Conheceram-se por acaso, em 2001, durante um concerto do músico americano Howe Gelb, ali para os lados do Jardim do Tabaco, em Lisboa. No final do mesmo, Tó Trips pediu boleia a Pedro Gonçalves, que conhecia vagamente dos tempos do liceu D. Pedro V, mas este também não tinha carro, pelo que caminharam juntos até ao Bairro Alto. Palavra puxa palavra e, sem se darem por isso, tinham acabado de criar os Dead Combo. .O projeto inicial passava por gravar um disco de tributo a Carlos Paredes, que nunca se viria a concretizar, muito embora se tenham dado a conhecer na coletânea Movimentos Perpétuos, de tributo ao mestre da guitarra portuguesa, editada em 2003. O disco de estreia, Vol.1, surgiria um ano depois, seguindo-se Vol. 2 - Quando a Alma não É Pequena (2006), Lusitânia Playboys (2008), Lisboa Mulata (2011) e A Bunch of Meninos (2014), com os quais, quase sem se dar por isso, foram construindo uma das mais sólidas e originais carreiras da música portuguesa feita neste século.."Na altura, andava cansado de estar em bandas. Adoro rock, mas já estava farto da dinâmica e o Pedro também estava saturado da cena do jazz. Não estávamos à espera de conseguir nada com isto, além de nos divertirmos um pouco e de tocar uma ou duas vezes na ZDB. Não tínhamos canções, não passávamos na rádio. Éramos apenas dois tipos vindos das franjas mais marginais da música, eu do punk-rock e o Pedro do jazz, a fazer temas instrumentais. Nunca nos passou pela cabeça que um dia iríamos tocar no Coliseu", afirma Tó Trips ao DN, em vésperas de, uma vez mais, subirem ao palco da mítica sala lisboeta..Mas conseguiram-no, com uma sonoridade muito única, "com um pé no passado, mas ao mesmo tempo atual", que agrada a um público dos 8 aos 80 anos, como o Tintin. "A minha mãe nunca gostou da música que fazia nos Lulu Blind, mas adora os Dead Combo", revela Tó, reconhecendo que "também houve uma evolução do público, muito mais aberto para ouvir coisas diferentes. Se os Dead Combo aparecessem nos anos 90, de certeza que não se iam safar". Ao olhar para trás, no entanto, o guitarrista não está com falsas modéstias: "Para termos chegado até aqui, de certeza que fizemos um bom trabalho." Disso não há dúvidas, pois, à exceção dos Buraka Som Sistema, poucas bandas terão captado tão bem a alma desta Lisboa do século XXI pelo modo como fundiram os ritmos mais tradicionais da lusofonia, como o fado, a morna ou o choro, com estilos globais como o rock e o jazz, alargando sempre, a cada disco, o seu próprio universo e imaginário musical..Como novamente aconteceu no ano passado, com o aclamado disco Odeon Hotel, no qual, pela primeira vez, contaram com uma banda a acompanhar todo o processo de gravação. "Gravámos quase tudo ao vivo e, de facto, a música ganhou outra força. Chegámos logo à conclusão de que tínhamos de ter uma banda connosco em palco. Uma das características que salta à vista é o recurso à bateria como instrumento principal, que faz de Odeon Hotel "um álbum muito mais rock", com o caracteriza Tó Trips..A ideia foi do produtor americano Alain Johannes, habitual colaborador de nomes como Queen of Stone Age ou PJ Harvey - até então, todos os trabalhos dos Dead Combo tinham sido produzidos pelos próprios. "Foi uma maneira de nos desafiarmos, porque o facto de sermos uma banda de apenas dois elementos acaba por tornar tudo mais limitado", reconhece. E também contribuiu para "fortalecer a relação" entre os dois, admite Tó Trips, confessando que a mesma já "deu para o torto" algumas vezes, mas "com alguma terapia de casal à mistura", todas estas crises foram ultrapassadas.."Todas as bandas passam por isto, e é saudável, especialmente em projetos com uma identidade muito vincada, como o nosso, vir alguém de fora para alargar horizontes. Essa identidade é importante, mas, com o tempo, pode tornar-se um muro que não nos deixa ir mais além", defende..Alain Johannes é um dos convidados que vai juntar-se à banda no palco do Coliseu, no qual também estará presente Mark Lanegan. O cantor americano, que interpretou no álbum a faixa I Know, I Alone, feito a partir de um poema, com o mesmo nome, da autoria de Fernando Pessoa, já tinha estado presente no concerto da banda, em Paredes de Coura, onde interpretou esse tema e outros dois da sua autoria, com arranjos dos Dead Combo. "Apesar de ainda termos alguns concertos marcados, este vai funcionar como uma espécie de final da digressão. Vamos ter algumas novidades em termos de cenário e uma ou outra surpresa que não vou revelar", promete Tó Trips, dos Dead Combo, a tal banda sem êxitos radiofónicos, mas que toda a gente reconhece à primeira..Dead Combo.Coliseu dos Recreios, Lisboa. 28 de fevereiro, quinta-feira, 21.30. Bilhetes de 20 a 30 euros
Conheceram-se por acaso, em 2001, durante um concerto do músico americano Howe Gelb, ali para os lados do Jardim do Tabaco, em Lisboa. No final do mesmo, Tó Trips pediu boleia a Pedro Gonçalves, que conhecia vagamente dos tempos do liceu D. Pedro V, mas este também não tinha carro, pelo que caminharam juntos até ao Bairro Alto. Palavra puxa palavra e, sem se darem por isso, tinham acabado de criar os Dead Combo. .O projeto inicial passava por gravar um disco de tributo a Carlos Paredes, que nunca se viria a concretizar, muito embora se tenham dado a conhecer na coletânea Movimentos Perpétuos, de tributo ao mestre da guitarra portuguesa, editada em 2003. O disco de estreia, Vol.1, surgiria um ano depois, seguindo-se Vol. 2 - Quando a Alma não É Pequena (2006), Lusitânia Playboys (2008), Lisboa Mulata (2011) e A Bunch of Meninos (2014), com os quais, quase sem se dar por isso, foram construindo uma das mais sólidas e originais carreiras da música portuguesa feita neste século.."Na altura, andava cansado de estar em bandas. Adoro rock, mas já estava farto da dinâmica e o Pedro também estava saturado da cena do jazz. Não estávamos à espera de conseguir nada com isto, além de nos divertirmos um pouco e de tocar uma ou duas vezes na ZDB. Não tínhamos canções, não passávamos na rádio. Éramos apenas dois tipos vindos das franjas mais marginais da música, eu do punk-rock e o Pedro do jazz, a fazer temas instrumentais. Nunca nos passou pela cabeça que um dia iríamos tocar no Coliseu", afirma Tó Trips ao DN, em vésperas de, uma vez mais, subirem ao palco da mítica sala lisboeta..Mas conseguiram-no, com uma sonoridade muito única, "com um pé no passado, mas ao mesmo tempo atual", que agrada a um público dos 8 aos 80 anos, como o Tintin. "A minha mãe nunca gostou da música que fazia nos Lulu Blind, mas adora os Dead Combo", revela Tó, reconhecendo que "também houve uma evolução do público, muito mais aberto para ouvir coisas diferentes. Se os Dead Combo aparecessem nos anos 90, de certeza que não se iam safar". Ao olhar para trás, no entanto, o guitarrista não está com falsas modéstias: "Para termos chegado até aqui, de certeza que fizemos um bom trabalho." Disso não há dúvidas, pois, à exceção dos Buraka Som Sistema, poucas bandas terão captado tão bem a alma desta Lisboa do século XXI pelo modo como fundiram os ritmos mais tradicionais da lusofonia, como o fado, a morna ou o choro, com estilos globais como o rock e o jazz, alargando sempre, a cada disco, o seu próprio universo e imaginário musical..Como novamente aconteceu no ano passado, com o aclamado disco Odeon Hotel, no qual, pela primeira vez, contaram com uma banda a acompanhar todo o processo de gravação. "Gravámos quase tudo ao vivo e, de facto, a música ganhou outra força. Chegámos logo à conclusão de que tínhamos de ter uma banda connosco em palco. Uma das características que salta à vista é o recurso à bateria como instrumento principal, que faz de Odeon Hotel "um álbum muito mais rock", com o caracteriza Tó Trips..A ideia foi do produtor americano Alain Johannes, habitual colaborador de nomes como Queen of Stone Age ou PJ Harvey - até então, todos os trabalhos dos Dead Combo tinham sido produzidos pelos próprios. "Foi uma maneira de nos desafiarmos, porque o facto de sermos uma banda de apenas dois elementos acaba por tornar tudo mais limitado", reconhece. E também contribuiu para "fortalecer a relação" entre os dois, admite Tó Trips, confessando que a mesma já "deu para o torto" algumas vezes, mas "com alguma terapia de casal à mistura", todas estas crises foram ultrapassadas.."Todas as bandas passam por isto, e é saudável, especialmente em projetos com uma identidade muito vincada, como o nosso, vir alguém de fora para alargar horizontes. Essa identidade é importante, mas, com o tempo, pode tornar-se um muro que não nos deixa ir mais além", defende..Alain Johannes é um dos convidados que vai juntar-se à banda no palco do Coliseu, no qual também estará presente Mark Lanegan. O cantor americano, que interpretou no álbum a faixa I Know, I Alone, feito a partir de um poema, com o mesmo nome, da autoria de Fernando Pessoa, já tinha estado presente no concerto da banda, em Paredes de Coura, onde interpretou esse tema e outros dois da sua autoria, com arranjos dos Dead Combo. "Apesar de ainda termos alguns concertos marcados, este vai funcionar como uma espécie de final da digressão. Vamos ter algumas novidades em termos de cenário e uma ou outra surpresa que não vou revelar", promete Tó Trips, dos Dead Combo, a tal banda sem êxitos radiofónicos, mas que toda a gente reconhece à primeira..Dead Combo.Coliseu dos Recreios, Lisboa. 28 de fevereiro, quinta-feira, 21.30. Bilhetes de 20 a 30 euros