"Crazy Rich Asians": o filme mais bem-sucedido do verão não estreia nas salas portuguesas
Crazy Rich Asians, uma história da Cinderela contada em tom asiático (e cómico), é o filme de que todos falam nos EUA. Com um auspicioso arranque de 34 milhões de dólares de receita de bilheteira em seis dias, é também o melhor resultado de uma comédia romântica em três anos. E de qualquer comédia do último ano.
Ao estilo Um Príncipe em Nova Iorque, o filme com Eddie Murphy que este ano assinala 30 anos de vida, Crazy Rich Asians renova o sentido da expressão 'luxo asiático' e põe a nu os segredos dos mesmo muito ricos de Singapura, ao mesmo tempo que se desenrola a história de amor entre Rachel e Nick, com os encontros e desencontros da praxe.
A novidade, para os padrões de Hollywood, está no elenco do filme, o mais asiático de sempre desde The Joy Luck Club, de 1993. Como a imprensa norte-americana não se cansa de dizer, há 25 anos que não se via igual. E isto apesar de Jackie Chan, da sitcomAll American Girl com Margaret Cho, e do número crescente de séries com elenco asiático desta década - de Dr. Ken a Fresh Off tthe Boat, - ou o êxito em forma de dois especiais de comédia do Netflix de Ali Wong.
Sem surpresa, atores e atrizes destas produções, estão em Crazy Rich Asians. É o caso da protagonista feminina da história, Constance Wu, asiática da Richmond, Virginia, rosto conhecido do público graças a Fresh off the Boat, "Eu vi pessoas a chorar só por verem asiáticos no ecrã", disse a atriz, de 36 anos, numa entrevista ao canal ABC.
É uma questão de identificação para os mais novos, acrescentou. "Estamos orgulhosos dos nossos antepassados", veio dizer a mãe da fita, Michelle Yeoh, ícone de moda, conhecida pelo desempenho em Crouching Tiger, Hidden Dragon (O Tigre e o Dragão, 2000).
Os números divulgados pela produtora, Warner, provam as palavras de Wu. Cresceu o número de asiáticos nos cinemas. Os habituais 8% a 10% sobem para 38% neste filme. A restante audiência divide-se em 41% de caucasianos, 11% de hispânicos, 6% de afro-americanos e 4% de outras etnias.
The Hollywood Reporterdescreve assim Crazy Rich Asians: "Um marco cultural para Hollywood servindo um segmento da população que tem sido francamente ignorado pelos estúdios há décadas." A prová-lo, também, o êxito de produções como Black Panther ou de Hidden Figures.
Mas para o escritor Kevin Kwan, que cresceu em Singapura e viu de perto os excessos dos muito ricos, a história do seu livro, lançado em 2013, transcende raças.
Crazy Rich Asians já vendeu dois milhões de cópias nos EUA. "Muitas pessoas dizem-me que não são loucas, não são ricas, não são asiáticas e, no entanto, identificam-se com a família", explicou em entrevista ao canal ABC.
Depois, os primeiros a porem fé e dinheiro numa adaptação ao cinema foram Nina Jacobson e Brad Simpson ainda em 2013. Os produtores acreditaram que a história de uma professora de Economia e do herdeiro de uma fortuna de Singapura poderia ser um êxito e têm um currículo que fala por eles em matéria de escolhas: Jogos da Fome,The People vs. O. J. Simpson: American Crime Story ou The Assassination of Gianni Versace estão entre os seus projetos. A realização de Crazy Rich Asians foi entregue a Jon M. Chu, o mesmo de G.I. Jo: Retaliation.
A venda dos direitos rendeu 1 milhão de euros a Kevin Kwan. Em contrapartida quis participar ativamente no processo de adaptação da história.
Ao longo do processo, disseram não a uma distribuição via Netflix, porque, como diz Kwan, "queria uma estreia de Hollywood". "Provar que um filme assim podia ser bem-sucedido."
Como conta a Vanity Fai r, inicialmente os produtores acreditavam que seria possível lançar o filme sem um estúdio, já que não havia planos de ter um elenco de grandes estrelas, isto é, uma maioria branca. Descartaram a hipótese de substituir Rachel Chu por uma mulher branca como lhes foi sugerido. Mas quando começaram o processo de produção, em 2016, reunindo um elenco de atores de origem asiática, Hollywood começava a pensar na maneira como se representava.
Se é preciso explicação para o êxito, e é sobre isso que escreve a Vanity Fair num artigo publicado nesta segunda-feira, é que "as audiências comerciais queriam consumir entretenimento mais expansivo". As palavras são atribuídas ao outro produtor do filme, John Penotti (Ivanhoe Pictures). "Era tempo para os brancos - decisores - acordarem para o facto de a inclusão ser um bom negócio", disse Jacobson. Crazy Rich Asians afigurava-se um risco muito menor. E chegou a um grande estúdio: a Warner Bros, liderada por descendente asiático, o primeiro na história da companhia, Kevin Tsujihara, também apadrinhou o projeto.
Para lá do elenco, e das descrições sumptuosas de Kevin Kwan das paisagens de Singapura, Crazy Rich Asians é uma história de amor. Rachel desconhece por completo que o namorado pertence a uma das famílias mais ricas do país. Nick é interpretado por Henry Golding, o estreante entre os estreantes. O príncipe encantado tem aqui a sua estreia como ator. "É um talento nato", elogia Constance Wu.
"Eu era um apresentador de um programa de viagens. Tentei não fazer audição para o filme, mas praticamente foram buscar-me", explicou o agora também ator no talk show de Jimmy Fallon. Henry Golding, 31 anos, Interrompeu a lua-de-mel para fazer o casting. Antes de ter decidido dedicar-se a uma carreira na televisão e voltar à Malásia, onde nasceu, o ator trabalhou como cabeleireiro em Londres.
Quando poderá ser visto em Portugal? Apenas na televisão, se um canal de televisão comprar os direitos de transmissão. Crazy Rich Asians saiu da lista de estreias da NOS há algum tempo, confirmou fonte da distribuidora de cinema ao DN. Mesmo sendo agora um êxito? "Temos vários casos em que os filmes foram um sucesso nos EUA e um flop cá (e na Europa). E essa decisão nunca é tomada depois de estrear nos outros países", avançou a mesma fonte. Fica o trailer.