Como um sismo se torna uma grande atração
É no simulador do Quake que se vive aquilo que terão vivido os lisboetas em 1755, aquando do terramoto que abalou a cidade. Só crianças com mais de seis anos ali podem entrar, mas há visitantes mais crescidos que saem de lá assustados, tanto por terem uma experiência tão próxima daquilo que aconteceu como por se consciencializarem dessa grande evidência de que um abalo sísmico pode acontecer a qualquer momento. A experiência é intensa e terá certamente contribuído para o Oscar do turismo que o museu privado ganhou na passada sexta-feira, na edição europeia dos World Travel Awards, em que foi eleito melhor nova atração turística da Europa.
Nascido há cerca de ano e meio, o Quake concorria com duas pontes - a Diamond Bridge, na Geórgia, e a Sky Bridge 721, na Chéquia - a torre Sljeme 360°, em Zagreb, na Croácia, e o Lava Show, na Islândia, este último com um conceito mais próximo do candidato nacional. "Somos uma experiência bastante inovadora dentro do conceito de museu", alerta Maria Marques, que com o marido, Ricardo Clemente, montou o Quake.
Foi há oito anos que ambos tiveram a ideia, ainda bastante rudimentar quando comparada com aquilo que nasceu junto ao Museu dos Coches. O que começou por ser pensado como um simulador num contentor passou a um edifício com 1800 metros quadrados com dois simuladores de terramotos (o de Lisboa de 1755 e outro de São Francisco de 1906) e 10 salas imersivas, onde, numa visita de hora e meia, se conta, através da combinação de história, ciência e entretenimento, o que foi este trágico desastre natural, além de alertar para o perigo iminente de um sismo e para a prevenção. "Saímos da museologia tradicional e entramos no conceito de museu do futuro. Foi o que nos diferenciou e chamou a atenção do público", considera a cofundadora.
"O visitante torna-se parte da história. Sentir tanta emoção é a melhor forma de passar conhecimento", defende Maria Marques, admitindo que "todos desfrutam da experiência de forma bastante intensa", tanto o avô que recorda o que viveu no sismo de 1969, como o neto que sente pela primeira vez o tremor da terra.
Dos 170 mil visitantes que por lá passaram, o nacional continua a ser em maioria, mas a tendência é para um aumento dos turistas estrangeiros à medida que os prémios vão chegando. Além do World Travel Award, o Quake já ganhou um Thea Award na categoria de Experiência Histórica - Outstanding Achievement: Historical Experience e dois BlueLoops, um pelo ambiente temático e outro pelo storytelling. "É um orgulho enorme ver a nossa cidade e o nosso país nas bocas do mundo, ver a nossa história divulgada além fronteiras", diz Maria Marques, que vê os prémios como um incentivo para "fazer mais e melhor".
"Temos ideias para levar isto a outras cidades, não só cá, mas também lá fora", conta. Além de pensarem num hotel e quererem promover debates e workshops de preparação para sismos. "Não é uma questão de se vai voltar a acontecer mas de quando vai voltar a acontecer", realça, lembrando os abalos mais recentes na Turquia e em Marrocos. "É um facto. Não é assustar", insiste. E porque a "melhor forma de minimizar os riscos é estar preparado e saber o que fazer", o Quake quer que "os visitantes se divirtam, mas que saiam educados e mais alerta" para que saibam como agir em caso de sismo.
sofia.fonseca@dn.pt