Coreia do Norte usa Moçambique para contornar sanções da ONU

CNN acusa moçambicanos de apoiarem atividades ilícitas de norte-coreanos para violar sanções internacionais. ONU, num novo relatório, diz que regime de Kim Jong-un gerou 200 milhões em 2017
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O regime da Coreia do Norte contorna as sanções impostas pela ONU através de Moçambique ( e de vários outros países). E, segundo um relatório da organização, que está a ser citado desde sexta-feira à noite por várias agências, conseguiu mesmo gerar cerca de 200 milhões de dólares em 2017 (cerca de 160 milhões de euros), com a exportação de produtos banidos pelas sanções da ONU - impostas por causa do programa nuclear do país de Kim Jong-un. A acusação não é propriamente nova e já surgiu noutros relatórios da organização que hoje em dia é liderada por António Guterres. A diferença é que, desta vez, a CNN decidiu investigar o papel de Moçambique.

Numa investigação de um mês, a televisão norte-americana "descobriu uma rede secreta de empresas de fachada, cooperação militar e acordos de preparação de forças de elite entre a Coreia do Norte e Moçambique, que violam as sanções internacionais, de acordo com investigadores da ONU". A CNN diz ter analisado documentos que "revelam que a cooperação é selada com contratos ilegais no valor de milhões de dólares". A televisão teve acesso a comunicações oficiais entre responsáveis militares moçambicanos e norte-coreanos e cita fontes que garantem que "os norte-coreanos treinam as forças de elite numa base em Maputo há pelo menos dois anos". E refere: "Isso tem um preço".

A CNN afirma não ter conseguido obter um comentário oficial por parte do Ministério da Defesa de Moçambique. Alvaro O"da Silva, diretor do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, garantiu, por seu lado, que o governo moçambicano respeita as sanções impostas à Coreia do Norte. O mesmo responsável adiantou que há norte-coreanos que estão legitimamente envolvidos em campos "sociais e técnicos" e que isso não viola as sanções da ONU. Admitindo depois não ter em sua posse "informação detalhada" sobre o tipo de sanções em causa, Alvaro O"da Silva declarou à CNN: "Temos razões para acreditar que a nossa relação com os EUA é boa". Isto porque, segundo o Financial Times, a Administração de Donald Trump tem pressionado países africanos que têm boas relações com Pyongyang desde a Guerra Fria a expulsar diplomatas e trabalhadores norte-coreanos. Além de Moçambique, o jornal refere Angola, Namíbia, Mali, Botsuana, República Democrática do Congo, Eritreia, Tanzânia, Uganda, Zimbabwe.

Na investigação que fez, a CNN fala da existência de dois barcos enferrujados no Porto de Pesca de Maputo, o Susan 1 e o Susan 2, "que não são navios de pesca comuns". Antes tinham bandeira da Coreia do Norte e agora da Namíbia. As tripulações são norte-coreanas e passeiam-se por Maputo. Além da cooperação militar referida, a pesca ilícita é outra das formas de cooperação entre os dois países que violam as sanções, segundo a televisão norte-americana. A CNN diz ainda ter localizado o edifício cor de salmão onde antes funcionava a Haegeumgang. Na Avenida Mao Tse-tung em Maputo. "Viviam e trabalhavam aqui uns asiáticos. Saíram há três ou quatro meses", disse um agente imobiliário aos repórteres do canal, explicando que ficaram sem dinheiro para pagar. A Haegeumgang surge no relatório de setembro de 2017 da ONU como uma empresa envolvida no fornecimento de "mísseis superfície-ar a Moçambique e Tanzânia".

Já no seu relatório mais recente, que tem um total de 213 páginas, os peritos das Nações Unidas afirmam que a Coreia do Norte violou as sanções através de exportações ilícitas de petróleo, carvão, ferro, aço e outros produtos. Pyongyang "usou a combinação de várias técnicas de evasão, rotas e táticas para exportar carregamentos de carvão para a China, Malásia, Coreia do Sul, Rússia e Vietname". Assim, explicam os especialistas, o regime de Kim Jong-un continua a ter acesso ao sistema financeiro internacional apesar das sanções. O relatório aponta ainda para a existência de uma cooperação militar entre a Coreia do Norte, a Síria e a Birmânia no desenvolvimento de um míssil balístico e programas de armas químicas.

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