Como um profiler apanhou as mentiras da filha suspeita de ter matado a mãe
Os sinais estão lá e o nosso corpo trai-nos sem que o consigamos controlar. Desde a microexpressões faciais, ao tom de voz, às referências espaciotemporais, ou a linguagem corporal - em momentos de maior stress chegam quase a ganhar vida própria, denunciando as mentiras. Os profilers, como Rui Mergulhão Mendes, têm a "chave" deste código e o caso do assassinato da professora Amélia Fialho captou atenções.
O analista comportamental viu e reviu a entrevista que a filha, Diana Fialho - presa preventivamente com o marido pelo homicídio da mãe -, deu à CMTV, quando ainda não se sabia do macabro destino da professora. Rui Mergulhão Mendes não se deixou enganar pelo falso desespero nem pelas palavras ocas. "O nosso corpo fala por nós e expressa tudo aquilo que não dizemos", sublinha na publicação no seu Facebook.
Logo no início da entrevista, Diana trai-se ao falar da mãe no passado: "aqui na zona toda a gente a conhece, toda a gente gostava dela, era uma ótima professora...", diz a mulher de 23 anos. "Fala no passado, já sabe que não é mais, já sabe que está morta. Acompanha esta informação com lábios enrolados para dentro, a desaparecer, indiciando emoções negativas com o tema", sublinha o profiler. "O conteúdo da informação que é dada nunca pode ser dissociada das questões espaciotemporais", acrescenta.
A referência a um tempo passado quando fala em Amélia volta a acontecer mais à frente quando diz que a mãe "gostava muito de passear".
O analista explica que "quando estamos com níveis de stress diferentes há alterações corporais que se evidencia, aspectos psicofisiológicos que não conseguimos controlar. É o caso do ritmo cardíaco, a dilatação das pupilas, a voz, os movimentos gástricos que podem provocar a secura nos lábios, a transpiração e muitas microexpressões faciais".
Ao longo da entrevista Mergulhão Mendes detetou variações no tom de voz quando Diana diz "... estamos à espera que ela regresse e que alguém nos diga alguma coisa...", há "variação no tom de voz, que fica mais aguda, a desaparecer, evidenciando falta de confiança com a afirmação".
No momento em que conta que a mãe tinha deixado "as chaves do carro em cima da mesinha", mais uma vez há sinais de mentira. "Hesitações, perda de contacto ocular, passa a língua pelos lábios, resultado da boca ficar mais seca pelo maior nivel de stress com o tema (pacificador), novamente variação da qualidade da voz, novamente mais aguda que dá indicações que o tema do carro pode ser relevante", assinala o analista.
Rui Mergulhão Mendes afiança que "não é um único aspecto que denuncia uma mentira. Deve-se ter em conta pelo menos três pontos de interesse em dois canais diferentes. Por exemplo, se fala no passado, se a sua voz se altera, se a sua expressão facial não condiz com a gravidade do que está a dizer, podem ser fortes indícios da mentira.
Quando conta que ligou para o telemóvel da mãe e esta nunca atendeu, Diana não expressa "qualquer emoção vinculada ao momento, não exibe qualquer expressão de surpresa, o que seria expectável", afirma este analista comportamental
Um outro sinal que pode ser indicador de algum afastamento emocional é facto de, na maior parte das vezes Diana se referir à mãe com "ela". Mergulhão Mendes contou duas vezes em que utiliza a palavra "mãe", concluindo que "pode ser uma dissociação da pessoa, o que pode também ser um aspeto relevante",
Rui Mergulhão Mendes especializou-se em análise comportamental e profiling comformação em vários países, dos EUA, à Holanda, ao Reino Unido, Bélgica e Espanha. É Diretor Pedagógico na Emotional Bussiness Academy e professor convidado na Porto Bussiness School. É formador em linguagem corporal, micro expressões e deteção da mentira, com programas específicos nas áreas da negociação e vendas; na Justiça; na Corporate & Alta Direção; e nas Forças de Segurança nacionais e internacionais.
É licenciado em gestão de empresas e tem uma pós-graduação em ciências forenses, profiling e comportamento desviante.