Insiste muito na importância do trabalho de equipa e lá para o final da conversa explicará que essa foi uma das lições que trouxe do mundo do desporto, já que foi jogador profissional de hóquei no gelo. Ville Skinnari, ministro para o Desenvolvimento da Cooperação e Comércio Externo da Finlândia, veio esta semana a Portugal para um conjunto de encontros governamentais, mas sobretudo para formalizar a cooperação educativa entre os dois países, nomeadamente ao nível do Ensino Politécnico, através do programa finlandês Demola Global, que chega agora ao nosso país..Uma cooperação inesperada, atendendo a que falamos de países com geografias e sociedades tão diferentes? Ao DN, Ville Skinnari diz que não e foca-se nos pontos em comum: "Portugal e Finlândia são aproximadamente do mesmo tamanho, ambos com vizinhos grandes e mais poderosos. Penso que este momento, em que recomeça a vida após o desastre da pandemia, é o ideal para aprofundarmos a cooperação mútua." Na "bagagem" traz a Demola Global, plataforma educativa para o Ensino Superior que já opera em 18 países e congrega, neste momento, 50 estabelecimentos de ensino e cerca de 750 mil estudantes..Em Portugal, depois da assinatura de um memorando de entendimento em 2018, o Demola arranca agora em 14 politécnicos, o que, na prática, significa aproximadamente 900 professores e 5000 estudantes. "A Demola Global é um veículo de futuro - diz Skinnari - em que se procura construir pontes entre o ensino e as empresas do setor privado, nomeadamente nos âmbitos da inovação tecnológica e da digitalização. É por isso que damos prioridade aos institutos politécnicos, porque, sem desprimor para o Ensino Superior mais formal, são eles que têm as soluções mais práticas e eficazes para este tipo de questões." A resposta das empresas, afiança, não poderia ser melhor: "É assim que, na Finlândia, vemos a cooperação entre o público e o privado. Já temos 600 empresas envolvidas, mas precisamos de mais, naturalmente. As startups, por exemplo, mostram-se muito receptivas porque percebem que só a aposta na inovação as ajudará, de facto, a crescer.".Skinnari vem de um país onde os indicadores relacionados com a Educação têm uma tradição de excelência. A cada três anos, as avaliações feitas pela OCDE revelam, por exemplo, um elevado nível em aspectos como as necessidades educativas especiais, a valorização social e profissional do pessoal docente ou a igualdade de oportunidades. Embora não se proponha, como diz, a dar lições ao mundo, o ministro sabe a diferença que estas boas práticas fizeram para o seu país: "Toda a gente fala do modelo finlandês de educação e do seu sucesso mas não podemos descansar à sombra disso. A Finlândia era um país pobre, com uma história desafiante, rodeada por grandes potências. Nos anos de 1960 ainda recebíamos fundos destinados a países em vias de desenvolvimento. Mas creio que tivemos a sorte de, nesse momento, termos tido governantes que perceberam que a mudança aconteceria através da educação. O nosso modelo educativo tornou-se muito inclusivo, proporcionando, de facto, igualdade de oportunidades a toda a gente." Isso não obsta, porém, que a Finlândia não tenha muito a aprender com Portugal. "O vosso país tem competências únicas. Juntos, creio que podemos ser um modelo de cooperação para o mundo", salienta..O momento da apresentação não poderia ser mais oportuno, considera. Não só porque a economia tenta iniciar a retoma mas porque o impacto psicológico da pandemia na juventude foi tremendo: "Para os jovens, a pandemia foi um desastre. Viram-se numa situação em que não encontravam um emprego ou sequer um lugar para estagiar. Estavam a perder a esperança. Creio que fizemos o que podemos, enquanto Governo, para minorizar estes efeitos mas não podemos ignorar que a situação é grave e deixou marcas. Toda a gente teve problemas despoletados pela solidão e pelo isolamento mas, para quem está a começar a vida, um ano é um hiato demasiado longo." O reforço do investimento na educação é, pois, a resposta, não apenas às consequências da pandemia, mas também a outros problemas que não são conjunturais, como a crise climática ou os dramas humanitários em países como o Afeganistão..Por outro lado, quando fala em reforço de investimento, Ville Skinnari não se refere apenas a uma questão de disponibilidade orçamental, mas sobretudo a uma mudança de mentalidade ou, se quisermos, de perspetiva: "As pessoas são a única chave para a mudança, não as estruturas governamentais ou outras. Os cidadãos têm que ser chamados a pensar o que querem que mude no mundo, quais são os problemas que querem ver resolvidos e identificar o modo como querem contribuir para essa transformação. O nosso papel enquanto Estados é fornecer as ferramentas para essa auto-responsabilização e despertar os indivíduos para a importância do trabalho de equipa. As pessoas gostam de futebol? Pois bem, para os grandes objetivos da sociedade têm que se comportar como uma equipa vencedora. ".E em Portugal como se vê esta cooperação? Na apresentação do programa Demola Global, Manuel Heitor, ministro para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, considerou esta cooperação com a Finlândia "um contributo muito relevante para a promoção de ambientes educativos mais inclusivos, capazes de abranger estudantes que tradicionalmente têm menos acesso ao Ensino Superior." O ministro português sublinhou ainda que "a cooperação luso-finlandesa é da maior importância para a preservação da diversidade do Ensino Superior no espaço europeu, ao mesmo tempo que promove a identidade comunitária entre os mais jovens. Isto passará pela combinação do regional e do global, com o objetivo de garantir competências e igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos da União Europeia, independentemente da sua nacionalidade, cultura ou língua de origem.".Iniciado este périplo em Portugal, Ville Skinnari admite que os dois países ibéricos têm um conhecimento, único em toda a Europa, do que se passa noutros continentes, como África ou a América Latina. O que lhe será da maior utilidade quando, em novembro próximo, se deslocar ao Brasil..dnot@dn.pt