Dezenas de consultas foram 'encaixotadas' no São João

Administração e direcção do serviço de otorrino do Hospital encontraram, em 2006, muitos pedidos de consultas em caixas há mais de três anos. Os doentes nunca tinham sido vistos. A Inspecção-Geral da Saúde está a fazer auditoria a este serviço
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A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) está a fazer uma auditoria ao serviço de otorrinolaringologia do Hospital de São João, no Porto. Uma das situações que deverá analisar é a existência de várias dezenas de consultas que ficaram por marcar neste serviço até 2006. "Os pedidos e os processos dos doentes estavam fechados em caixas num armário da biblioteca", denuncia a directora de serviço, Margarida Santos. "Quando houve a transição da direcção de serviço, encontrámos muitas consultas por marcar".

De acordo com a especialista, estes doentes já tinham sido vistos na pneumologia, na consulta de sono, e "foi dada a indicação para serem vistos na consulta de otorrino por Laudelina Pais Clemente".

O facto de serem directamente encaminhados para esta médica, fez com que fosse criado um regime de excepção. "Eram consultas atrasadas que não integravam as listagens de espera normais. Na altura, quem dirigia o serviço era Manuel Pais Clemente, que não foi reconduzido ao cargo em 2006 (ver caixa). O DN tentou falar com o especialista e médica durante o dia de ontem, mas tal não foi possível.

Margarida Santos sublinhou que, em 2006, tentou resolver-se o problema pela positiva. "Decidimos reavaliar todos estes casos, ver se ainda precisavam da consulta e pedimos prioridade no seu atendimento".

António Ferreira, o presidente do Conselho de Administração, confirmou ao DN a existência destas irregularidades. Nessa altura, "as listas de espera por uma consulta ascendiam a quatro anos e havia estes casos por resolver. Quando estes doentes foram reavaliados encontrámos casos que se complicaram, com patologias", avança.

Apesar destas irregularidades, o Hospital acabou por não apresentar qualquer queixa contra a antiga : "Já não tínhamos possibilidade de o fazer, porque a direcção do serviço já era outra e já tinha passado demasiado tempo", refere o administrador.

Neste momento, a IGAS está a passar o serviço a pente fino. "No âmbito do processo que foi movido contra o enfermeiro e devido às notícias que saíram, foi pedido à IGAS que avaliasse o serviço (ver caixa). Felizmente estão a ver todo o histórico da evolução do serviço. É uma oportunidade para mostrarmos o que é e o que era o serviço".

Margarida Santos refere que, em 2006, "os doentes chegavam a esperar quatro anos por uma primeira consulta e agora recuperámos para os seis meses", avança. O atraso nas consultas prejudicava a marcação das cirurgias, que agora são feitas num máximo de oito meses. Para resolver esta lista, o hospital solicitou o apoio dos clínicos, para que trabalhassem fora do seu horário. "Pagámo-lhes o preço das cirurgias e das consultas", conclui.

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