Descompressão
A sondagem da Universidade Católica publicada hoje no DN revela-nos um país político bem diferente de há um ano - o último estudo do CESOP foi em dezembro de 2015, em plena crise pós-eleitoral.
Quando lhes foi pedido para avaliarem os políticos, os inquiridos foram bem mais generosos a dar notas positivas do que há um ano. O interessante é que, tirando Marcelo e Cristas, estamos a falar dos mesmos líderes, e não me parece que os portugueses estejam subitamente a ficar enamorados pelos políticos. Não, de todo. O que creio que estes resultados deixam transparecer é uma normalização da forma como é percecionada a solução de governo, um prémio generalizado pelo tom menos crispado no debate político - o azedume permanente não agrada a ninguém -, e, claro, algum reconhecimento pela recuperação de rendimentos.
Ora, esta mudança de registo, de tom no discurso, não só pela variação de nota, mas sobretudo pela introdução de um horizonte de esperança, é a marca de água do governo PS e do resto da esquerda que o apoia no Parlamento. Não estou a afirmar se essa esperança tem, ou não, adesão à realidade, mas apenas a registar uma mudança. No outro extremo da sondagem, nota-se que o desfasamento de PSD e CDS em relação a este "país novo" faz-se pagar. O centro-direita parece não ter feito uma transição suave entre os tempos do combate a uma solução de governo que considerava ilegítima, e este novembro ainda sem sombra de diabo.
Passos Coelho teve esta semana uma frase notável. Algo como "António Costa só está preocupado em dar boas notícias no curto prazo, e por isso não merece governar quatro anos". Aqui está um erro que o líder do PSD jamais reconhecerá. Passos nunca quis ceder ao que considera um ramo menor da política - a comunicação. Quando ainda estava no governo, no final da anterior legislatura e com a economia a crescer, esse foi um dos erros que lhe custou a reeleição. Agora, na oposição, pode ser fatal.
A direção do PSD tem de ler o tempo, e adaptar-se. Tem sobretudo de pensar o país e dizer ao que vem, para lá do "isto vai correr mal, é arriscado, nós devolveríamos o que cortámos de forma mais lenta e mais segura". Está visto que isso não chega. A sondagem da Católica vem solidificar uma tendência, e colocar o PSD em terrenos perigosos para qualquer liderança.