De autocarro, metro e comboio. A manhã de Costa a tecer elogios da Ericeira a Setúbal

No primeiro dia do passe único o primeiro-ministro saiu de Mafra às 07.30 e chegou a Setúbal às 10.41. Sempre de transportes públicos. Numa cerimónia onde as qualidades da medida foram reafirmadas várias vezes, elogiou a gastronomia e cultura da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Em março, houve mais 70 mil pedidos de passes sociais.
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Um passe com 35 pais, um primeiro-ministro a fazer concorrência aos operadores turísticos depois de andar de transportes públicos desde as 7.30 da manhã e o anúncio que Lisboa vai investir 45 milhões de euros para avançar com a ligação por metro de superfície até à Cruz Quebrada, Parque das Nações e Loures.

Foi assim a manhã do primeiro dia do passe único na Área Metropolitana de Lisboa. Pelo meio António Costa ainda recebeu uma moldura com três passes antigos - o L123, e dois dos Transportes Sul do Tejo - para ter memória de como "era difícil viajar na Área Metropolitana de Lisboa antes de hoje", nas palavras da presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira.

E a palavra "memória" esteve muito presente nesta manhã de segunda-feira que marcou o arranque do passe único nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto - o título de transporte que permite aos utentes viajar por todo os municípios de cada uma das regiões pagando o máximo de 40 euros ou 30 euros se optar pelo, no caso de Lisboa, Navegante Municipal, válido em cada um dos seus 18 concelhos.

Além da "memória" das dificuldades que existiam na mobilidade dentro das áreas metropolitanas uma outra palavra foi repetida nas declarações ouvidas durante a manhã: paternidade. Depois das discussões dos últimos meses sobre de quem foi a ideia de avançar com esta redução de preços nos passes e a integração num único título de todos os operadores de transportes, no salão nobre da Câmara de Setúbal ficou a saber-se que a ideia não é mais do que o replicar o que acontece "em muitos países e áreas metropolitanas", como reconheceu o presidente da Câmara de Lisboa e da Autoridade Metropolitana de Transportes Fernando Medina. Autarca que além de dizer que "já não consigo não rir" quando se fala do assunto acrescentou ter a certeza sobre a paternidade do projeto que hoje se iniciou: "São os autarcas das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto (35, 18 de Lisboa e 17 no Porto). É da vontade deles que este projeto nasce e com o apoio do primeiro-ministro e do ministro do Ambiente e da Transição Energética".

Dia "histórico" começa às 07.30 e o elogio turístico

Para assinalar o arranque do projeto, o primeiro-ministro António Costa ligou os dois extremos da Área Metropolitana de Lisboa. Começou o dia às 07.30 na Ericeira (Mafra) ao apanhar o autocarro para Lisboa na companhia do presidente da autarquia local, Hélder Silva (eleito pelo PPD/PSD), já em Lisboa apanhou o metropolitano no Campo Grande para Entrecampos onde entrou no comboio da Fertagus que liga a capital a Setúbal pela Ponte 25 de Abril.

E foi em Entrecampos que se encontrou com os ministros João Pedro Matos Fernandes (Ambiente e Transição Energética) e Pedro Nuno Santos (Transportes e Habitação), responsáveis das operadoras, o vereador da Mobilidade da autarquia de Lisboa (Miguel Gaspar) e Fernando Medina.

A comitiva seguiu então para Setúbal numa carruagem cuja parte superior ficou cheia com a comitiva e em que poucos passageiros entraram no percurso - durante a manhã o maior movimento é no sentido Setúbal-Lisboa -, uma das exceções terá sido a responsável pela câmara de Almada, Inês de Medeiros, que apanhou o comboio na estação do Pragal.

Por isso, durante a viagem de cerca de uma hora, a comitiva governamental não teve contacto com utentes dos transportes públicos e o primeiro-ministro acabou por estar ocupado a prestar declarações em direto para as televisões. Esse encontro com a população acabou por ficar reservado para o passeio de 15 minutos da estação em Setúbal até à câmara municipal feito pela cidade, aí já na companhia de Maria das Dores Meira e de Bernardino Soares - o presidente da autarquia de Loures acabou por se encontrar com Costa apenas aqui pois devido a um acidente na Calçada de Carriche acabou por perder o comboio e teve de ir de carro para Setúbal. Chegou mesmo a brincar com a situação dizendo que não tinha "Ferrari nem burro" [lembrando a ação que António Costa fez na altura em que foi candidato à Câmara Municipal de Loures, em 1993, e colocou um Ferrari a competir com um burro para saber qual dos dois conseguia vencer mais depressa as filas na Calçada de Carriche. Ganhou o animal por cinco minutos].

Passados estes cumprimentos, seguiu-se o tal passeio pela cidade com os 18 autarcas da AML em que o contacto ficou-se por uns "bons dias, bons dias", para quem à porta dos estabelecimentos comerciais tinha curiosidade em saber a razão de haver tantas câmaras de televisão a passar.

Já no salão nobre da autarquia liderada pela comunista Maria das Dores Meira e depois de ouvir os discursos sobre a importância desta medida e as virtudes do encontro de opiniões entre todos os envolvidos - operadores de transportes, autarcas, governo - o primeiro-ministro lembrou a frustração de nunca ter sido "secretário de Estado dos Transportes" de forma a poder contribuir para a "uma estruturação dos territórios em que o sistema de circulação seja funcional".

Entusiasmado com a alteração na mobilidade que quem utiliza transportes públicos tem ao dispor desde esta segunda-feira - além do aumento de rendimento por via da redução do preço do passe -, António Costa recorreu a um depoimento que ouviu no vídeo passado na cerimónia, em que uma jovem moradora na Ericeira dizia ter a possibilidade de experimentar os cacilheiros que ligam Almada a Lisboa, para começar a enumerar, qual bom operador turístico, tudo o que um utente de transportes públicos tem agora ao dispor na AML: "Podem ir a Sintra comer queijadas, gelados a Cascais, marisco a Mafra, choco a setúbal, podem escolher as praias onde lhe apeteça ir, os ventos do Guincho, as da costa oeste, da costa azul. Ir ao Parque Natural Sintra-Cascais, a exposições a Lisboa, ao teatro a Almada. Tudo isto com o mesmo passe e preço que pagamos para ir trabalhar".

Depois de lembrar também que esta medida entra em vigor esta segunda-feira em 15 Comunidades Intermunicipais, dia 15 em outra e a 1 de maio nas restantes 15 - todas com propostas diferentes - e de criticar quem fala em eleitoralismo de uma medida que "foi aprovada em março do ano passado numa cimeira das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e estava no Orçamento de Estado para 2019", o primeiro-ministro deixou a sua opinião sobre o tema "ideia do projeto": "Nunca tivemos uma medida com tantas mães e tantos pais coletivos."

Concurso para o metro ligeiro em Lisboa

Se António Costa não falou com passageiros e utentes dos transportes públicos Fernando Medina disse que já o tinha feito esta manhã. "Houve uma pessoa que me disse esta manhã que isto vai mesmo mudar. A minha mulher [contou o presidente da Câmara de Lisboa que lhe tinha dito o interlocutor] vinha de carro desde Loures pois passe custava mais de 100 euros, mas hoje comprou o passe", contou o autarca que é também o presidente da Área Metropolitana de Lisboa.

Entre elogios aos presidentes de câmara, e o especial agradecimento ao primeiro-secretário da AML Carlos Humberto, Medina anunciou que foram vendidos mais 70 mil passes navegantes em março do que em igual período do ano passado. Uma subida conseguida muito à custa de pessoas "com mais de 65 anos que não andavam de transportes, que tinham abdicado da sua mobilidade".

Falou no concurso que a AML vai lançar para o transporte rodoviário - "vão ser mais de 30 milhões de euros dos orçamentos de todos os municípios para se fazer uma frota conjunta que se chamará Carris Metropolitana" - e anunciou que na quarta-feira (dia 3) a câmara vai lançar um concurso no valor de 45 milhões de euros direcionado para o metro ligeiro que irá ser prolongado até à Cruz Quebrada, Parque das Nações e Loures.

Já a anfitriã desta cerimónia frisou ser este dia 1 de abril um "dia de festa e um marco histórico que vai ficar na memória" das pessoas a que "vai facilitar a vida". E para que essa ideia não se perca ofereceu a António Costa uma moldura com três passes sociais - o L123 e dois dos Transportes Sul do Tejo - para que ficasse com recordação de como "era difícil viajar na AML".

Nesta cerimónia foi ainda recordado que estão a ser feitos investimentos na ordem dos 790 milhões de euros em concursos relacionados com os transportes públicos, disse o ministro do Ambiente, que também frisou ser objetivo de Portugal reduzir em "40% as emissões no setor dos transportes até 2030". Governante que ainda teve oportunidade de declinar um "convite" que Fernando Medina lhe tinha feito: o de ser "ministro vitalício da área da mobilidade". "Obrigado, mas não", salientou João Pedro Matos Fernandes.

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