Coligações com o PSD agitam CDS

Nuno Melo critica secundarização do CDS em Lisboa. Dirigentes locais pedem mais envolvimento no processo. Antigo deputado que passou a independente em 2008 sobe à direção
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O CDS saiu da última reunião do Conselho Nacional, na madrugada de sexta-feira, com a promessa de uma nova reunião do órgão máximo entre congressos para discutir as eleições autárquicas, um processo que promete não ser pacífico entre os centristas. Depois de anunciados os novos nomes na direção do partido - onde se destacam dirigentes que estiveram com Ribeiro e Castro - vários dirigentes locais pediram a palavra para exigir mais informação e envolvimento no processo.

Mas a crítica mais contundente foi de um peso pesado do partido, o eurodeputado Nuno Melo, que questionou os termos da coligação em Lisboa com o PSD, que será encabeçada pelo social-democrata Carlos Moedas. O ex-vice presidente do partido defendeu que os centristas se deixaram secundarizar quando deveriam ter reclamado a liderança do processo, uma vez que o CDS teve mais votos que o PSD nas autárquicas de 2017 (20,59%, enquanto o PSD teve 11,2%) e é o maior partido da oposição em Lisboa. Contactado pelo DN, Nuno Melo não quis tecer qualquer comentário à intervenção que fez no Conselho Nacional.

À mesma hora, num debate na SIC Notícias, o líder da distrital de Lisboa, João Gonçalves Pereira - que também já defendeu publicamente que o CDS deveria encabeçar uma coligação com o PSD em Lisboa - disse esperar pela conclusão das negociações com os sociais-democratas até ao próximo dia 10, remetendo para depois uma posição sobre o acordo negociado com os sociais-democratas.

Para substituir Filipe Lobo d"Ávila, que se demitiu da vice-presidência no final de janeiro, Francisco Rodrigues dos Santos anunciou o nome de Pedro Melo, que integrou a direção do antigo presidente José Ribeiro e Castro. O advogado foi membro da Comissão de Jurisdição do CDS ao tempo de Assunção Cristas, mas acabaria por demitir-se em 2019.

Para a comissão Política Nacional, onde houve também várias demissões, entram dez novos nomes, na grande maioria dirigentes concelhios e distritais. No discurso que fez ao Conselho Nacional, Francisco Rodrigues dos Santos sublinhou que esta opção premeia o trabalho dos dirigentes locais. Uma escolha que foi vista entre críticos ouvidos pelo DN como uma forma de Francisco Rodrigues dos Santos reforçar a ligação ao aparelho do partido, na antevisão de uma futura disputa da liderança. Em janeiro, o líder centrista foi desafiado por Adolfo Mesquita Nunes para um congresso eletivo antecipado - um desafio travado num conturbado Conselho Nacional, há precisamente um mês.

Entre os nomes indicados para a Comissão Política está José Paulo Carvalho, antigo deputado do partido que entrou em rota de colisão com o grupo parlamentar, ao tempo da liderança de José Ribeiro e Castro, passando a deputado não inscrito em 2008, já depois de Paulo Portas ter regressado à presidência. Acabou por desfiliar-se do CDS, partido ao qual regressou no início deste ano.

"Decidi voltar no dia das últimas eleições legislativas. Fiquei de tal forma incomodado com aquele resultado que achei que tinha de voltar. Todos somos poucos para pegar neste projeto", conta ao DN. Acabou por filiar-se em janeiro, entrou entretanto para vogal da comissão política do Porto e chega agora à direção, a convite de Francisco Rodrigues dos Santos. "Tenho apreço pelo presidente do partido, está a fazer um trabalho muito empenhado numa fase muito difícil", defende o antigo deputado, para acrescentar que "independentemente das divergências que possa haver internamente", nesta altura há um "bem maior" em jogo. Leia-se a sobrevivência do partido. A última sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF dá aos centristas 0,8% das intenções de voto.

José Paulo Carvalho teve uma passagem peculiar pelo Parlamento- era o único nome afeto a José Ribeiro e Castro, na altura em que se abriu a fratura entre o grupo parlamentar e a liderança, e que viria a conduzir ao regresso de Paulo Portas à presidência dos centristas. Regressa numa altura em que o CDS está novamente marcado por clivagens internas. "Pode parecer que há algumas semelhanças, mas as circunstâncias do partido são substancialmente diferentes. Há um apelo maior e mais alto, que é o de salvar o projeto democrata-cristão, moderado, que o CDS representa", diz o advogado .

Mas o antigo deputado defende que o CDS tem "caminho" pela frente, como provam outras épocas difíceis que já atravessou: "Há aqui um património de dezenas de anos que não podemos deixar que nos fuja por entre os dedos. Mas acho que há caminho. Durante o período do cavaquismo o CDS viveu sob uma guilhotina. Resistiu e sobreviveu. Esse exemplo tem que nos servir de apelo e de alento".

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