Como vai Kim neto celebrar 70 anos de Coreia do Norte?
Dez a 20 ogivas nucleares, uma dinastia a mandar no país apesar de este ser uma república, lista oficial de cortes de cabelo para os homens. Sabe-se pouco sobre a Coreia do Norte e ao mesmo tempo sabe-se demasiado, muitas vezes com a informação que chega a ser especulação criada pelos desertores para se tornarem mais interessantes, outras vezes a ser a própria propaganda oficial a dar asas à imaginação. Mas os três dados básicos referidos chegam bem para sintetizar o que é o regime de Pyongyang e porque tem de ser levado a sério tudo o que faz Kim Jong-un, líder máximo desde 2011, depois de suceder ao pai Kim Jong-il.
Contava há dois dias o The Washington Post que em Pyongyang se prepara uma grande festa para 9 de setembro. É certo que ainda há dias tanto a Coreia do Norte como a do Sul assinalaram o 15 de agosto, data do fim da Segunda Guerra Mundial e da libertação da ocupação japonesa, mas é o dia que se aproxima que mais simbolismo tem para Kim: foi no verão de 1948, faz agora 70 anos, que o avô Kim Il-Sung proclamou a República Democrática Popular da Coreia.
Dois anos depois, incentivado por Moscovo e Pequim, o primeiro dos Kim tentou a reunificação pela força mas falhou, muito por culpa dos americanos, que vieram em defesa da Coreia do Sul e conseguiram que o primeiro grande embate da Guerra Fria terminasse empatado em 1953. A atual fronteira entre as Coreias não anda longe do Paralelo 38 definido em 1945 por soviéticos e americanos como delimitador das zonas de influência.
Que se passará então no dia 9? Um desfile militar percorrerá sem dúvida a principal avenida de Pyongyang e uma multidão bem ensaiada fará coreografias impressionantes. Mas haverá um convidado de honra? Depois da cimeira em Singapura de Kim em junho com Donald Trump até se poderia ser tentado a imaginar o presidente americano a visitar a Coreia do Norte, mas bem mais lógica seria a presença de Xi Jinping. Depois do fim da União Soviética, é Pequim que resta como protetor contra os americanos. O jornal Straits Times, de Singapura, diz que Xi vai.
Kim, embora atento ao que a China pensa, tem dado sinais de querer um entendimento com Trump que proteja o regime de um ataque preventivo e ao mesmo tempo quebre o isolamento que prejudica a economia. Conta para convencer os americanos com a influência de Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, que tudo tem feito para acabar com o clima de guerra na península. Aliás, nova cimeira intercoreana está já combinada.
Mas apertos de mão entre Kim e Trump à parte, a velha desconfiança entre Pyongyang e Washington mantém-se e entre os americanos há quem já tenha percebido que Kim não vai desistir nunca do nuclear, aliás uma certeza que já foi dada por governantes norte-coreanos, como o ministro dos Negócios Estrangeiros. "Negociar com os americanos é difícil. Apesar de a Coreia do Norte ter concordado com o desarmamento para satisfazer os compromissos com os Estados Unidos, nós iremos conservar a nossa ciência nuclear, pois sabemos que os americanos não abandonarão a sua hostilidade", afirmou Ri Young Ho, à agência iraniana Mehr, citada pelo Financial Times.
Veremos que mensagem ao mundo Kim decidirá enviar dentro de três semanas, nos festejos. Se desfilar mísseis não será bom sinal. Sobretudo frente a Xi.