Cuba perde um "aliado vital" com a morte do presidente venezuelano
A Venezuela de Hugo Chávez foi uma tábua de salvação para Cuba depois dos anos difíceis do "Período Especial" declarado após a queda do bloco soviético e que submergiu a ilha numa grave crise, cujas sequelas ainda não foram superadas, considera a agência espanhola de notícias EFE, num despacho divulgado na noite de hoje.
Os governos de Caracas e Havana assinaram em 2000 um importante acordo de cooperação bilateral, segundo o qual a Venezuela fornece petróleo a Cuba e este país paga-o através de serviços médicos, educativos e desportivos, entre outros.
Com Chávez, Cuba recebeu diariamente 100.000 barris de crude venezuelano e, por sua vez, uns 45.000 cubanos, a maior parte ligados ao setor da saúde, auxiliam planos sociais, médicos e desportivos na Venezuela.
Nos últimos 12 anos, o governo de Hugo Chávez converteu-se no principal aliado da ilha, ao ponto do intercâmbio comercial com a Venezuela (que ascendeu a mais de 6.000 milhões de dólares em 2010) representar 40 por cento do total registado em Cuba.
Essa aliança, segundo a EFE, foi muito mais além do aspeto económico, pois Hugo Chávez, com a sua revolução bolivariana, transformou-se no aluno mais estudioso de Fidel Castro: quando Caracas e Havana firmaram o seu acordo de 2000, já o líder cubano destacava o "papel extraordinário" a que estava chamada a desempenhar a Venezuela "na luta pela unidade latino-americana e dos países do Terceiro Mundo".
Chávez guardou o testemunho do seu veterano mentor e, no ano seguinte, propôs a criação da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), novo instrumento de integração regional que nasceu como alternativa à Área de Comércio Livre para as Américas (ALCA), então impulsionada pelos Estados Unidos da América.
A ALBA foi constituída em 14 de dezembro de 2004 por um acordo subscrito em Havana entre a Venezuela e Cuba. Nos anos seguintes, quando a região dava uma viragem política à esquerda, aderiram a Bolívia de Evo Morales, a Nicarágua de Daniel Ortega e o Equador de Rafael Correa, como membros mais destacados.
Unidos na economia e na política, Hugo Chávez e Fidel Castro também o estiveram nas graves doenças que ambos sofreram.
Quando, em 2006, Fidel Castro adoeceu e delegou o poder no seu irmão Raul, foi o presidente venezuelano que, em inúmeras ocasiões, dava informações sobre a situação do líder cubano (a sua doença foi declarada segredo de Estado) e quem mais aparecia junto a ele nas fotografias e vídeos que permitiam conhecer a sua recuperação.