Depois da Revolução de Veludo, a evolução em passos de lã

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república checa

Amédio prazo, está será uma das regiões mais prósperas da UE, mas, de súbito, o objectivo parece mais difícil de alcançar. A República Checa goza da proximidade em relação aos mercados ricos, tem unidade étnica e procedeu de forma pacífica à transição para a democracia. Como explicar as nuvens negras que as pessoas vêem no horizonte?

A antiga Boémia era, na passagem do século XIX, uma das regiões mais industrializadas da Europa. A insustentável leveza desse passado regressa agora, embora mais devagar do que se esperava. A República Checa resulta de um divórcio de veludo (o fim da Checoslováquia) e sobressai no alargamento, com o seu crescimento rápido, inflação baixa, desemprego gerível e ausência de regiões muito pobres. O país transformou-se num dos maiores núcleos de indústria automóvel na Europa.

Apesar disso, a situação política piorou. No ano passado, houve um empate entre esquerda e direita, criando uma situação que Franz Kafka teria compreendido. As negociações para formar o novo Governo de centro-direita levaram meses. O resultado foi mais um Executivo frágil e dividido.

A situação checa é menos instável do que a húngara ou a polaca, mas este país já atingiu um rendimento per capita médio superior ao português, o que torna menos compreensível o pessimismo da população. Com uma sociedade igualitária, sem luta de classes, talvez a explicação esteja nas expectativas que havia. E, se recuarmos a 1968, a outra Primavera amarga, o que estava em causa também era uma questão de expectativas atraiçoadas, de um mundo melhor que, afinal, nunca se concretizou. Estas sombras não parecem ficar bem na solar Praga, sem dúvida uma das mais belas cidades do mundo, um local que suscita todos os optimismos.

Mas, por outro lado, é nos ambientes amargos e angustiados que florescem muitas vezes as artes. Praga recuperou a sua condição de capital artística europeia. Há uma onda de criatividade no ar, sobretudo no teatro e nas artes plásticas. Enfim, a tradição obriga a que tudo volte à tendência, como num imenso, eterno retorno. | - L.N.

Franz Kafka nasceu em Praga, em 1883, e morreu em Viena de Áustria, 40 anos depois. Filho de um comerciante judeu, a sua educação foi marcada por três culturas: checa , judaica e alemã. O alemão era a sua primeira língua. A Metamorfose (1915) e O Processo, já publicado após a sua morte (1925), foram os livros de maior sucesso. Era advogado.

HERÓI NACIONAL

Milan Kundera é um dos poucos escritores checos que alcançou fama internacional. Espelho de uma vontade de libertação de ideias marxistas na Europa Central de meados do século XX, tem, entre as suas obras mais reconhecidas, O Livro do Riso e do Esquecimento (1978) e A Insustentável Leveza do Ser (1984).

FIGURA NACIONAL

5 perguntas a...

Ladislav Škerík

EMBAIXADOR

Como se diz bom dia em checo?

Dobry den.

O que se come ao pequeno- -almoço?

Pão com queijo e manteiga ou queijo em fatias ou trança doce com amêndoas e passas e um copo de leite ou cacau. Bolos com requeijão ou grãos de papoila.

Que figura simboliza melhor a ideia de Europa?

No nosso país há uma figura muito importante: Pavel Telicka, que foi quem negociou a nossa entrada na UE, depois foi embaixador junto da UE e comissário europeu.

De que é que tem mais saudades quando está no estrangeiro?

Pão e salame, rios, lindas florestas densas, frescas com árvores resinosas e musgo.

Qual a principal expectativa do seu país para a presidência portuguesa?

Queremos que a presidência portuguesa encontre a saída tão esperada da crise institucional. Pode também tornar mais forte o papel dos países pequenos. Como Portugal, a República Checa também sabe que o futuro dos países pequenos sem grandes reservas das matérias-primas está na educação, no progresso tecnológico e na economia do conhecimento. |´

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