Desde 2010 que não havia tantas greves no setor privado
Os trabalhadores do setor privado fizeram 144 greves no ano passado, mais 36% do que em 2017, quando se registaram 106 paralisações. Desde 2010 que não se verificavam tantas paragens para reivindicações dos trabalhadores. Os dados disponibilizados pelo Gabinete de Estudos do Ministério do Trabalho (MTSSS) são comparáveis a oito anos, uma vez que, segundo as estatísticas disponíveis, há uma quebra de série em 2010 e inexistência de valores para 2008 e 2009.
Nos últimos oito anos, o período da troika foi também sinónimo de contestação. Em 2012 e 2013, os trabalhadores pararam 127 e 119 vezes, respetivamente. O ritmo abrandou nos três anos seguintes, entre 2014 e 2016, voltando a registar um aumento em 2017, que continuou em 2018, ano em que mais greves houve desde 2010.
Os dados do gabinete de estudos do MTSSS também permitem apurar o número de dias de trabalho perdidos. No ano passado, houve quase 51 mil dias perdidos, um crescimento de quase 22 mil dias face a 2017. É uma subida de 74%.
Contudo, o valor está longe dos 113 mil dias de 2012 ou dos 77 mil de 2013. Em média, no ano passado, perderam-se 354 dias de trabalho por greve.
Mais de metade das greves (59,7%) teve a duração de "um dia", valor que nas greves em várias empresas ascendeu a 67,3%. Já as greves com duração entre "dois a cinco dias" representaram 20,8% no total. Em 2018, houve ainda sete greves ao trabalho suplementar.
O número de empresas com trabalhadores em greve passou de 144 em 2017 para 312 em 2018, com a maior subida a registar-se nas companhias com menos de cem pessoas ao serviço. Saúde, transportes e armazenagem foram, em termos de dias perdidos, os setores mais afetados pelos protestos.
Os dados mostram ainda um aumento significativo do número de trabalhadores abrangidos pelas paralisações. Em 2018, cerca de 36 mil pessoas estiveram envolvidas nas greves decretadas pelos sindicatos, quase o dobro das 19 500 do ano anterior, representando um acréscimo de 84%.
Apesar desta subida, os números estão ainda longe das cifras de 2012, quando cerca de 92 mil trabalhadores protestaram ou reivindicaram medidas através do recurso à greve. Foi esse o ano da grande manifestação contra a redução da taxa social única (TSU), uma medida anunciada por Pedro Passos Coelho no início de setembro. Duas semanas depois, num sábado, dia 15, milhares saíram às ruas, estimando-se em cerca de um milhão de pessoas em mais de 30 cidades num protesto contra a presença da troika.
O número médio de trabalhadores por greve foi de 250, mais 66 do que em 2017.
Os patrões foram, no ano passado, um pouco mais "mãos largas" para com as reivindicações dos trabalhadores. Entre as que foram total ou parcialmente aceites, as empresas deram resposta positiva a 34,7% dos casos. Um valor substancialmente superior a 2017, quando o patronato apenas aceitou 11,6% das reivindicações.
Entre os motivos que estiveram na base das greves, os aumentos salariais representaram 28,7% do total, as ligadas ao processo de regulamentação coletiva, 22,6%, e melhores condições de trabalho foram a razão para 15,8% das paralisações, num ano em que cerca de dois terços das reivindicações foram recusadas.