Derrotados pela força dos rublos
Desilusão e resignação eram os sentimentos que melhor caracterizavam a delegação ibérica após o anúncio da Rússia como país organizador do Mundial 2018. Os ponteiros do relógio batiam as 16.37 (menos uma hora em Lisboa) quando Sepp Blatter abriu o envelope e revelou o nome do vencedor. Na sala ecoaram os festejos russos que contrastavam com o silêncio da desilusão de portugueses e espanhóis, sentados ao lado de Roman Abramovich, magnata russo dono do Chelsea, e companhia.
Poucos minutos depois, o director-geral da candidatura, Miguel Ángel López, o primeiro a dar a cara na hora da derrota, expressou o seu desencanto. "O melhor teria sido definir logo à partida os critérios de atribuição da organização do Mundial. Pelos relatórios da FIFA, elaborados com base nas visitas dos técnicos, nós oferecíamos as melhores condições", atirou, colocando depois travão à tristeza: "A FIFA optou por abrir novos horizontes ao futebol."
O sentimento não assumido pela generalidade dos elementos do projecto ibérico é que o peso dos rublos [moeda russa] teve influência na decisão. Isso mesmo foi expresso pelo seleccionador espanhol. "Os russos têm o poder do dinheiro, mas não sei se tiveram o poder do mérito", atirou Vicente del Bosque, com um sorriso.
A ideia de que o dinheiro foi importante terá sido confirmada ainda mais com a vitória do Qatar para 2022. Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, preferiu dizer que se tratou de uma opção da FIFA em "abrir novos mercados", complementando com uma declaração esclarecedora: "O futebol é uma máquina e não é imune a essa influência." Muito abatido com a derrota estava Gilberto Madaíl, que começou por admitir que lhe assaltou a dúvida sobre a influência que a crise financeira de Portugal e Espanha teve na votação, mas disse acreditar que "em 2018 já terá passado", mas recusou a ideia do peso dos rublos. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol admitiu ainda que achou sempre o projecto russo "misterioso".
Olhando para o resultado da votação (ver quadros), constata-se que, afinal, Portugal manteve os sete votos que estariam garantidos: Argentina, Paraguai, Brasil, Espanha, Qatar, Costa do Marfim e Egipto. Só que a Inglaterra foi derrotada na primeira ronda, com dois votos, como castigo pelas polémicas lançadas pela imprensa britânica, nomeadamente a BBC, que segunda-feira emitiu uma reportagem sobre corrupção na FIFA. Os votos ingleses foram depois para a Rússia, aos quais se juntaram dois dos quatro votos que inicialmente foram para Holanda e Bélgica.
Não é por isso descabido dizer que Portugal e Espanha sofreram os efeito da derrota inglesa pois, à partida, todos estavam convencidos de que a candidatura belga e holandesa seria a primeira derrotada e que esses votos seriam canalizados para os ibéricos. Só que a convicção sempre foi que numa quarta ronda com os russos haveria poucas hipóteses de vencer.
[youtube:1FdvuZb1OtY]
[youtube:d-z2jtUS9-Y]