aconteça, mas que é possível. Daí que este plano mantenha as estratégias de testagem rápida em massa para evitar a propagação da transmissibilidade. Daí também que, nas unidades de saúde, os planos de contingência tenham de estar a postos, com circuitos e escalas diferenciadas para se conseguir responder à doença. "O vírus ainda está entre nós e não se sabe o que pode acontecer", volta a sublinhar "O objetivo é sempre o de não termos doença grave, mais pessoas internadas e mais letalidade".

Ao contrário do que vivíamos há um ano, em que o país entrava na segunda vaga da pandemia, hoje Portugal vive uma situação endémica. Ou seja, uma situação estável e controlável em termos de número de casos e de letalidade. Outros países europeus, com taxas de vacinação mais baixas, estão piores. O plano para o este outono e próximo inverno assenta nos mesmos pilares do que o que foi lançado no ano passado. Este ano, com mais conhecimento, é necessário que este seja implementado por todos: cidadãos e autoridades de saúde, locais e centrais.

Como refere a nota lançada pela DGS, o documento, que esta noite foi publicado no site da DGS, e tal como aconteceu com o do ano passado "contempla um conjunto de estratégias que serão implementadas face aos possíveis cenários para o período de outono e inverno. O objetivo é fornecer uma resposta eficiente e coordenada, reduzindo o potencial impacto deste período na saúde da população em geral e, em especial, nos grupos de risco".

Especificando até que este plano Outono Inverno para 2021-2022, foi elaborado para "orientar a operacionalização das respostas à população quer ao nível central, regional e local, assentando em três linhas estratégicas principais: vigilância e intervenção em Saúde Pública; vacinação e gestão de casos", embora depois tais estratégias se estendam também às respostas intersetorial, literacia e comunicação". Como refere a nota da DGS, o documento "é dirigido às entidades do Ministério da Saúde e não substitui os planos específicos de reforço da capacidade de resposta e recuperação do sistema de saúde e do Serviço Nacional de Saúde".

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