Corpos imperfeitos desafiam tabus a arrasam na passerelle

Veem-se cada vez mais manequins com particularidades físicas. Primeiro português a desfilar em cadeira de rodas aplaude a tendência.
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A perfeição física é considerada requisito para quem sobe à passerelle. Ou era. É que cada vez são mais os manequins que contrariam essa ideia e defendem novos padrões de beleza. É o caso de Rebekah Marine, que se prepara para desfilar na Semana da Moda em Nova Iorque, no próximo domingo, com um braço biónico.

A norte-americana de 28 anos nasceu sem o antebraço direito e foi-lhe dito, quando era criança, que não teria futuro como modelo. Há quatro anos, Rebekah decidiu colocar uma prótese, que já lhe permitiu desfilar em grandes palcos e representar marcas de renome mundial como a Nordstrom.

A mesma energia foi demonstrada por Chantelle Brown-Young (conhecida como Winnie Harlow), manequim de 21 anos que sofre de uma doença de despigmentação da pele, e que também já brilhou na Semana da Moda de Nova Iorque, em fevereiro, e no programa America"s Next Top Model - foi, de resto, convidada a entrar no formato quando Tyra Banks a descobriu no Instagram. A ela juntam-se ainda Madeline Stuart, manequim de 18 anos que aprendeu a viver com a síndrome de Down, e Jillian Mercado, cuja distrofia muscular não a impediu de ser contratada pela mesma agência que Gisele Bündchen.

Por cá, João Matias tornou-se em 2014 o primeiro português a desfilar em cadeira de rodas. "Hoje há mais oportunidades para aqueles que, como eu, estão a mudar o padrão de beleza associado à moda. Só que em Portugal faltam oportunidades. As portas da ModaLisboa e do Portugal Fashion deviam abrir-se. Se na passerelle mais desejada do mundo acontece, porque não também cá?", questiona o jovem de 28 anos que sofre de uma patologia de nascença, espinha bífida.

Para ele, o momento em que subiu à passerelle na cadeira de rodas "foi um misto de emoções". "Senti nervosismo e também, claro, felicidade, mas felicidade por viver o momento, estava longe de pensar que iria fazer carreira", explica o modelo, hoje representado pela Fashion Studio Agency.

O estilista Nuno Gama, por outro lado, olha para estes casos com "muita naturalidade" e recusa falar de tendência. "A natureza humana baseia-se na novidade e na saturação. Damos atenção a coisas novas. Estes modelos são como aquele rapaz que há tempos desfilou todo tatuado. São diferentes, despertam curiosidade, mas depois desaparecem, não quer dizer que se tornem modelos bem-sucedidos", diz. "Enquanto estilista, reconheço que apostar em modelos com estas particularidades possa ser perigoso, porque, se a pessoa não tiver uma boa estrutura psicológica, exibi-la à frente do público pode ser muito prejudicial. O preconceito não existe na moda, existe é no ser humano. Temos de parar de fazer estas comparações. Este mundo é fascinante exatamente por sermos todos diferentes", adianta.

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