De Lisboa a Moscovo, restrições para não receber o vírus no Natal
O vírus não quer saber de tradições culturais e religiosas. Com 23 milhões de casos desde o início da pandemia e mais de meio milhão de mortes, e tendo nos últimos dias batido recordes (6800 óbitos na terça-feira ou quase 30 mil novas infeções na Alemanha na quinta-feira), os governos europeus viram-se na contingência de preparar novas restrições para a quadra festiva.
Sem valor de lei, o escritório regional da Europa da Organização Mundial de Saúde apelou aos europeus para evitarem reuniões familiares no Natal ou, caso o façam, pratiquem o distanciamento social e usem máscaras no interior das casas.
Por cá, o Natal não tem restrições especiais, ficando estas para o Ano Novo. O primeiro-ministro aconselhou os portugueses a reunir o menor número de pessoas possível, a estar à mesa "o tempo estritamente necessário, evitar espaços pouco arejados e estar o máximo de tempo com a máscara". "Os festejos de Natal têm de decorrer com o máximo cuidado", disse o primeiro-ministro António Costa. "Necessariamente vai haver um aumento de infetados a seguir ao Natal" e por isso, para evitar que depois essa onda continue a crescer, é preciso no Ano Novo "puxar o travão de mão".
A Alemanha reagiu sem meias medidas para controlar a segunda vaga da pandemia e na quarta-feira impôs o encerramento de lojas não essenciais até 10 de janeiro. Quanto às reuniões sociais, as novas regras de confinamento limitam as reuniões privadas, tanto dentro como fora de casa, a um máximo de 5 pessoas de dois lares. De 24 a 26 de dezembro, cada estado pode escolher flexibilizar esta regra e permitir que um agregado familiar receba quatro pessoas que pertençam ao círculo familiar imediato para se juntarem a eles. Os convidados podem vir de mais de dois agregados familiares diferentes e as crianças com menos de 14 anos não estão incluídas na contagem.
A chanceler Angela Merkel pediu às pessoas para manterem o contacto externo a um mínimo absoluto durante os cinco a sete dias que antecedem qualquer reunião familiar. "Se temos demasiados contactos agora, antes do Natal, e depois é o último Natal com os avós, então falhámos alguma coisa", disse com emoção num discurso no Bundestag.
Na Áustria, que inicia um confinamento a partir da véspera de Natal, com a duração de um mês, permite uma reunião natalícia com dez pessoas de até 10 agregados familiares diferentes. Lojas, restaurantes, museus e escolas poderão reabrir no dia 18 de janeiro, após um período de testes em massa entre 15 e 17 de janeiro, com aqueles que testarem negativo podendo sair do isolamento mais cedo. Aqueles que não forem testados terão de esperar até 24 de janeiro.
Em França, a infeção do presidente Emmanuel Macron é o exemplo acabado de como a covid-19 pode atingir qualquer um num momento em que os novos casos voltam a subir. O recolher obrigatório aplica-se agora das 20.00 às 6.00 todas as noites, incluindo a véspera de Ano Novo, há uma única excepção: a véspera de Natal, onde é permitido um máximo de seis adultos debaixo do mesmo teto. O governo indicou que a 7 de janeiro a reabertura de espaços culturais e de lazer poderia ser considerada. Quanto aos restaurantes e bares, o primeiro-ministro Jean Castex declarou que não podia de momento garantir uma reabertura a 20 de janeiro, como tinha sido previsto em novembro por Macron.
De 23 de dezembro a 6 de janeiro serão permitidas viagens entre regiões de Espanha, mas apenas para visitar amigos e familiares. As reuniões sociais na véspera de Natal, e no dia de Natal, bem como no Ano Novo serão limitadas a 10 pessoas, incluindo crianças, exceto se as autoridades regionais estabelecerem um número mais limitado. Por exemplo, na Comunidade de Madrid, na Galiza e na Comunidade Valenciana o número foi reduzido a seis pessoas. O recolher a casa, que varia entre as 22.00 e a meia-noite, dependendo da região, serão adiados para a 1.30 na véspera de Natal e na véspera de Ano Novo, embora também aqui os governos regionais podem endurecer as regras.
No Reino Unido, o primeiro-ministro britânico anunciou este sábado que Londres e o sudeste de Inglaterra vão, a partir de domingo, entrar novamente em confinamento, sendo proibidas as reuniões natalícias e encerrado o comércio não essencial para travar a propagação da covid-19 nas duas regiões.
Segundo Boris Johnson, o aumento do número de casos do novo coronavírus e a descoberta de uma nova estirpe que se propaga mais rapidamente obrigaram a subir o nível de alerta de 3 para 4, o mais elevado imposto desde o início da pandemia, o que implica o encerramento do comércio não essencial, como cabeleireiros e locais de lazer internos, que terão de fechar após o final do horário comercial no sábado.
Falando aos jornalistas numa conferência de imprensa após uma reunião do gabinete britânico, Johnson indicou também que a prevista "flexibilização" de cinco dias nas restrições de socialização, o que vai permitir que até três famílias se reúnam no Natal, está cancelada nas zonas onde entrará em vigor o nível 4.
Na Dinamarca, as medidas que estavam em vigor em dois terços dos municípios (encerramento de escolas secundárias, bares, restaurantes, centros desportivos e locais culturais) foram alargadas a todo o país na quarta-feira. "De sexta-feira, 25 de dezembro a 3 de janeiro, a Dinamarca estará verdadeiramente fechada", com exceção de estabelecimentos alimentares e farmácias, anunciou a primeira-ministra Mette Frederiksen. Os centros comerciais já foram encerrados, ao que seguem as empresas a partir de 21 de dezembro e depois todas as lojas não essenciais a partir do dia 25. Frederiksen pediu aos dinamarqueses para fazerem pequenos ajuntamentos no Natal.
Os Países Baixos ordenaram também um novo período de confinamento de cinco semanas, uma medida considerada "inevitável" pelo primeiro-ministro Mark Rutte para impedir a propagação do vírus e salvaguardar a eficácia do sistema de saúde holandês. Os lares holandeses não poderão receber mais de dois visitantes com mais de 13 anos, exceto de 24 a 26, dias em que serão permitidos três visitantes. As escolas e comércio não essencial estão fechados até 18 de janeiro e as pessoas foram aconselhadas a ficar em casa, a não viajar para o trabalho e a evitar tanto quanto possível o contacto com outras pessoas.
De 24 de dezembro a 6 de janeiro, a Itália será "zona vermelha" nos feriados e nas vésperas e "zona laranja" nos dias úteis, ou seja, serão aplicadas as maiores restrições de movimentos aos cidadãos. Nesses dias o movimento para casas particulares é permitido apenas uma vez por dia, num período entre as 5 da manhã e as 22.00, para uma única casa localizada na mesma região e dentro dos limites de duas pessoas, mais do que as que já lá vivem, além das crianças com menos de 14 anos de idade. Durante a época festiva os moradores de pequenas localdades com menos de 5 mil habitantes podem deslocar-se apenas num raio de 30 quilómetros, exceto à sede do município, mesmo que se encontre no limite dos 30 quilómetros.
A Croácia, o país com a mais elevada taxa de infeção por coronavírus da UE a seguir à Lituânia, proibiu os cidadãos de viajar entre regiões durante esta quadra, mas abriu uma exceção ao permitir missas de Natal. Além disso, as reuniões em espaços fechados serão limitadas a pessoas de dois lares com um máximo de 10 pessoas, incluindo no Natal.
Na Lituânia, onde o comércio não essencial foi encerrado, a polícia criou 250 controlos rodoviários em todo o país para impor uma proibição de viajar desde quarta-feira até 3 de janeiro para travar a propagação do novo coronavírus. Os bares e restaurantes foram encerrados há mais de um mês, podendo apenas vender para fora. As autoridades do país báltico não permitem as reuniões de pessoas de lares diferentes.
A Polónia, país católico e com um governo ultraconservador, é uma exceção às limitações impostas Europa fora durante o Natal. A partir de dia 28 e até 17 de janeiro o país entra em confinamento, com escolas, restaurantes, hotéis, centros desportivos, pistas de esqui e centros comerciais fechados. E na véspera de Ano Novo e no dia haverá um recolher obrigatório das 19.00 às 6.00.
Na Suécia, onde nos últimos dias as autoridades reconheceram ter seguido uma política de saúde pública que não resultou, a partir de 24 de dezembro o número máximo de pessoas autorizadas a partilhar uma mesa num restaurante está limitado a quatro e os restaurantes e bares não podem vender álcool depois das 20 horas. A Agência de Saúde Pública recomenda agora o uso de máscaras nos transportes públicos "em determinadas alturas". Quanto ao Natal aplicam-se as regras em vigor, onde estão proibidas reuniões públicas de mais de oito pessoas.
O governo checo disse na segunda-feira que iria reintroduzir um recolher obrigatório nocturno e fechar restaurantes e bares em todo o país para o período do Natal, uma vez que não houve qualquer recuo no pico da covid-19. As medidas incluem também um limite de reuniões a seis pessoas dentro ou fora de casa e uma proibição do consumo de álcool no exterior a partir desta sexta-feira.
Na Rússia, cujas comemorações da quadra se concentram na véspera de Ano Novo e no dia 7 de janeiro, o presidente Vladimir Putin disse que o sistema de saúde "demonstrou ser mais eficaz" do que noutros países, tendo em conta os números oficiais de infeções (o quarto país com mais casos, 2,7 milhões) e de mortes (49 mil), o que significaria uma letalidade menor do que na Europa Ocidental, ou nos Estados Unidos. Em outubro, a agência de estatística Rosstat detetou uma mortalidade excessiva de 50 mil óbitos naquele mês em comparação com o mesmo período de 2019, o que levanta dúvidas sobre os números das autoridades. Em Moscovo, medidas restritivas impostas até 15 de janeiro incluem horários de encerramento antecipado para restaurantes e cafés e um limite de 25% de capacidade nas salas de cinema e teatros. As festas nas ruas da capital, com a duração de um mês, devem ser canceladas.
atualizado às 19.00