Fecho da Ryanair: "O importante é manter fluxo de turistas"
Em declarações à Lusa, Jorge Botelho notou que a base da companhia aérea low cost no Algarve permitia ter pessoas em permanência na região e lamentou a perda desses postos de trabalho, considerando que "não é positivo perder um só posto de trabalho na região".
O presidente da associação que reúne os 16 municípios algarvios sublinhou que, caso o encerramento da base venha a concretizar-se, vai ser preciso "trabalhar muito" para manter as rotas e os voos diretos daquela companhia aérea, tanto em época alta, como em época baixa. "A base era importante manter, mas mais importante é manter as ligações diretas com a Europa, que é o que abastece um fluxo regular de turistas para o Algarve", frisou, notando que a região "está numa ponta da Europa" e é preciso continuar a garantir esse fluxo de passageiros.
Também o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, se mostrou "preocupado" e "apreensivo" com o facto de 100 famílias virem a ficar com rendimentos reduzidos, ainda mais em janeiro, mês que coincide com a época baixa do turismo e quando é mais difícil conseguir emprego no setor. Por outro lado, notou, o facto de a companhia low cost deixar de ter uma base fixa na capital algarvia pode significar que, no futuro, a operação "possa vir a ser deslocada para outro lado". "Neste momento, há contratos válidos para a operação e não é fácil quebrá-los de um dia para o outro, mas no futuro não se sabe", referiu, considerando que o turismo do Algarve e o Governo devem, agora, acompanhar de perto a situação.
O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, disse à agência Lusa que as notícias que dão conta da intenção da companhia aérea irlandesa de fechar a base em Faro, podendo levar ao desemprego cerca de uma centena de trabalhadores, deve também levar as autoridades a serem "mais cautelosas" na atribuição de apoios para a fixação destas empresas na região. "Vimos isto com preocupação, caso a notícia se venha a confirmar. O fim da base da Ryanair em Faro significa que, mais tarde ou mais cedo, apesar de a companhia continuar a afirmar que isso não afetará o número de voos [para Faro], na nossa perspetiva é óbvio que o número de voos, mais tarde ou mais cedo, será menor", afirmou o dirigente da associação empresarial hoteleira.
Elidérico Viegas acredita que, "havendo menos voos, haverá menos turistas e menos passageiros" no Algarve e esta perspetiva é vista "com alguma preocupação, independentemente de, passado algum tempo, como acontece com estas situações, os passageiros acabarem por se diluir por outras companhias aéreas". "Mas é uma muito má notícia para o Algarve", frisou.
Elidérico Viegas alertou ainda para a necessidade de haver uma maior garantia de contrapartidas por parte destas empresas quando beneficiam de apoios para a sua fixação no Algarve e, neste caso, no aeroporto de Faro. "Uma vez que foram atribuídos subsídios e apoios financeiros para que a Ryanair criasse essa base em Faro, para além de outros apoios que houve ao longo dos anos à Ryanair para trazer passageiros para Faro, este tipo de situações vem chamar a atenção para sermos mais cautelosos na forma como fazemos estas negociações e estes acordos, porque é preciso salvaguardar alguns interesses que, porventura, não terão sido suficientemente acautelados", argumentou o dirigente associativo.
Elidérico Viegas reconheceu que "a generalidade dos destinos concorrentes do Algarve também apoiam companhias aéreas" e a região "não é a única a fazê-lo, e bem", mas advertiu que se deve "sempre acautelar alguma contrapartidas quando se estabelecem acordos desta natureza" com as empresas de aviação. "É preciso dizer que a Ryanair é maior companhia aérea a operar para Faro, tem um share de quase 30% do total e não é uma companhia qualquer. É uma companhia muito importante, digamos decisiva, determinante e estratégica, porque é o maior fornecedor de passageiros ao aeroporto e de turistas ao Algarve", sinalizou ainda Elidérico Viegas.
Em comunicado, o cabeça de lista do PSD por Faro, Cristóvão Norte, referiu que este pode ser o "primeiro passo para a perda de rotas", lembrando que a região "persiste na dependência de dois ou três operadores de grande dimensão" que, quando "viram costas" provocam "verdadeiros terramotos económicos e sociais".
Cristóvão Norte recorda que a base abriu em 2010 "por recurso a um programa que desembolsou fundos do Estado", frisando que, embora os governos não possam controlar estas decisões, "deveriam promover uma economia mais diversificada, com outros setores com força na região", para "suportar choques desta natureza".
No dia 1 de Agosto, a Ryanair admitiu que poderá despedir até 500 pilotos e 400 tripulantes de cabine, devido ao impacto do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), ao aumento do preço dos combustíveis e ao atraso na entrega dos aviões Boeing 737 Max.
O deputado algarvio sublinha que "há mais de três anos que o Brexit está no radar", e que "muito pouco se fez", sendo necessário aproveitar "a oportunidade para transformar uma economia baseada num setor importante, mas que não pode ser o único a puxar a região". "Se o Brexit vier a ter lugar, pode culminar na perda de muitas rotas do mercado britânico em razão da perda de valor da libra", apontou, notando que é também preciso "conhecer em detalhe os acordos celebrados entre o Estado e a empresa para verificar se alguma cláusula não está a ser cumprida".
Por outro lado, acrescenta, é preciso garantir que "a legislação laboral é cumprida", de modo a que os funcionários "sejam o menos prejudicados possível".
Na terça-feira, a Ryanair comunicou, em Faro, que vai encerrar a base naquele aeroporto em janeiro de 2020 e despedir cerca de 100 trabalhadores, embora mantenha os voos, revelou à Lusa a presidente do sindicato dos tripulantes.
Na segunda-feira, Michael O'Leary informou que o lucro da transportadora aérea caiu 21% no primeiro semestre do exercício fiscal, para 243 milhões de euros, face a idêntico período do ano fiscal anterior.