Cold War, o campeão esperado em Sevilha
Há um dilema nestes prémios europeus: por um lado premiar o melhor cinema europeu, por outro ser institucional perante aquilo que já foi premiado nos maiores festivais do mundo. Um dilema que já dura há 31 anos, altura em que Wim Wenders fundou a Academia de Cinema Europeu. Contudo, estes Óscares europeus nunca foram pelo caminho do popular. Nunca se premiaram os filmes campeões de bilheteira ou se confundiu cinema com produtos audiovisuais. Por outras palavras, os European Film Awards (EFA) nunca quiserem ser os Óscares.
Nesta edição, o favorito ganhou em toda a escala: Cold War- Guerra Fria, de Pawel Pawlikovski, o filme polaco que é um dos grandes campeões no circuito dos festivais, estando ainda em exibição no mercado português. Melhor filme, melhor atriz, melhor argumento, melhor montagem e melhor realização.
Chiwitel Ejiofor, ator inglês notabilizado por 12 Anos Escravo, dizia-nos antes da cerimónia que é uma honra celebrar-se o cinema europeu: "eu, como britânico, com ou sem Brexit, vou querer sempre apoiar os EFA". Na passadeira vermelha do Teatro Maestranza, a causa europeia foi sempre levada a sério, mesmo quando Rossy De Palma, a apresentadora principal da gala, sempre bem humorada, partia a louça toda ao confessar-nos aquilo que foi mais importante nesta 31.ª edição: "ser em Sevilha, uma cidade perfeita para ser a anfitriã destes prémios". Logo a seguir, Wenders, o Presidente, também nos falava de um país possível para receber os EFA numa das próximas edições: "Portugal está na forja, não estamos longe. Acho que Lisboa ou o Porto seriam perfeitos".
Porém, Portugal ficou de mãos a abanar no palmarés. A curta Aquaparque, de Ana Moreira, exercício de estreia muito estimulante, não venceu a melhor curta, nem tão pouco Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt (ausentes da cerimónia), que concorria a melhor filme de comédia. Este perdeu para Amando Iannucci e a sua sátira A Morte de Estaline. Iannucci que comentava à entrada da cerimónia que ficou surpreendido que o seu filme tivesse sido retirado dos ecrãs russos pelas autoridades: "pensava que esse tipo de censura já não existia".
Obviamente, Wenders em plena cerimónia falava também com seta de discurso de resistência: "Não tenhamos medo do poder do entretenimento contra a luta contra o fascismo!", disse quando chamou ao palco Costa Gravas, o realizador grego que foi homenageado.
Uma cerimónia que soube fazer fluir elegância e humor, com uma realização sem "pressas" e capaz de devolver ao palco um certo ar teatral. Um "encenação" que dispunha de um cenário transformado em bar e onde várias estrelas do cinema europeu apresentavam os prémios por entre música de fundo perfeita e excertos muito bem escolhidos.
De registar o prémio de melhor ator, Marcello Fonte, em Dogman, de Matteo Garrone. Ator de uma comicidade sempre humanista que já tinha vencido o prémio em Cannes. Também ecos de Cannes na melhor atriz, a brilhante Joanna Kulig, de Cold War- Guerra Fria.
A Academia celebrou também a carreira de Carmen Maura, atriz imortalizada por Pedro Almodóvar. Um prémio de carreira para uma atriz que nos contou um segredo: "tento não pensar muito nestas homenagens. Apareço, como se fosse um dia de filmagens, só isso". Mas a homenagem foi bonita e fez levantar a plateia de Sevilha, tal como um certo derrame de lágrimas à própria atriz. Maura foi, curiosamente, a primeira atriz a vencer estes prémios com o papelão em Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos. 31 anos depois, este é o seu quarto EFA...
O outro homenageado foi Ralph Fiennes, ator e realizador britânico. Fiennes aproveitou para mostrar aos convidados da Academia europeia o seu filme sobre o bailarino russo Rudolf Nureyev, The White Crow, ainda sem data de estreia para Portugal.
Já no fim da gala, Agustín Almodóvar, parava na zona de imprensa e contava-nos que o novo filme do seu irmão está a ser montado e apontado para o Festival de Cannes. Sobre uma espécie de desejo adiado dos manos, a parceria com Rodrigo Leão, a resposta foi encorajadora: "quando o Alberto Iglésias nos falhar, gostaríamos de convidar o Rodrigo. Eu e o Pedro gostamos muitíssimo dele".
O Capitão, de Robert Schwentke, produção de Paulo Branco, foi considerado o filme com melhor som.