Costa lança campanhas de 2019 e trava lutas internas pela sucessão

"Maioria absoluta" continua a ser uma expressão tabu para o secretário-geral do PS. "Ganhar" é o objetivo. A campanha começou
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Com uma nota bem-humorada - "anuncio desde já que não meti os papéis para a reforma" -, António Costa legitimou ontem a ideia de que já se trava no PS uma discreta, mas efetiva, batalha pela sua sucessão. A julgar pelo "aplaudometro" do XXII congresso nacional do PS, que terminou ontem na Batalha, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, é quem está mais bem colocado. Mas Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta de Costa - que dentro de dias será reconduzida na função -, também parece ter muito apoio no partido. Pela negativa, ficou o registo do homem que Costa indicou para seu sucessor na Câmara de Lisboa, Fernando Medina. O PS recebeu com frieza a sua intervenção.

"Nova geração" com "potencial"

Mas assim como reconheceu que já se luta pela sucessão - e há no PS, segundo disse, uma "nova geração" que "tem um enorme potencial, profissional e político" -, também deixou outro recado: que, findo o congresso, o tempo é de "voltar ao posto de trabalho". Porque o que está em causa é fazer o caminho para as eleições de 2019: europeias, legislativas e regionais da Madeira (que a direção acha que desta vez é possível ganhar, pela primeira vez, avançando-se com a candidatura de Paulo Cafôfo, o independente que preside à Câmara do Funchal encabeçando uma vasta coligação onde o PS é o principal partido).

Para todas as eleições de 2019, o secretário-geral do PS assumiu apenas um objetivo, o de "ganhar". Sem falar em maiorias absolutas, muito menos para as legislativas (na sua história de 45 anos, o PS só conseguiu uma vez, em 2005, com José Sócrates na liderança). "Maioria absoluta" foi, aliás, uma expressão quase tabu na reunião máxima dos socialistas, que poucos ousaram pronunciar. Fizeram-no Manuel Alegre e Vasco Cordeiro (líder do PS-Açores) e pouco mais.

Ainda neste ano, em dezembro, haverá uma convenção na qual deverá ser lançado o (ou a) cabeça-de-lista do partido às eleições europeias (Ana Catarina Mendes e Carlos César já disseram que não querem ser); e dentro de um ano realizar-se-á uma convenção de lançamento do programa eleitoral para as legislativas.

Ao encerrar o congresso, António Costa empenhou-se em lançar as bases para o programa eleitoral do partido para as próximas legislativas - mas já com medidas que quer ver avançar ainda nesta legislatura. Por exemplo, um programa de incentivo ao regresso a Portugal de jovens emigrantes que nos últimos anos saíram do país em busca de uma vida melhor. Esse programa já deverá ter verbas previstas no próximo Orçamento do Estado. Costa também quer discutir com os parceiros sociais um "grande acordo" que permita conciliar horários de trabalho e família. Demografia, sociedade digital, alterações climáticas e combate às desigualdades deverão ser os quatro grandes temas do programa que o PS há de levar a votos nas legislativas. Foram pelo menos os principais temas de moção global de Costa, ontem esmagadoramente aprovada pelos mais de mil congressistas presentes na Batalha.

Pressão sobre os patrões

E pelo meio lançou fortes desafios à comunidade empresarial para aumentar os salários que pagam aos seus funcionários. "Já aumentámos 15% o salário mínimo nacional, no próximo ano chegaremos aos 600 euros", mas este aumento tem de se estender à generalidade dos salários: "O conjunto dos salários tem de convergir para a média europeia. Essa tem de ser a nossa ambição coletiva. Não é para amanhã, mas é o caminho." Para o líder socialista, nunca haverá empresas competitivas sem trabalhadores qualificados - e estes requerem salários proporcionais às suas competências.

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