Cientistas modificam genes de embriões e "apagam" doença cardíaca hereditária

Investigadores corrigiram mutação genética que provoca uma doença cardíaca que afeta 1 em cada 500 pessoas
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Os cientistas norte-americanos que modificaram pela primeira vez os genes de embriões humanos utilizando a técnica CRISPR conseguiram corrigir uma mutação no ADN que provoca uma doença cardíaca mortal, foi noticiado esta quarta-feira na revista Nature.

Este trabalho de investigação é pioneiro e um marco para a comunidade científica e pode impedir que as próximas gerações sofram de cardiomiopatia hipertrófica, uma doença que afeta 1 em cada 500 pessoas e é das causas mais comuns para paragens cardíacas súbitas entre os jovens.

"Demonstrámos a possibilidade de corrigir mutações num embrião humano de uma forma segura e com um certo de grau de eficácia", disse Juan Carlos Izpisua Belmonte, investigador do Instituto Salk para Estudos Biológicos, na Califórnia, segundo a Reuters.

Neste estudo, os cientistas focaram-se nos genes que provocam a cardiomiopatia hipertrófica, uma doença hereditária, mas acreditam que a mesma técnica pode ser usada para evitar outras doenças como a fibrose cística e alguns tipos de cancro da mana.

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Os cientistas usaram o esperma de um homem que sofre de cardiomiopatia hipertrófica e, como tal, tem o gene mutante que provoca esta doença, e os óvulos de uma mulher saudável. Como esperavam, metade dos embriões que resultaram desta junção tinha o gene mutante. Caso estes embriões tivessem sido implantados numa mulher, as crianças viriam a desenvolver a doença cardíaca.

A técnica dos cientistas mostrou-se um sucesso até pelo nível de eficácia. Quando a modificação foi feita numa fase precoce, 72% dos embriões ficou livre do gene mutante, ou seja 42 dos 58 embriões anteriormente afetados pelo gene

Nenhum dos embriões modificados se desenvolveu por mais do que alguns dias, segundo o The Guardian.

Para a investigação foi usada uma tecnologia conhecida como CRISPR, que permite modificar genes de forma rápida e eficaz. O CRISPR funciona como uma espécie de tesoura molecular que consegue cortar as partes indesejadas dos genomas e substitui-las por novos bocados de ADN.

O estudo, por parte de investigadores norte-americanos da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon e sul coreanos do Instituto de Pesquisa Científica em Daejeon, na Coreia do Sul, foi publicado esta quarta-feira na revista Nature.

Os cientistas admitem que ainda têm um longo caminho a percorrer até esta técnica ser colocada ao serviço do público. Alguns países assinaram uma convenção que torna este tipo de práticas ilegais por temerem que poderiam abrir as portas para os chamados "bebés criados à medida".

"Ninguém está a pensar nessa possibilidade porque é praticamente impossível agora", disse Izpisua Belmonte. "Esta pesquisa é muito básica" em comparação a "algo tão complexo como [fazer] o que a natureza faz há milhões e milhões de anos em evolução", continuou.

"É crucial continuar a avançar com o máximo de cuidado, sempre prestando atenção às questões éticas", continua Izpisua Belmonte.

No início deste ano, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos e a Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos disseram que os avanços científicos tornaram a modificação de genes uma "possibilidade realista que merece uma consideração séria".

No ano passado, a autoridade britânica que controla a fertilização humano e a embriologia autorizou os cientistas do Reino Unido a modificarem embriões humanos para fins de pesquisa, mas nunca a implantá-los numa mulher.

Cientistas na China foram os primeiros a publicar estudos similares com resultados diferentes.

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