De Tancos à Ota. As vozes que pedem aeroporto a norte do Tejo
A presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB) apontou esta segunda-feira Tancos, Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém, como uma das soluções para resolver o problema da nova estrutura aeroportuária de Portugal, tornando-se na mais recente personalidade a apontar como solução um aeroporto a norte do Tejo.
"Se olharmos em redor, encontramos duas soluções para este problema: uma pronta em Beja, com um aeroporto internacional construído e operacional; a outra em Tancos, a um passo de estar pronta", afirmou, por escrito à agência Lusa, Ana Palmeira de Oliveira.
A presidente da AEBB, com sede em Castelo Branco, sublinhou que a discussão da nova localização do aeroporto que também possa servir Lisboa "é antiga" e parece "ser difícil encontrar um consenso".
"Com posicionamentos bastante estratégicos e capazes de dar resposta a um desenvolvimento mais coeso, estas soluções [Tancos e Beja] não substituem um aeroporto à medida do que Lisboa precisa e merece, mas reforçam a resposta urgente e tão necessária", sustentou.
Ana Palmeira de Oliveira salientou que as duas soluções apontadas "são de continuidade e não meras estratégias corretivas e temporárias".
"Não devemos ignorar que a solução da resposta aeroportuária a pouco mais de uma hora da capital já está implementada em outros países europeus. É Lisboa assim tão diferente?", questionou.
A presidente da AEBB questionou ainda "se não merece também o resto do país uma oportunidade de ser parte da solução" e, no âmbito desse contributo estratégico, "beneficiar ainda do consequente desenvolvimento territorial, no plano empresarial, turístico e social".
"Não podemos ignorar que não somos um país rico e que os recursos que temos têm de estar em pleno ao serviço das pessoas e dos territórios", concluiu.
Outra entidade que apontou uma solução a norte do Tejo foi a Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Leiria, com o seu presidente, Gonçalo Lopes, a pedir ao Governo para equacionar as localizações da Ota e Alverca para a nova infraestrutura aeroportuária do país.
"É o momento de conseguir tomar as decisões corretas e implementá-las de maneira rápida. E, por isso, a nossa posição (...) é que o Governo deverá, uma vez que deu abertura a um debate profundo sobre esta matéria nos próximos tempos, incluir novamente na análise a solução a norte do Tejo", neste caso Alverca e Ota, afirmou à agência Lusa o também presidente da Câmara de Leiria.
Para o autarca, a solução é aquela que, do ponto de vista económico e ambiental, "foi, durante muito tempo, nomeadamente a Ota, classificada como uma das melhores propostas".
"Se queremos ser práticos, rápidos e, sobretudo, a pensar na sustentabilidade económica da infraestrutura, uma vez que grande parte dos utilizadores do Aeroporto Internacional de Lisboa são da margem norte do Tejo e não seria necessário construir uma ponte, nem uma linha de TGV [comboio de alta velocidade] com tanta urgência ou por esse motivo, faz todo o sentido - tendo em conta a crise que estamos a viver, mas, por outro lado, a importância que o turismo tem para a nossa economia - que se equacione a solução de Alverca e da Ota", declarou.
Já o presidente da Associação Empresarial da Região de Leiria (Nerlei), António Poças, defendeu na quarta-feira que a "localização óbvia" para a nova infraestrutura aeroportuária do país é a norte do rio Tejo.
"Não havendo condicionalismos que o impeçam, a Nerlei considera que a localização óbvia do novo aeroporto seria a norte do rio Tejo, pois é aí que está a maioria da população e da atividade económica que mais utiliza, e utilizará, esta infraestrutura", afirmou à agência Lusa António Poças.
Numa resposta escrita, o presidente da Nerlei salientou que, com esta localização, "evitava-se a construção de novas infraestruturas de acesso, que exigem investimentos avultadíssimos, como seja uma nova ponte de travessia do Tejo".
António Poças considerou, por outro lado, que o país está "já a perder" e vai "perder ainda mais, por esta decisão não ter sido já tomada há vários anos".
"Ouça-se quem se deve ouvir, procurem-se os consensos possíveis, mas tome-se uma decisão", defendeu o responsável da Nerlei, salientando que "não há razão para adiar mais esta decisão, que é estratégica para o desenvolvimento do país e que deve ser feita com base em critérios de eficiência económica, ambiental e financeira, e pensada a longo prazo".
Há poucos dias, o ex-ministro do Equipamento e o mentor da alta velocidade em Portugal na década de 1990, João Cravinho, tinha defendido em declarações ao Público que "o Tejo é uma das barreiras geográficas mais importantes que existe na Europa em termos de mobilidade" e que 88% do trânsito do aeroporto de Lisboa tem origem a norte do seu estuário, pelo que considerou "um erro abissal" o novo aeroporto de Lisboa na margem sul.
Também o presidente do Conselho Económico e Social, Francisco Assis, acredita numa solução a norte de Lisboa. "O mais adequado é o aeroporto a norte de Lisboa", afirmou na quinta-feira em entrevista à RTP 3.
Recentemente, o primeiro-ministro, António Costa, determinou a revogação do despacho que apontava os concelhos do Montijo e Alcochete como localizações para a nova solução aeroportuária da região de Lisboa, desautorizando o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que apresentou esta proposta.
A solução apontada passava por avançar com o projeto de um novo aeroporto no Montijo complementar ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para estar operacional no final de 2026, sendo os dois para encerrar quando o aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete estivesse concluído, previsivelmente em 2035.
António Costa defendeu que na nova solução aeroportuária para a região de Lisboa se tem de "trabalhar para uma solução técnica, política, ambiental e economicamente sustentável - uma solução que seja objeto de um consenso nacional, designadamente com o maior partido da oposição".