Da defesa do Tejo a espaço de férias das meninas de Odivelas. E de um ditador
Milhares de pessoas acorreram ao Forte de Santo António da Barra, no dia 25 de abril de 2018, quando foi aberto ao público. A data marcou o fim de anos de degradação e, mais recentemente, de vandalismo daquele imóvel situado em São João do Estoril, no concelho de Cascais.
Um mês antes, a Câmara de Cascais assinara um acordo de cedência válido por um ano e renovável por outro com o Ministério da Defesa Nacional. A autarquia investiu durante esse período 800 mil euros e envolveu mais de cem trabalhadores municipais nas obras de limpeza e recuperação do também chamado Forte Velho.
Mais recentemente, nos terrenos vizinhos do Forte, a autarquia instalou um ginásio ao ar livre para toda a família.
É mais uma possibilidade de utilização do espaço que o Estado quer alienar, num total de 191 imóveis colocados à venda, entre quartéis, terrenos, conventos, paióis e fortes.
A autarquia, pela voz do edil Carlos Carreiras, reconheceu em entrevista à Revista Laços, da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, que "numa primeira fase não estava claro o que a Câmara queria fazer com o forte". Depois afirmou: "Queremos assim manter o registo de todas as funções e todas as vivências que aquele forte teve. Já contactámos arquitetos com grande reputação na recuperação de património para podermos dar mais funcionalidade ao forte e valorizar o que lá está."
Consciente da fragilidade da linha de fortificações que defendiam a capital do reino e o litoral até fora da barra do Tejo, Filipe I ordenou a edificação do forte em 1590, como explica a Direção-Geral do Património Cultural. O projeto foi executado pelo engenheiro militar italiano Vicêncio Casale.
O edifício foi alvo de várias modificações ao longo dos tempos. O desenho inicial do forte terá sido alterado pelo próprio Casale. Depois da restauração da independência é sujeito a novas mudanças, quando a coroa portuguesa reforma as fortalezas existentes ao longo da costa atlântica. Além de contínuas reparações, nos finais do século XIX passa a ser utilizado como posto da Guarda Fiscal.
A partir de 1915, o forte passa a servir de campo de férias do Instituto de Odivelas. Anos depois, o ditador António Oliveira Salazar também passa a usufruir do espaço como residência de verão. Foi em agosto de 1968 que se deu a célebre queda da cadeira de Salazar, que provocou a sua debilidade e a morte, em 1970.
O Forte Velho continuou como colónia de férias do Instituto de Odivelas, atividade que manteve até 2015, ao que se seguiuum período de abandono.