Costa disse não, Marcelo recebe hoje associações da Cultura

Associações contestaram normas "discriminatórias" definidas pela DGS para o setor, que não tiveram em conta resultados de testes-piloto, por elas organizados e concretizados - porque, reconheceram DGS e governo, ainda não conseguiram apurá-los. Primeiro-ministro recusou reunir-se com os agentes culturais. Vão ser recebidos em Belém nesta tarde.
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Há mais de um ano sem trabalhar, o setor cultural lamenta que se continue a decidir sem critério ou equilíbrio, sobretudo no que respeita a espectáculos, depois de, na semana passada, a DGS ter avançado regras para espetáculos que incluem testes obrigatórios generalizados e pagos pelo público. A definição de regras sem atender à falta de indícios de contágios em eventos culturais e sem ter por base dados concretos dos espetáculos-teste organizados e pagos pelo setor - ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus, cujos governos tomaram essa iniciativa e custo de forma a assegurar o acesso à cultura - desanimaram artistas e empresários culturais. Que se queixam de ser discriminados.

Para alertar para estas questões e para a dificuldade que vive o setor cultural, as associações que representam diferentes áreas dos espetáculos pediram uma audiência ao primeiro-ministro logo na semana passada, na sequência da publicação das medidas da DGS, depois das 23.00 de terça-feira.

António Costa recusou receber os representantes da cultura, encaminhando-os para a tutela, o Ministério da Cultura.

Serão hoje recebidos pelo Presidente da República, em Belém. Ao contrário de Costa, Marcelo Rebelo de Sousa acedeu ao pedido de reunião com caráter de urgência e vai ouvir, às 19.00, os representantes da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), da Associação Portuguesa Festivais Música (APORFEST), da Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE) e da Associação Espetáculo - Agentes e Produtores Portugueses (AEAPP).

Cultura é "direito constitucional" e tem de "ser assegurado"

"Sugerimos os eventos-piloto e disseram-nos que avançássemos - e pagássemos. Com a ajuda das autarquias, conseguimos promovê-los em total segurança. E no dia em que Bruxelas anuncia viagens livres dentro da União Europeia, aqui ficámos a saber que a cultura, que sempre cumpriu, fica sujeita a estas restrições", lamentou o promotor cultural Álvaro Covões, reagindo ao anúncio das medidas publicadas pela DGS.

A "discriminação" nas regras, sobretudo quando foram tomadas à revelia dos resultados dos eventos-teste - que noutros países europeus foram promovidos pelas autoridades nacionais, enquanto por cá resultaram de iniciativa e mobilização das entidades do setor cultural - e sem haver indícios de surtos originados em espetáculos, vão levar os artistas à rua na próxima semana.

"As autoridades continuam a tomar medidas inexplicáveis, como se não entendessem a emergência por que estamos a passar", lamenta Pedro Magalhães, presidente da Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos. "Não nos resta alternativa senão manifestar descontentamento", diz, anunciando para dia 30 um protesto "seguro" mas "menos conveniente" do que o de há um ano, quando o setor instalou caixas negras em vários pontos de Lisboa e Porto.

O DN/Dinheiro Vivo questionou, logo na quarta-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) e governo sobre a base científica que serviu para estabelecer os critérios para os eventos culturais. Não teve resposta até agora.

Tal como não teve resposta à possibilidade de as regras serem revistas quando se conseguir os resultados dos eventos-piloto, cujo atraso a DGS atribui a "um problema informático".

Igual silêncio foi a resposta quando perguntámos se havia indícios de surtos em espetáculos.

Questionados ainda sobre a obrigação de mostrar teste negativo em comícios, manifestações e ações políticas, DGS e governo remeteram-se uma vez mais ao silêncio.

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