Costa com saldo ​​​​​​​negativo pela primeira vez. Marcelo sem rival na popularidade

Primeiro-ministro paga a fatura do chumbo do Orçamento e da crise política. Presidente tem 55% de avaliações positivas, com destaque para os eleitores socialistas.
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Depois do cartão amarelo, em julho, o cartão vermelho, em novembro. O primeiro-ministro fica pela, primeira vez, com saldo negativo na avaliação dos portugueses, de acordo com o barómetro da Aximage para DN, JN e TSF. Ao contrário do que aconteceu no verão, a desilusão não se alarga ao Presidente da República, que, se já era o mais popular, passa também a ser o único líder político com uma imagem positiva junto dos portugueses.

Os sinais não são os melhores para António Costa, quando já está marcada a data das eleições legislativas antecipadas (30 de janeiro). É certo que as intenções de voto no PS se mantêm altas (38,5%), mas a avaliação que os portugueses fazem do chefe de governo sofreu novo abalo. Depois da quarta vaga da pandemia, a explicação para os estragos reside agora no chumbo ao Orçamento do Estado e na consequente crise política.

O primeiro-ministro gozava, há pouco mais de seis meses, de um saldo positivo de 40 pontos percentuais (diferença entre avaliações positivas e negativas). Em maio, essa vantagem desceu para 23 pontos. Em julho, reduziu-se para uns escassos seis pontos. E passa agora para um saldo negativo de dois pontos, com 39% dos inquiridos a darem nota negativa, contra 37% de avaliações positivas.

Apesar de a queda ser generalizada, há segmentos da população que salvam António Costa de uma descida aos infernos: antes de todos, os portugueses com 65 ou mais anos, que não lhe tinham perdoado os passos em falso durante a quarta vaga da pandemia, mas que regressam agora, quando o que está em causa é a "coligação negativa" que chumbou o Orçamento e desencadeou a crise política: é apenas entre os mais velhos que o primeiro-ministro consegue um saldo positivo de 18 pontos (nos outros três grupos etários está no vermelho).

Quando o ângulo de análise aponta às escolhas partidárias, constata-se que a popularidade do primeiro-ministro depende agora quase exclusivamente dos eleitores do PS (76% de avaliações positivas). Deixou de contar com a indulgência de boa parte dos sociais-democratas (o saldo é agora de 42 pontos negativos quando, em maio passado, tinha tantos admiradores quanto detratores entre os que votariam no PSD), mas, a mudança fundamental regista-se mais à esquerda: passou de saldo positivo para saldo negativo entre bloquistas e comunistas.

Também Marcelo Rebelo de Sousa tinha recebido, neste verão, um cartão amarelo (passou de 60 pontos de saldo positivo, em maio, para 37, em julho). Mas, entrados no outono, o seu caminho separa-se definitivamente do de Costa (na política como na popularidade). Tem nesta altura os mesmos 55% de avaliações positivas de há quatro meses, contra 21% de negativas (mais três pontos), o que lhe garante um saldo positivo de 34 pontos percentuais.

Uma valoração que aconteceu quando os portugueses já tinham plena consciência de que iria dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas (o trabalho de campo do barómetro decorreu entre 28 e 31 de outubro). E que faz do presidente o único líder político verdadeiramente popular (tal como Costa, todos os principais líderes partidários têm, nesta altura, um saldo negativo).

Quando se analisam os diferentes segmentos da amostra, percebe-se melhor que outras diferenças há entre Marcelo e Costa. O presidente mantém saldo positivo em todos os grupos etários e, ao contrário do primeiro-ministro, os mais velhos já não têm o peso de outras alturas. A sua popularidade é, aliás, maior nos dois escalões mais jovens. Ao nível regional, é Lisboa que faz a diferença: dois terços dão-lhe nota positiva, em espelho com o Porto, onde tem o seu pior resultado (tal como Costa).

No que diz respeito às preferências partidárias, percebe-se que os eleitores socialistas não levaram a mal o uso da "bomba atómica", que terá como consequência o fim do atual governo. Talvez acreditem, como muitos analistas, que Costa desejava eleições. Assim volta a ser entre quem vota no PS que Marcelo tem maior popularidade (saldo positivo de 47 pontos), bem acima do eleitorado social-democrata (saldo de 35 pontos). O presidente só fica no vermelho entre os eleitores comunistas, liberais e radicais do Chega.

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com atualidade política. O trabalho de campo decorreu entre os dias 28 e 31 de outubro de 2021 e foram recolhidas 803 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 803 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,46%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

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