Crânios que estudam Parkinson e Alzheimer encontram-se em Lisboa
A partir desta terça-feira, 26 de março, investigadores de todo o mundo vão estar em Portugal para a 14.ª Conferência Internacional sobre as Doenças de Parkinson e Alzheimer, que se estende até domingo, 31, no Centro de Congressos de Lisboa. Ao todo são cerca de "3500 especialistas" que vão estar reunidos no nosso país, diz ao DN o professor Tiago Outeiro, um dos organizadores da conferência e o "culpado" por trazer este evento internacional a Lisboa.
"Todos os momentos em que se juntam investigadores para falar dos avanços mais recentes devem ser momentos de esperança", explica Tiago Outeiro.
O português, de 42 anos, diretor do Departamento de Neurodegeneração Experimental da Universidade de Gottingen, na Alemanha, destaca a importância desta conferência internacional, na qual se vai poder ouvir o que de mais importante e recente está a ser feito na área das doenças neurodegenerativas, em particular nas doenças de Parkinson e Alzheimer. "Vamos ter sessões bastante diversas, desde a prevenção ao diagnóstico, àquilo que chamamos biomarcadores, estratégias para tentar diagnosticar ou reconhecer a doença mais cedo", elenca o investigador.
A conferência que a capital recebe nesta semana vai contar também com empresas farmacêuticas e grupos que fazem investigação clínica. "Poderemos ouvir novidades relativamente a resultados de ensaios clínicos em doentes", afirma Tiago Outeiro.
Está expectante com o que vai ser dito no encontro, mas "é sempre uma surpresa". Até para os organizadores, diz o especialista português. "Vamos ter de aguardar e ver o que as empresas e os investigadores vão reportar, mas penso que temos alguns motivos para estar otimistas e entusiasmados com algumas novidades que vão ser apresentadas", afirma, confiante e com uma certeza: "Esta conferência vai trazer novidades que podem ser importantes para avanços no tratamento."
Para que estes novos desenvolvimentos na investigação na área das doenças de Parkinson e Alzheimer possam ser dados a conhecer a quem deles mais precisa, Tiago Outeiro convidou as associações de doentes de Portugal. "Queremos que oiçam em primeira mão e possam transmitir aos seus membros, aos doentes e famílias aquilo que vai ser apresentado na conferência", explica.
Os resultados preliminares do trabalho de investigação que o português dirige na Alemanha sobre a possibilidade de se estar mais perto de travar a progressão da doença de Parkinson também vão ser partilhados nesta conferência. Um estudo que engloba grupos de vários países, incluindo Portugal, através do CEDOC - Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Nova Medical School.
Além das questões relacionadas com diagnóstico, tratamento e prevenção, Tiago Outeiro destaca outro tema que vai ser abordado neste encontro e que está relacionado com "aspetos da genética" das doenças de Alzheimer e Parkinson. Tem que ver com "novos genes que têm sido descobertos", conta. "Mecanismos que estão a ser compreendidos por causa da descoberta destes novos fatores genéticos", especifica o especialista português.
Mas há mais para ouvir no Centro de Congressos de Lisboa, como a interação entre o cérebro e o intestino, "uma área muito em voga e interessante". "É uma ideia recente que advém do facto de sabermos que no nosso intestino existe uma quantidade muito grande de microrganismos, de bactérias que condicionam muito aquilo que nós somos, porque metabolizam os alimentos de uma forma que depois vai interferir com o funcionamento do cérebro", explica o investigador. Uma área que os cientistas querem perceber melhor como funciona.
O especialista português refere que ainda não se está na fase em que vai ser possível ouvir algo sobre a cura destas doenças, mas sim novidades "nos passos que estão a ser dados para tentar travar a progressão, diagnosticar a doença mais cedo, perceber a complexidade destas duas doenças", exemplifica.
A doença de Parkinson afeta cerca de "18 mil portugueses" e "é conhecida por ser uma doença motora, do movimento", e entre os sintomas estão os tremores, a rigidez muscular, a instabilidade postural, a dificuldade de iniciar movimentos. Já a doença de Alzheimer é a forma de demência mais comum e como afeta outras áreas do cérebro os doentes têm "problemas cognitivos e de memória bastante acentuados". Afeta cerca de "cem mil" portugueses.
O número aumenta para cerca de 150 mil quando se fala no total das doenças neurodegenerativas, só no nosso país. "No mundo, estima-se que em 2030 ultrapasse os cem milhões de pessoas", diz Tiago Outeiro. Isto porque vivemos até mais tarde e o envelhecimento aumenta o risco para estas doenças.
Dados que sublinham a relevância desta conferência internacional. Segundo Tiago Outeiro, ter os maiores especialistas destas doenças em Portugal é também importante para inspirar "as gerações mais jovens de investigadores", que têm assim a "oportunidade de interagir com estes especialistas mundiais". "Foi algo que tentei fazer e acabou por resultar, consegui trazer este congresso para Portugal", congratula-se.
Falou com as pessoas que dirigem este congresso e sugeriu que Portugal tinha capacidade e todas as condições para receber a conferência. Esperou cerca de dois anos até saber a resposta final, recorda.
E no Centro de Congressos de Lisboa vão estar mais de três mil investigadores, dos quais é difícil destacar nomes, reconhece Tiago Outeiro. Ainda assim, o português sublinha a presença de três.
A professora Virginia Lee. "É uma especialista mundial na doença de Parkinson, da Universidade da Pensilvânia, EUA. Ao longo dos anos tem estado sempre no topo, tem trazido muita informação importante na área do conhecimento, de como é que a patologia se espalha pelo cérebro ao longo do tempo."
O professor John Hardy. "Do University College London, é um dos maiores especialistas na genética da doença de Alzheimer e da doença de Parkinson, é uma pessoa reconhecidíssima nesta área."
O professor Christian Haass. "É da Alemanha. Uma pessoa muito importante, com trabalho muito reconhecido na área da doença de Alzheimer, na compreensão dos mecanismos moleculares que levam à progressão de uma das proteínas que se acumulam nos cérebros dos doentes."
Com esta conferência, o país pode receber nova informação sobre estas doenças neurodegenerativas, bem como mostrar aos especialistas de todo o mundo "a qualidade da ciência que Portugal faz nesta área e que é muito significativa", destaca ainda Tiago Outeiro. "Está ao nível do que se faz no estrangeiro. Estamos perfeitamente integrados com aquilo que é a investigação de ponta nesta área."
O investigador diz mesmo que Portugal faz parte do "grupo de países que têm contribuído para os avanços nesta área".