Como Kate Moss saltou das "passerelles" para o mundo dos negócios
Passaram-se pouco mais de dez anos desde que viveu o pior período da sua vida. Kate Moss tinha acabado de ser considerada, pela quarta vez, uma das mulheres mais sexy do mundo. A carreira nas passerelles não podia correr melhor, os contratos publicitários multiplicavam-se e vários artistas inspiravam-se nela para criar obras de arte. O escândalo que se seguiu abalou-a, mas não a deitou abaixo. Hoje, aos 42 anos, é uma mulher de negócios.
Kate Moss Agency é a agência de talentos criada pela ex-manequim britânica. "Conhece o filme Gia [de 1998]? Faye Dunaway interpreta uma agente. Eu também posso fazer isso! Mas quero focar-me mais em administrar carreiras do que em ter apenas uma agência de modelos. Não quero só gente bonita, quero pessoas que cantem, que dancem, que atuem. Quero criar estrelas", explicou a própria em entrevista à The Business of Fashion.
O objetivo passa muito por ajudar os jovens que passam pela agência a tirar partido das suas potencialidades. "Eu tenho um lado maternal e gostaria de cuidar deles para que cresçam de forma a utilizarem todo o seu potencial, em vez de serem usados e deitados fora. Acredito que isto pode acontecer, já que hoje tudo acontece muito depressa", justificou, recordando a época em que foi Naomi Campbell a sua cuidadora. "Ela tomou completamente conta de mim. Disse-me para ter calma. Penso que, nesta indústria, por passarmos muito tempo sozinhas, precisamos de alguém que nos guie", afirmou Moss.
Campbell foi uma das pessoas que estiveram ao lado de Kate Moss quando, em setembro de 2005, e depois de várias semanas de especulação, o tabloide The Daily Mirror publicou fotografias da manequim a consumir cocaína. A H&M anunciou o final do acordo com a modelo. No dia seguinte, a Chanel noticiava a mesma decisão. A campanha que iria fazer para a Burberry também foi anulada.
"Ela é humana. Tinha uma família na moda, que a apoiou. Isso mostra o nível de amor, de lealdade e de respeito que ela tem na indústria", conta Lucy Baxter, que conhece e trabalha com Moss há quase 20 anos. Talvez por isso, um simples pedido de desculpas e uma demonstração de arrependimento tivessem sido suficientes para que o tribunal a ilibasse de acusações de consumo de droga e para que os fãs e as marcas a perdoassem. No ano seguinte, Moss voltou à glória dos velhos tempos: protagonizou 14 campanhas publicitárias para marcas como Stella McCartney, Versace, Burberry, Louis Vuitton ou Dior, e amealhou mais de 33 milhões de euros.
A história de uma lenda
Descoberta em 1988, aos 14 anos de idade, durante um voo de Londres, Reino Unido, para Nova Iorque, EUA, Moss não era uma óbvia modelo de passerelle - tinha apenas 1,70 metros -, mas os seus invulgares traços faciais e o carisma fizeram-na sobressair.
Foi o estilista John Galliano que, em 1989, lhe deu a primeira oportunidade de percorrer uma passerelle em Paris, ao lado de nomes como Christy Turlington, Linda Evangelista e a sua futura melhor amiga, Naomi Campbell. Os anos que se seguiram foram de uma incrível produtividade a nível publicitário e, em pouco tempo, a manequim britânica deixou o anonimato para se tornar rosto global de marcas de renome e líder da revolução sexual na indústria da moda (a sua figura filiforme, muitas vezes desnuda, inspirou a criação do conceito heroin chic).
Hoje, a mulher que protagonizou 37 capas da Vogue britânica quer dar continuidade ao seu legado através da Kate Moss Agency. "Eu já passei por tudo aquilo, sei o que devemos e não devemos fazer. Conheço a indústria", explicou. Sabendo, por isso, que o digital assume um papel preponderante - basta olhar para a influência de modelos como Kendall Jenner, Karlie Kloss ou Gigi Hadid -, Moss contratou também para a sua agência especialistas na gestão de redes sociais. "O impacto do digital é tremendo, mas tem de haver credibilidade", defende.
Considerada uma das mulheres mais ricas do Reino Unido, com uma fortuna avaliada em mais de 68 milhões de euros pelo jornal The Sunday Times, muitos se perguntaram porque é que Moss estaria a fazer um investimento destes, quando poderia simplesmente continuar a faturar como rosto de campanhas. "Não há entusiasmo nenhum nisso. Prefiro criar coisas que me deixem empolgada. Espero poder dar às pessoas algo que não lhes é possível ter neste momento", conclui.