Art Bilger, especialista da Wharton School of Business da Universidade da Pensilvânia e capitalista de risco, revela num estudo recente que as taxas de perda de emprego, nos próximos 25 anos, serão cada vez mais elevadas porque 47% dos empregos possíveis serão "corrompidos" pela automação. "Nenhum governo está preparado", escreve a The Economist. Corrompidos? Não será antes uma oportunidade?.Quem serão os primeiros a olhar para esta corrupção de empregos? Quem terá a destreza de ver, neste novo rumo que levamos, as possibilidades de criar, inovar, inventar e designar os novos caminhos?.Eu diria que sim, há aqui claramente uma oportunidade, principalmente para profissões como designer..O design vive na eterna dicotomia que se situa entre a utopia e o esquecimento. Na maior parte das vezes o esquecimento acaba por vencer, pois grande parte do trabalho desenvolvido centra-se na questão estética, e a estética é um passageiro que muda frequentemente de apeadeiro num comboio que anda a alta velocidade..Diter Rams disse que beleza e aparência são coisas diferentes. E são! A beleza não precisa de ser visual, ou melhor, não devia ser visual. A beleza deveria centrar-se na harmonia, no contraste e nas proporções. Se há 60 anos a harmonia se relacionava com as formas, eu diria que hoje esta ideia de harmonia ganhou uma dimensão ainda maior..O designer tem de equacionar novos campos de projeto que, por exemplo em 1955, Rams, quando chegou à Braun e a revolucionou, não precisou de equacionar..Se o mundo já não é o mesmo, se 47% dos empregos serão novos, então o designer também mudou. Para nós designers, a adaptação, a mudança, a inovação são palavras que estão presentes no nosso dia-a-dia..Tome-se com exemplo a inovação social. Cada vez mais há designers que em conjunto com equipas de gestão olham para o mundo de forma a despolui-lo, a melhorá-lo, a torná-lo mais sustentável. O que não deixa de ser uma mudança de direção na profissão, pois desde há umas décadas as áreas do design e da publicidade, por exemplo, são as que mais objetos colocam no mercado. Há quem diga até que eram as que mais poluíam o mundo... Discutível, sim, mas temos agora a responsabilidade acrescida, se se confirmar o dito, de reverter ou, pelo menos, dar um novo rumo à profissão..É caso para dizer que as três premissas, definidas em tempos por Vitrúvio - durabilidade, utilidade e beleza -, já não são suficientes para os projetos do futuro, pois nos tempos que correm a durabilidade é cada vez mais efémera, a utilidade é reinventada constantemente e a beleza é vorazmente passageira. Ou então, e isso sim, ganham um novo significado, uma nova vida, uma nova forma de se afirmarem e se definirem..Não digo com isto que o designer tradicional, aquele que todos conhecem, aquele que desenha e cria o mundo tangível, vá desaparecer. Não. Quero é dizer que novos campos se vão abrir para a profissão. Novas áreas, novas competências e muita mudança..Mudanças na profissão que poderá, e irá certamente, continuar a mudar o quotidiano..E o designer é quem melhor se posiciona para ser o grande agente da mudança! Para ser o agente ativo que tentará salvar o mundo, e sem para isso precisar de ser um super-herói!.Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia