Conan Osíris... De onde vem este nome que dominou o Festival da Canção?
Cresceu entre Lisboa e o Cacém, foi maioritariamente criado por mulheres, e as manhãs de sábado ficaram-lhe gravadas na memória com a mãe a aspirar a casa enquanto ouvia Amália, kizomba ou a dupla Leandro e Leonardo. Cresceu depois a ouvir hip-hop na MTV e, mais tarde, a descobrir nomes como Björk. Virá em parte daí, talvez, a panóplia de referências que soam na sua música.
Conan Osíris, nome artístico de Tiago Miranda, inspirado na série pós-apocalítica Conan, o Rapaz do Futuro, de Hayao Miyazaki, já dava que falar antes de ser convidado para a edição de 2019 do Festival da Canção. Apareceu com a sua música difícil de classificar, entre techno, fado, algo de António Variações e outro tanto de oriental. Durante e depois da semifinal de ontem do Festival da Canção, rara será a combinação de duas palavras que tenha sido tão criticada ou elogiada nas redes sociais como o seu nome neste fim de semana.
Na primeira semifinal viu-se apurado para a final de dia 2 de março do Festival da Canção em segundo lugar, depois de Matay, e seguido por Calema, e D'Alva/Ana Cláudia. Conan Osíris foi o candidato com mais votos do público. O vídeo do YouTube da canção que levou ao festival, Telemóveis, já conta mais de um milhão e meio de visualizações, e comentários vindos de toda a parte, muitos deles confirmando-o numa afinidade ao mundo da Eurovisão, cuja final se realiza em maio em Telavive, Israel.
Neste sábado, Tiago Miranda apareceu em palco reconhecível para aqueles que já o terão visto nalgum dos muitos palcos que tem pisado desde que se tornou conhecido do grande público com o seu terceiro álbum, Adoro Bolos (2017), fosse na Galeria Zé dos Bois, no Teatro Tivoli, durante o Super Bock em Stock, ou no Festival Vodafone Paredes de Coura. Com um visual excêntrico, uma postura determinada e o fiel bailarino João Reis Moreira a dançar ao seu lado, Conan Osíris foi tudo aquilo a que já habituou quem o segue.
"Eu sou só eu, 'tás a ver? Uma pessoa que está a fazer as cenas que tem cá dentro ficarem construídas cá fora", dizia ao DN no ano passado, quando questionado sobre quão intrigadas as pessoas estavam já então com a sua figura, divididas entre uma legião de seguidores e aqueles que questionam o que faz. Começou a fazer música no computador, que enviava aos amigos por MSN, e diz ter aprendido muito sobre a vida nos anos de trabalho numa sex shop, em Lisboa. A primeira vez que cantou numa música sua foi em Amália.
Acerca da sua forma de cantar, amiúde identificada com um canto cigano, respondia ao DN: "Têm dito isso, mas não sei. É a cantar assim que a minha voz não me soa artificial."
Em entrevista à rubrica de Rita Ferro Rodrigues "Elefante de Papel", contou como ser um mistério para muitos não é algo novo na sua vida. Enquanto estudava já tinha um visual excêntrico para os padrões vigentes, com um cabelo muito longo, terços ao peito e botas cujo pé esquerdo não combinava com o direito. Habituou-se a "um empurrão aqui, um apalpão aqui, umas chapadas na cabeça. Aquilo que hoje em dia o pessoal chama de bully. Isso era a minha vida".
Celulite, Barcos, Adoro Bolos ou Borrego são alguns dos seus temas mais conhecidos, e já contam com verdadeiros coros a entoá-los nos seus concertos.