De Marcelo a Camané. As reações à morte de Carlos do Carmo

Presidente da República, primeiro-ministro e figuras da cultura reagem à morte do fadista
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Sucedem-se as figuras públicas que têm prestado homenagem ao fadista Carlos do Carmo, que morreu esta sexta-feira de manhã aos 81 anos no hospital de Santa Maria, em Lisboa.

O Presidente da República reagiu esta sexta-feira com um sentimento "de perda" à notícia da morte do fadista Carlos do Carmo, que recordou como "uma grande figura da cultura" e também como "um grande homem".

Em declarações à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter recebido esta notícia com uma reação idêntica "à de todos os portugueses", "uma reação de perda".

"Perda por aquilo que Carlos do Carmo fez pela consagração do fado como património imaterial da Humanidade, mas também pelo que deu como voz de Portugal cá dentro e lá fora junto das comunidades portuguesas, prestigiando não apenas o fado, mas a nossa cultura", destacou.

O chefe de Estado realçou ainda que Carlos do Carmo foi "uma voz" na luta pela liberdade nos tempos da ditadura e na transição para a democracia.

"Por detrás de uma grande figura da cultura estava um grande homem, com uma grande riqueza pessoal, uma sensibilidade e uma intuição e identificação com o povo português que o povo português não esquece", acrescentou.

O Presidente da República considerou que a morte de Carlos do Carmo, no primeiro dia de 2021, "um dia que devia ser de esperança", não pode ser encarada "com desesperança", mas como uma homenagem a alguém que "nunca perdia a esperança".

À Rádio Observador, Marcelo Rebelo de Sousa salientou uma vez mais a importância do cantor para a elevação do fado a Património Imaterial da Humanidade. "Aí assumiu um papel nacional, foi um rosto que projetou Portugal no mundo através de uma das suas expressões musicais", salientou. "Isso aproximou-o do público, passando a ser íntimo de muitos portugueses", acrescentou.

Sobre futuras homenagens, o Presidente da República realçou a ligação que Carlos do Carmo tinha a Lisboa, passando a bola ao edil Fernando Medina.

O autarca lisboeta, por sua vez, garante que a cidade não esquecerá o artista. "2021 amanhece triste com a partida de Carlos do Carmo. Fez de Lisboa menina e moça para o mundo inteiro ouvir. Foi a voz da cidade e esta não o esquecerá. Desaparece o homem, mas a voz e as canções dele ficam porque Carlos do Carmo e Lisboa são indissociáveis. Carlos do Carmo permanecerá em todos nós sempre que alguém entoar as "Canoas do Tejo" ou em qualquer rua ou viela de Alfama alguém assobiar "Os Putos". Sim, Carlos do Carmo será sempre "O Homem (da) na Cidade", escreveu no Instagram.

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O primeiro-ministro, António Costa, evocou com saudade Carlos do Carmo, recordando-o como "notável fadista" e "um grande amigo".

"Fazendo eco das palavras que cantou no 'Fado da Saudade': 'Mas com um nó de saudade, na garganta/ Escuto um fado que se entoa, à despedida' de um grande amigo", escreveu o primeiro-ministro, numa publicação na rede social Twitter.

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António Costa sublinhou que Carlos do Carmo "não era só um notável fadista, que o público, a crítica e um Grammy consagraram".

"Um dos seus maiores contributos para a cultura portuguesa foi a forma como militantemente renovou o fado e o preparou para o futuro", evocou.

Com um percurso político ao PCP, Carlos do Carmo foi mandatário de António Costa na campanha de 2009 para a Câmara Municipal de Lisboa e participou igualmente num almoço de campanha do PS nas legislativas de 2015, em que recusou definir-se como simpatizante socialista, dizendo antes ser um apoiante de Costa.

Já o líder do PSD, Rui Rio, recordou hoje Carlos do Carmo como "um grande vulto da música portuguesa", e considerou que "a sua obra não morreu, nem nunca morrerá".

"A minha justa homenagem a Carlos do Carmo, um grande vulto da música portuguesa. A sua obra não morreu, nem nunca morrerá", escreveu Rui Rio, numa publicação na rede social Twitter.

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O PCP, através de uma nota de pesar, lembrou o "cidadão com um percurso cívico e democrático, com uma carreira artística de mais de 50 anos reconhecida no País e no mundo, intérprete de autores como Ary dos
Santos, participante entre muitos outros na afirmação da dimensão cultural da Festa do «Avante!», cantor associado à sua cidade, deu uma contribuição particular à afirmação do fado como canção universal".

Em declarações à RTP, o músico Camané falou do amigo que perdeu. "Foi um choque muito grande. Conheço o Carlos do Carmo desde sempre, somos muito amigos. É difícil de lidar, é uma grande referência do fado e continua a ser. Vai ser sempre uma das pessoas mais importantes do fado. Foi uma pessoa que acreditou em mim", afirmou, com a voz embargada, tendo revelado que o fadista estava bem lúcido e que inclusivamente a 20 de dezembro lhe deu os parabéns por mais um aniversário.

Por seu lado, o maestro e compositor António Victorino d'Almeida, que conhecia Carlos do Carmo há mais de 50 anos, diz que ele "foi a segunda grande revolução que houve no fado. Primeiro foi a Amália [Rodrigues]. (...) Seguindo uma linha um pouco diferente, e ainda bem. E assim tivemos dois verdadeiros 'monstros' do fado em Portugal, que transformaram o fado numa coisa que hoje em dia se conhece no mundo", disse.

António Victorino d'Almeida trabalhou em algumas ocasiões com Carlos do Carmo, com orquestrações para fados, embora o pianista diga que ambos eram "grandes defensores do fado puro, com guitarra e viola".

Já Herman José utilizou as redes sociais para prestar uma homenagem ao fadista. "Recuso-me a evocar o Carlos com tristeza. O meu desgosto é largamente mitigado pela memória de um amigo luminoso, presente, o mesmo que sempre me abraçou, apoiou e defendeu. Grato, culto, lutador, inquieto, encantador e sobretudo maior do que a própria vida. O Rei morreu, viva o Rei", escreveu no Instagram.

"Carlos do Carmo deixou-nos hoje, assim, sem aviso e a abrir o novo ano. Fica a sua música, a sua voz e um contributo inestimável para o reconhecimento do Fado como património imaterial da Humanidade... a toda a sua família, um sentido abraço", publicou o ator Diogo Infante.

"Mais um grande mentor que se fez Luz. Um dia em sua casa o Carlos olhando nos olhos ante uma fase menos boa da minha vida e carreira disse-me: 'Gonçalinho, nunca deixes que ninguém interfira na tua luta e muito menos que te façam desistir dela...quem sabe de ti és tu e eu acredito em ti.' Obrigado querido Carlos do Carmo... por tudo! Uma grande salva de palmas", escreveu o ator Gonçalo Diniz.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, recordou no Twitter que Carlos do Carmo é "uma das maiores referências da interpretação do fado, que mostrou sempre uma especial preocupação com a divulgação desta forma de música".

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"Carlos do Carmo fica na minha memória como um artista verdadeiro, um homem de grande dignidade e de grande cultura... Vai-nos fazer falta a todos e deixar no nosso coração uma enorme saudade", escreveu a pianista Maria João Pires na rede social Instagram.

O cantor Carlos do Carmo, que morreu hoje, aos 81 anos, teve um papel "absolutamente fulcral" dentro e fora do fado, afirmou hoje à agência Lusa o músico e compositor Sérgio Godinho.

"Sempre achei que, ao mesmo tempo que é 'fadista de gema', ele é mais do que isso, é um cantor. Não é um fadista característico, como o [Alfredo] Marceneiro, é alguém com outro tipo de formação e que renovou dentro do fado e tem um papel absolutamente fulcral", afirmou.

Sérgio Godinho lamentou a morte de Carlos do Carmo - "alguém que eu sempre, sempre, sempre estimei muito" -, recordando algumas das ocasiões em que ambos se cruzaram profissionalmente.

Uma delas foi a composição do tema "Velho cantor", para a voz de Carlos do Carmo, e outra foi a gravação de "Fotos de fogo", música de Sérgio Godinho, num registo em trio com a participação de Camané.

Carlos do Carmo também deu a sua interpretação de "Lisboa que amanhece", um dos temas emblemáticos de Godinho, para um álbum gravado ao piano com Bernardo Sassetti.

Do percurso artístico de Carlos do Carmo, Sérgio Godinho sublinha a gravação de "Um homem na cidade", "um disco histórico", de 1977, que contou com os guitarristas António Chainho e Raul Nery, com letras de José Carlos Ary dos Santos e música de José Luís Tinoco, António Moniz Pereira, Vitorino de Almeida, Fernando Tordo, Frederico de Brito, Joaquim Luís Gomes, Martinho D'Assunção e Paulo de Carvalho.

Carlos do Carmo foi "um grande profissional", disse à agência Lusa o guitarrista António Chaínho, que o acompanhou durante 25 anos, até 1991.

O músico salientou "o bom gosto musical" do fadista e "o cuidado com a escolha de repertório".

Chaínho, em declarações à agência Lusa, referiu o gosto que o fadista tinha pelo cantor norte-americano Frank Sinatra, "cuja atitude em palco seguia de certa forma".

António Chaínho contou que recentemente tinha falado com Carlos do Carmo. "Tenho o coração todo partido", afirmou.

O guitarrista acompanhou Carlos do Carmo até 1991, tendo participado nas gravações dos seus álbuns "Homem na Cidade" e "Homem no País" e em várias digressões internacionais.

À Lusa recordou o espetáculo em Bordéus, França, onde o músico teve um acidente e partiu "várias costelas".

"Foi mesmo a terminar o espetáculo, estava a cantar 'Lisboa, Menina e Moça', e, mesmo depois da queda, fez questão de fechar o espetáculo", recordou.

O cantor e compositor Fernando Tordo lamentou hoje a morte de Carlos do Carmo, considerando que desapareceu "o mais jovem de todos os fadistas" com quem manteve 50 anos de amizade.

"Com este infeliz acontecimento desaparece o grande responsável pela transformação, pela modificação da autoria e da composição para fado", disse Fernando Tordo à agência Lusa.

Para Fernando Tordo, Carlos do Carmo - para quem compôs a primeiro tema em 1970 - desde o início "procurou, junto daqueles que na altura eram os mais jovens compositores portugueses, a transformação".

"Hoje desaparece essa pessoa, que terá sido o mais jovem de todos os fadistas. É uma perda muito grande", disse.

Tordo que, segundo disse, por "contingências da vida", não tinha contacto com Carlos do Carmo há alguns anos, endereçou condolências à família do fadista, adiantando que a sua morte lhe trouxe "imediatamente à memória 50 anos de amizade".

A cantora Simone de Oliveira realçou hoje a carreira internacional do fadista Carlos do Carmo, e a dimensão que atingiu, da qual "os portugueses não têm noção", como afirmou à agência Lusa.

Amiga do fadista, Simone recordou que foi Carlos do Carmo o responsável por ter voltado a cantar, depois de ter perdido a voz, em finais da década de 1960, após a sua vitória no Festival RTP da Canção, em 1969, com "Desfolhada Portuguesa".

"Eu era locutora de continuidade no Casino da Figueira [da Foz] e apresentava os meus colegas e amigos, e um dia apresentei o Carlos [do Carmo], e fui lá para trás sossegada, até que de repente ele chamou-me: 'Ó Simone, chega aqui'. Pensei que me tinha esquecido de algo, mas não. Ele deu-me o braço e pediu à orquestra para tocar dois tons abaixo a canção 'The Shadow of your Smile', que cantámos juntos e foi assim. Aprendi a cantar com outra voz", contou Simone de Oliveira à agência Lusa.

Simone disse que "Carlos do Carmo era absolutamente um homem do espetáculo, do 'showbiz'".

"Do Carlos fica a sua maneira de interpretar, a voz única, os poetas que trouxe, e era um homem um bocado libertário", afirmou Simone de Oliveira, que se referiu ainda ao fadista e amigo, como "um homem interessante e inteligente".

A fadista Mariza recordou Carlos do Carmo, que morreu hoje, aos 81 anos, como "um bom amigo, homem generoso, inteligente, observador, muito curioso, e que gostava de partilhar".

A fadista, em declarações à agência Lusa, recordou o apoio de Carlos do Carmo à sua carreira, afirmando que tinha sido seu "mestre sem o saber", logo no início do seu percurso.

"Ele chamava-me para junto do seu abraço", disse a fadista, que se encontra atualmente no Brasil.

Mariza, que partilhou vários palcos com Carlos do Carmo, nomeadamente o do Royal Albert Hall, em Londres, disse à agência Lusa que o fadista "teria a ideia de deixar, para o fado, pessoas bem preparadas, com conhecimento musical".

Mariza realçou "as escolhas inteligentes" de Carlos do Carmo ao longo da sua carreira de mais de 50 anos, e o cuidado no repertório.

Carlos do Carmo "foi a maior força renovadora do fado, depois de Amália Rodrigues (1920-1999)", disse hoje o musicólogo Rui Vieira Nery.

Rui Vieira Nery, autor de "Para uma História do Fado", em declarações à agência Lusa, afirmou que "quase todos os momentos de renovação do fado, nos últimos 50 anos, tiveram alguma ligação com Carlos do Carmo".

Vieira Nery referiu "os grandes poetas e compositores de outras áreas que Carlos do Carmo trouxe para o fado" e "as pontes que estabeleceu entre o fado e outros géneros musicais".

Rui Vieira Nery, que era amigo do fadista, sublinhou "o apoio e encorajamento de Carlos do Carmo aos novos fadistas".

O historiador e musicólogo e o fadista colaboraram na série documental "Trovas Antigas, Saudade Louca", exibida em 2010, na RTP.

Vieira Nery realçou também o "apoio de Carlos do Carmo a iniciativas que promoveram o fado" e o seu contributo "para a reconciliação dos portugueses com o fado", e citou, entre outras, o Museu do Fado e a candidatura do fado a património imaterial da Humanidade, que se concretizou em 2011.

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, manifestou o seu pesar pela morte do fadista Carlos do Carmo, que recordou como "um nome ímpar" do fado e como "figura relevante" na luta pela liberdade.

Numa mensagem de pesar, a segunda figura do Estado recordou também um "amigo de mais de 60 anos" e a personalidade marcante de Carlos do Carmo, "que não deixava indiferente quem com ele convivia".

"Carlos do Carmo é, inquestionavelmente, um nome ímpar do fado e figura incontornável do meio artístico e da canção portuguesa, numa carreira de décadas que perdurará na memória de todos nós", refere.

O presidente da Assembleia da República destacou o seu papel relevante "na luta pela Liberdade e na construção do país de Abril, em que tanto se empenhou".

"Hoje é um dia de grande tristeza pessoal. À família, nomeadamente à mulher Judite e aos filhos e netos, e aos muitos amigos, quero transmitir, em meu nome e em nome da Assembleia da República, a expressão do mais sentido pesar pelo falecimento de Carlos do Carmo", refere a nota.

Três nomes do fado, Jorge Fernando, Pedro Moutinho e Aldina Duarte, homenageiam Carlos do Carmo com um agradecimento nas redes sociais.

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"Não há adeus para quem tanto fez! Obrigado, Carlos", garante o produtor, músico, cantor, compositor Jorge Fernando, enquanto Pedro Moutinho, o criador de "O Fado Em Nós", escreve um "obrigado por tudo", no Facebook, à semelhança da cantora e compositora Aldina Duarte, assim como de Áurea: "Obrigada, Carlos do Carmo".

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Aldina Duarte escreve no Facebook: "Há duas coisas absolutamente únicas, nem que seja cantando o fado mais triste, que só o Carlos do Carmo tem: o aconchego da força da luz do sol ao entardecer e a beleza do céu de Lisboa."

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Os testemunhos de homenagem vão no entanto além do fado, vão da música popular à ligeira, do rock ao jazz e à música contemporânea, reunindo nomes como Ana Bacalhau, António Manuel Ribeiro, Carlão, Carminho, Carolina Deslandes, David Fonseca, Dino D'Santiago, Emanuel, Jel, José Cid, Luiz Caracol, Marco Rodrigues, Pedro Abrunhosa.

O compositor António Pinho Vargas, na sua página no Facebook, recorda um concerto em Amesterdão, em 1989, do seu quarteto, com os músicos José Nogueira, Pedro e Mário Barreiros, quando Carlos do Carmo e José Mario Branco (1942-2019) insistiram em juntar-se a eles, para cantarem "Olhos Molhados", na sala Paradiso, repleta de público.

"Então mostraram-me que aquela música era também uma canção: uma aparição celeste, uma inesquecível emoção, arrepios fundos; ouvir aquela música e viver aquelas palavras ditas e cantadas naquelas vozes únicas e sem igual. Ficámos amigos para sempre. Hoje, 'olhos molhados' reais para eles e pela memória dele", escreve o compositor de "Six Portraits of Pain".

O músico David Fonseca, por seu lado, lembra no Twitter que "o país inteiro morava na voz" de Carlos do Carmo. "Um músico extraordinário, um 'gentleman'".

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Dino D'Santiago usou o Instagram: "Lisboa perdeu o seu Homem...o Mundo perdeu o seu Verbo".

José Cid, o segundo músico português distinguido com um Grammy Latino de carreira, depois de Carlos do Carmo, escolheu também o Facebook para expressar a perda: "Meu grande amigo! Vais deixar saudades! Já tenho saudades! Estás sempre presente! Adeus amigo! Até ao dia em que nos encontrarmos de novo no Além!"

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António Manuel Ribeiro assina o texto na página dos UHF: "Carlos do Carmo -- nem elogio fúnebre nem obituário. Apenas as memórias que guardo do homem que conheci em 1979. Estivemos juntos na fundação de uma cooperativa dedicada ao espetáculo, a CantarAbril (...). Ouvi os conselhos do homem de saber e cultura com a palavra justa para os mais novos, como os UHF. (...) Intérprete maior da verdadeira canção de Lisboa recuperou com mestria e subtileza diplomática o fado (...). Ergam as palmas para Carlos do Carmo".

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Carlão recorda a presença do fadista nas tertúlias "Directo Da Fonte", que co-organizou em Almada: "Fez questão de aparecer e brindar-nos com algumas das suas histórias (que vida tão cheia e que exímio contador)... A calma, a doçura, o carisma e, claro, a Voz, fizeram dele um dos gigantes da nossa história. Que privilégio, o meu, naquele dia".

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Emanuel, por seu lado, usa também o Facebook, para sublinhar a importância de Carlos do Carmo: "O meu modelo, o meu exemplo de como ser artista. (...) Um dos maiores da historia da música portuguesa. Homem de grande nobreza mas simultaneamente humilde. Homem cultíssimo, mas de natureza simples. Artista de voz cristalina e personalidade que usava como poucos para comunicar emoções".

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"Foi-se embora um dos Homens que me fez apaixonar pelo Fado", escreveu o fadista Marco Rodrigues, na rede social Facebook. "Perdi um amigo, que me alimentou o sonho de ser Fadista. O Homem que tanto me ensinou, que me ofereceu toda a sua sabedoria e amizade. Só não é maior a dor e a perda porque é tão grande o legado e tudo o que nos deixou. Obrigado, meu querido amigo. Muito obrigado Carlos do Carmo", concluiu o cantor de "Fados do Fado".

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No Instagram, Luiz Caracol recorda "Carlos do Carmo, o eterno homem na cidade": "Muitas foram as histórias e os ensinamentos, assim como muita foi a simpatia e a amizade que sempre teve para comigo. Hoje é um dia triste para todos nós, para o fado e para a música portuguesa, que perdeu um dos seus maiores intérpretes de sempre".

A fadista Carminho afirma, também no Instagram: "O que [Carlos do Carmo] deixa ao País é de valor indescritível". E Sara Correia garante que "o poder das suas palavras, enquanto cantava, era um constante ensinamento".

O músico Diogo Clemente usou igualmente as redes sociais para recordar o fadista: "Não sei ainda muito bem a quantidade de significados que perder o Carlos tem dentro de mim e de todos nós, portugueses, fadistas, cidadãos, sonhadores, artistas e todas as dimensões onde a imagem, vida, presença e obra do Carlos são diariamente um pilar".

"Para cantar um poema é preciso entender as suas palavras. Para eterniza-lo é preciso entender os seus silêncios", escreveu Carolina Deslandes no Instagram, sobre Carlos do Carmo.

A cantora Ana Bacalhau, vocalista dos Deolinda, falou deste "amanhecer tão triste", na sua página no Facebook. "A sua Arte, o seu Canto serão sempre uma influência maior na minha vida e na vida de tantos. Obrigada, Carlos do Carmo", escreveu.

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No Facebook, Pedro Abrunhosa dirige-se diretamente ao cantor: "Agora, no dealbar da esperança, decidiste ir trovar aos deuses. Sortudos eles que beberão da tua voz que sempre lhes pertenceu (...). Das nossas noites em átrios de hotel, camarins ou na poltrona de tua casa fica-me a sensação de um Fado inacabado onde a tua voz ressoa como deve a voz de um Deus verdadeiro. Agradeço as janelas que deixaste abertas para que outros como eu possam admirar como estão belas as ruas, como o Campo Grande refulge do teu eco".

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O músico Jel preferiu o Twitter: "Descansa em paz, Gigante Carlos do Carmo".

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O fadista Carlos do Carmo "deixa um enorme legado que marcou profundamente o Fado", afirma em comunicado a discográfica Universal Music, na qual o fadista gravou durante grande parte da sua carreira.

"O fadista, Senhor de um dom inigualável, Carlos do Carmo deu vida às palavras como ninguém. Muitas vezes visionário, nunca abdicou de levar o Fado para outras dimensões, de lhe introduzir novos instrumentos, de evangelizar novos poetas, de manter o nível", lê-se no mesmo comunicado.

A discográfica refere que Carlos do Carmo se preparava "para editar o seu novo álbum de estúdio, mesmo depois de ter dito adeus aos palcos, há cerca de um ano, quando havia completado 80 anos".

Em finais de outubro passado, a Universal Music anunciou em comunicado que novo álbum de Carlos do Carmo, "E Ainda?", seria editado a 27 de novembro.

Fonte da discográfica disse à agência Lusa que "E Ainda?", o último CD de Carlos do Carmo, será editado este ano.

A Universal adianta que o fadista morreu "vítima de um pós-operatório a um aneurisma da aorta abdominal".

Para a Universal Music "Carlos do Carmo foi e sempre será: A Voz".

O ensaísta e poeta Nuno Júdice, autor de dois poemas cantados por Carlos do Carmo, destacou o "respeito absoluto" que o fadista tinha "pela poesia, pela língua e pela tradição, o Fado".

Nuno Júdice, autor de "Fado à Noite" e "Lisboa Oxalá", temas incluídos no álbum "À Noite", de Carlos do Carmo, editado em 2008, fala num "respeito absoluto" que o fadista tinha "pela poesia, pela língua e, depois, pela tradição, o Fado". "Ele foi buscar essas formas tradicionais do fado português e foi capaz de as renovar e atualizar de uma maneira perfeita", afirmou, em declarações à Lusa.

Nuno Júdice recordou um "amigo", cujas "conversas eram sempre fascinantes". "Tinha atrás dele toda a história do Fado, mas ao mesmo tempo era um homem que olhava para o presente e muito atento à realidade do país e do mundo", afirmou.

Enquanto artista, cantor, o que fascinava o poeta "era a forma como [Carlos do Carmo] dizia o poema".

"Ele próprio, quando me pediu para escrever dois fados para ele, me disse para ter muita atenção à palavra, porque a voz dele respeitava integralmente cada sílaba. Nós ouvimos, quando ele canta, toda a frase poética que está na canção", disse.

Foi com Carlos do Carmo que Nuno Júdice aprendeu "a escrever poesia para ser cantada": "Porque ele me dizia para estar muito atento, não apenas à melodia da própria língua, mas à métrica, à forma como os acentos têm de estar localizados para que não haja nenhuma traição quando [se] está a cantar".

Os dois poemas que Nuno Júdice escreveu para Carlos do Carmo, que deram origem aos temas "Fado à Noite" e "Lisboa Oxalá", "foram trabalhados com" o fadista.

"E não houve muito a alterar, mas percebi que ele me estava de certo modo a ensinar, mas de uma forma muito discreta, sem estar a impor de maneira nenhuma a sua forma. Aquilo que ele queria era que eu estivesse à vontade para fazer essas pequenas alterações, que foram coisas mínimas, mas que faziam com que a métrica se adaptasse perfeitamente àquilo que a voz dele pretendia", recordou.

Carlos do Carmo "é uma referência cultural e humana", afirmou Guilherne d'Oliveira Martins, presidente do júri do Prémio Vasco Graça-Cidadania Cultural, que o fadista recebeu no ano passado, a propósito da sua morte, ocorrida hoje, aos 81 anos.

"Soube sempre ligar a dimensão artística a um empenhamento cívico livre e solidário. A sua obra ficará para sempre gravada na nossa memória - como embaixador do Fado, um dos artífices da classificação deste como património imaterial da Humanidade pela UNESCO", afirmou à Lusa.

"Neste sentido, tenho muito orgulho em ter presidido ao júri do Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural do Estoril Sol que o galardoou com inteira justiça em 2020", rematou Oliveira Martins, também administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e um dos nomes de referência do Centro Nacional de Cultura.

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) recorda "a qualidade excecional" da obra e do "empenho cívico" de Carlos do Carmo, numa nota de pesar pela morte, hoje, do fadista, ocorrida em Lisboa, aos 81 anos.

Associado da SPA desde 29 de setembro de 1997, Carlos do Carmo foi distinguido pela cooperativa com o Prémio de Consagração de Carreira em maio de 2001 e recebeu a Medalha de Honra durante a celebração do Dia do Autor Português, a 22 de maio de 2015.

A cooperativa, que traça o percurso artístico de Carlos do Carmo, destaca os álbuns "Um Homem na Cidade" e "Um Homem no País", com textos de José Carlos Ary dos Santos (1937-1984), como "essenciais para a renovação do fado e para a consolidação da sua brilhante carreira nacional e internacional que o levou a atuar em grandes salas por todo mundo".

"Foi um cantor que sempre respeitou a obra dos poetas, de Vasco Graça Moura e Herberto Helder, passando por muitos outros", realça a SPA.

A organização lembra ainda que Carlos do Carmo "foi uma figura central na criação do Museu do Fado e na candidatura do fado a património imaterial da humanidade".

O fadista "foi sempre um homem comprometido com a luta pela liberdade e pela cidadania, reafirmando a sua crença religiosa, e assumindo publicamente a proximidade política com o PCP depois do 25 de Abril de 1974", escreve a SPA.

Para a cooperativa, "o Grammy Latino que recebeu em Las Vegas [em 2014] constituiu mais um passo importante para a sua consagração internacional como cantor de referência".

"Da sua vasta discografia ficam os concertos gravados na sala da Alte Oper [ópera antiga] de Frankfurt, o disco feito com Bernardo Sassetti ao piano e um outro mais recente com a pianista Maria João Pires", salienta a SPA referindo teve "o caráter inovador da obra e da carreira" de Carlos do Carmo.

A SPA lembra igualmente a viúva de Carlos do Carmo, Maria Judite, "companheira sempre presente, nos palcos e nos estúdios como na vida, ao longo de mais de meio século".

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