COI suspende Rússia mas convida atletas como independentes
O Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou ontem que a Rússia, como nação, está impedida de participar nos Jogos Olímpicos de Inverno, devido aos recorrentes casos de doping institucionalizados no país. Isto não significa que os seus atletas fiquem de fora, mas os que forem convidados terão de fazê-lo sob a bandeira olímpica, como independentes e sob condições específicas - só serão convidados os atletas limpos e a Rússia não fará parte do medalheiro da competição da Coreia do Sul.
Decidimos suspender o Comité Olímpico russo com efeitos imediatos, assim como convidar de forma individual os atletas russos para competir nos Jogos de Pyeongchang [Coreia do Sul] debaixo do nome de atletas olímpicos da Rússia e da bandeira olímpica, informou o COI em comunicado, anunciando ainda que o hino olímpico irá substituir o russo em qualquer cerimónia de pódio. A decisão, inédita na história dos Jogos Olímpicos de Inverno, foi tomada ontem em Lausana, na Suíça, pelos 15 membros do Comité Executivo do COI, presidido pelo alemão Thomas Bach. A entidade anunciou ainda a irradiação do vice-primeiro-ministro russo, Vitali Moutko, que durante vários anos tutelou o desporto no país.
Ficou provada a sistemática manipulação do sistema antidoping no desporto da Rússia. Antes dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, não tivemos tempo para levar a cabo um processo justo. Mas agora temos a confirmação de como os russos manipularam uma instalação olímpica, o laboratório de Socchi, e corromperam os ideais olímpicos, disse o líder do COI, precisando que os relatórios de Dennis Oswald e do político suíço Samuel Schmid, que dirigiram as comissões de investigação, permitiram validar as opiniões da Agência Mundial Antidopagem (AMA) apresentadas pelos investigadores Richard Pound e Richard McLaren.
O COI condenou a Rússia a pagar uma indemnização de cerca de 15 milhões de euros para pagar os gastos das investigações e contribuir para a luta contra o doping. Refira-se que, nas últimas semanas, 25 atletas russos que estiveram nos Jogos de Sochhi, em 2014, foram castigados por uso de subs-tâncias dopantes, estando por isso impedidos de marcar presença em Pyeongchang. Mas, de acordo com a Agência Mundial Antidopagem, pelos menos mil aproveitaram-se da conivência das autoridades russas para encobrir casos de doping.
Os antecedentes do caso
O escândalo do alegado esquema de dopagem sistemática patrocinado pelo governo russo foi revelado em dezembro de 2014, num documentário da estação televisiva alemã ARD, levando à abertura de procedimentos disciplinares por parte do Comité Olímpico Internacional e da Agência Mundial Antidopagem. Em agosto de 2015, antes do Mundial de Atletismo de Pequim, o canal alemão denunciou novos casos, visando atletas russos e quenianos.
A AMA divulgou em novembro de 2015 as primeiras conclusões do relatório feito pela sua comissão independente, propondo a exclusão do atletismo russo dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, o que viria a acontecer, enquanto a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) suspendeu a federação russa, que aceitou a pena.
Em julho de 2016, ocorreu novo abalo, com a divulgação da primeira parte do relatório independente da AMA, da autoria do professor canadiano Richard McLaren, que denunciou um sistema de doping estatal, envolvendo 30 modalidades, entre 2011 e 2015.
A segunda parte do designado relatório McLaren, publicado em dezembro de 2016, concluiu pela existência de manipulação sistemática e centralizada de controlos antidoping. A IAAF prolongou então o castigo da federação russa até ao Mundial de Londres, disputado em agosto, já depois de a agência russa antidopagem ter sido novamente autorizada a realizar controlos, em junho, após um ano e meio de suspensão.