Desatam-se as Fúrias
Há cem anos, ao rebentar aI Guerra Mundial, ninguém fazia ideia de que este era o fim de uma era. Ninguém imaginava a carnificina que a luta nas trincheiras iria provocar a leste e a oeste, todos marcharam ao som de hinos patrióticos, convencidos de que a divindade estava do seu lado. O impasse nas frentes de luta, à medida que os meses iam passando, deu nova dimensão a uma aparente querela inicial entre primos coroados, apoiada por um sistema de acionamento automático de alianças militares, e gerou a maior crise social na Europa dos últimos quatrocentos anos. A campanha militar inconclusiva produziu a irrupção violenta da luta de classes, rebentaram insurreições operárias na Rússia, na Hungria e na Alemanha e o fim da contenda produziu dois efeitos espúrios de consequências ainda mais incalculáveis. A euforia do pós-guerra levou à especulação desenfreada em bolsa e ao crash de Wall Street, em outubro de 1929. Segue-se a Grande Depressão, que lançou um em cada quatro trabalhadores dos países desenvolvidos no desemprego.A esta razia social somou-se um Tratado de Versalhes, com insensatas reparações de guerra, que a Alemanha jamais estaria em condições de satisfazer. O aviso de Lord Keynes não foi ouvido. Previu que estas imposições produziriam inevitavelmente nova guerra. Hoje sabemos que tinha razão. Assim, o que começou há cem anos, foi, de facto, aII Guerra dos Trinta Anos (1914--1945), que arruinou a Europa. Até lá, ela dominava o mundo, com os seus impérios coloniais. Nesses 30 anos, os impérios começam a desmoronar, o capital acumulado no Velho Continente é destruído em mais de metade, emergem duas forças em luta pela hegemonia global: EUA e URSS. Há cem anos, desataram-se as Fúrias na Europa.