Costa promete "diálogo". Catarina recusa "cheques em branco"
Quem é o campeão das contas certas? António Costa acha que é ele; e Catarina Martins acha que é ela. As contas certas foram esta noite o principal tema no frente-a-frente que os líderes do PS e do BE mantiveram na RTP.
Foi Catarina Martins quem lançou a primeira farpa, dizendo que o último Programa de Estabilidade (PE) apresentado pelo Governo de António Costa não bate certo com o que os socialistas prometem no seu programa eleitoral.
E não bate certo numa questão sensível, a dos aumentos salariais dos funcionários públicos. Segundo disse, o PE não permite atualizações salariais ao nível da inflação - mas essas atualizações são prometidas no programa eleitoral do PS.
A crítica encostou Costa às cordas, tanto que mais tarde foi obrigado a dizer que o PE foi feito em abril, tendo de "obviamente" ser "atualizado" para se adequar às promessas eleitorais do PS.
Mais tarde, a líder do BE ainda dispararia outra farpa em direção ao líder do PS, argumentando com os acórdãos do Tribunal Constitucional que têm dito que as contas partidárias do BE não têm problemas, ao contrário do que acontece com as do PS: "O Tribunal Constitucional diz que o BE é de contas certas. E o PS não. E nestas coisas começa-se em casa."
Catarina Martins tinha estas cartas na manga mas o líder do PS também tinhas as suas - e ficou claro que ambos leram com atenção os programas eleitorais do outro.
O líder socialista argumentou, por exemplo, que é "irrealizável" um programa como o do BE que prevê um aumento da despesa pública na ordem dos 30 mil milhões de euros e as nacionalizações da Galp, EDP, REN e CTT. "Um programa de Governo não é uma lista de compras de Natal", acusou. E - exemplificou - só nacionalizar a Galp, como o BE exige, custaria o mesmo que todo o SNS num só ano, dez mil milhões de euros. "Qual é o sentido desta despesa?"
Aqui seria Catarina Martins a recuar, dizendo que o programa de nacionalizações do BE estava a ser alvo de uma "caricatura". O Bloco - disse - propõe algo "bastante razoável" e, nas nacionalizações "a prioridade é a dos CTT".
Costa argumentaria também com o programa que o BE propõe para a construção de cem mil casas para colocar no mercado a preços acessíveis. "Vocês [Bloco de Esquerda] apresentam um programa de construção de cem mil casas e avaliam cada uma a 60 mil euros. Isso é absolutamente desconforme a realidade."
Segundo disse, uma experiência que está a ser levado a cabo em Almada aponta para valores mínimos de construção na ordem dos 114 mil euros - ou seja, quase o dobro do valor de referência referido pelo BE.
Neste aspeto, Catarina Martins argumentaria que o programa do BE não é para construção mas sim para reabilitação aproveitando, por exemplo, o edificado do Estado.
Do frente-a-frente ficou a ideia que, quanto a acordos futuros, nem um nem outro fecham a porta - mas tudo dependerá da relação de forças entre ambos. "A porta de diálogo que abri há quatro anos não será fechada. Esse muro foi derrubado, não será reconstruído", assegurou António Costa.
Neste aspeto, Catarina Martins insistiu na ideia de que uma maioria absoluta do PS é "perigosa" e, sem referir matérias em concreto que desejará negociar com os socialistas, falou do "enorme problema" que é a nova legislação laboral.
Da líder bloquista ficaram ainda duas garantias: "a direita nunca contará com o BE" para formar governo; e, quanto ao PS, "o Bloco não passa cheques em branco".
Catarina Martins:
"Trabalhamos bem com o PCP e o BE"
"Mas seguramente tivemos fracassos, como os professores e os precários. E erros, como no Novo Banco."
"O Bloco nunca faltou à estabilidade."
"Se PS tivesse tido maioria absoluta tinha congelado pensões."
António Costa:
"Os eleitores dirão o que acontecerá a seguir às eleições."
"É necessário o PS ter força porque o PS é o equilíbrio desta solução."
"Nada voltará a ser como dantes."
Catarina Martins
"Quem constrói os resultados é quem vota."
"Este programa do PS é pouco concreto e não tem contas."
"O que está no Programa de Estabilidade não permite aumentar os funcionários públicos [ao nível da inflação]."
"Uma maioria absoluta [do PS] é perigosa."
"Todos os partidos vão a eleições para fazer governo."
"Temos de fazer balanços mas para olhar para a frente."
António Costa
"Temos de evitar que esta solução à portuguesa, que é estável, não se converta numa instabilidade à espanhola."
"O nosso programa é realista, não como o do BE que propõe um aumento de despesa de 30 mil milhões de euros. Isso é irrealizável."
"Um programa de Governo não é uma lista de compras de Natal."
"Nacionalizar a Galp, como o BE propõe, custa dez mil milhões de euros, o mesmo que o SNS. Qual é o sentido desta despesa?"
Catarina Martins
"Se houvesse maioria absoluta aí sim haveria instabilidade, para as pessoas."
"O Tribunal Constitucional diz que o BE é de contas certas. E o PS não. E nestas coisas começa-se em casa."
"Foram 25 mil milhões para a banca. Isto sim, é um escândalo."
Nacionalizações: "O que o BE é bastante razoável. O que propõe é uma prioridade à renacionalização dos CTT."
António Costa
"A negociação de salários [na Função Pública] não é feita entre partidos."
"Temos de fazer uma revalorização das carreiras dos técnicos superiores."
Catarina Martins
"Números do Programa de Estabilidade não chegam para aumentos ao nível da inflação."
António Costa
"O Programa de Estabilidade obviamente terá de ser atualizado."
"Vocês [Bloco de Esquerda] apresentam um programa de construção de cem mil casas e avaliam cada uma a 60 mil euros. Isso é absolutamente desconforme a realidade. O valor de referência é 114 mil euros, como se tem visto em Almada.
Catarina Martins
"Não estamos a falar de construção, estamos a falar de reabilitação."
"Temos um enorme problema com a legislação laboral [...] E o PS parece acreditar que está tudo bem."
António Costa
"A chave do sucesso desta legislatura foi o aumento de rendimentos."
Catarina Martins
"Os patrões gostaram [do novo Código do Trabalho], claro que gostaram."
O BE estará sempre disponível para soluções que permitam estabilidade do salário. O país sabe que a direita não contará nunca com o BE. Mas também sabe que o BE não passa cheques em brancos."
António Costa
"A porta de diálogo que abri há quatro anos não será fechada. Esse muro foi derrubado, não será reconstruído."