Da quarentena dos cavalos às finais. Hipismo quer recuperar tradição de medalhas
A equipa equestre portuguesa, composta por Carlos Pinto e Sultão de Menezes, João Torrão e Equador, Maria Caetano e Fenix de Tineo e Rodrigo Torres e Fogoso competem na final de dressage (ensino) por equipas (a decorrer), uma disciplina na qual Portugal já conquistou uma medalha de bronze em Londres 1948. Em Helsínquia 1952 (quarto lugar) e Tóquio 1968 (quinto) esteve muito perto do pódio.
São oito equipas e a missão é muito difícil, tendo em conta que "há cinco claramente superiores", segundo António Frutuoso, da Federação Equestre Portuguesa: "Mas basta haver um ou dois deslizes e nós termos um dia fantástico para estarmos em lugar de medalhas. Estar na final é um passo de gigante, mas nenhum de nós fica contente só com isso."
O primeiro dia correu bem. Duas finais e um diploma Olímpico, e Portugal apurou-se em 7.º lugar para a final de equipas: "Foi um salto gigante e histórico. Faz-nos sonhar e sonhar é muito importante", disse ainda o dirigente ao DN.
Pelo seu resultado individual, Rodrigo Torres conseguiu também apurar-se para a finalíssima individual - KUR - na qual participam os 18 melhores (amanhã). O bisneto do medalhado olímpico Sousa Coutinho, bronze em Berlim 1936, em obstáculos, juntamente com Mena da Silva e José Beltrão, pode assim repetir o feito do avô. Monta o Fogoso, que foi criado por ele e que treina para os JO desde 2018.
O hipismo tem três medalhas olímpicas (bronze em Paris 1924, Berlim 1936 e Londres 1948), e é a terceira modalidade com mais pódios, depois do atletismo e da canoagem. Foi aliás a cavalo que Portugal conquistou a sua primeira medalha de sempre em Jogos Olímpicos - em Paris 1924. Obra dos cavaleiros Aníbal Almeida, Hélder Martins, Mouzinho de Albuquerque e Cardoso Menezes.
Na opinião de António Frutuoso "vão aparecer mais medalhas" daqui para a frente. E muito por culpa de Kyra Kyrklund, ex-cavaleira e atual treinadora de Portugal já com 11 Jogos Olímpicos na carreira.
A logística da comitiva equestre requereu muita paciência e colocar os cavalos em Tóquio foi uma verdadeira aventura. Primeiro ficaram de quarentena em Hagen (Alemanha) durante sete dias (do dia 6 ao dia 13), depois seguiram viagem para Liège (Bélgica) onde foram colocados num avião para Tóquio com escala no Dubai.
Não foram adormecidos e fizeram a viagem de quase 24 horas despertos. "São seres muito tranquilos e reagem lindamente às viagens. Vão em vaias uns ao lado dos outros, frente a frente, e acompanhados por veterinários e tratadores (um por cada país)", revelou o dirigente, lembrando que os animais treinam quando os cavaleiros querem e por isso a diferença horária não tem um efeito negativo no desempenho: "Os nossos cavalos chegaram todos bem, sem terem perdido peso e em Tóquio 2020 estão muito bem instalados em boxes com ar condicionado."
Luciana Diniz (obstáculos) e o seu cavalo só chegam a Tóquio esta terça-feira e competem apenas no dia 3 de agosto. "Prevê-se uma prestação especialmente boa. Ela já esteve duas vezes perto da medalha e pode ser que à terceira chegue ao pódio. Ela está numa forma muito boa", referiu António Frutuoso.
Os cavalos presentes são todos puros-sangues lusitanos. Três deles garanhões muito requisitados e que já competem contra alguns dos seus filhos. Juntos valem muitos milhões de euros.