Christopher Plummer, o ator que não era fã de "Música no Coração" (e o mais velho a vencer um Óscar)  

O eterno capitão Von Trapp de<em> Música no Coração</em>, oscarizado com o filme<em> Assim é o Amor</em>, morreu em casa, no Connecticut, aos 91 anos.
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"És apenas dois anos mais velho do que eu, darling. Onde estiveste toda a minha vida?" Foi assim que Christopher Plummer, o ator canadiano que morreu na passada sexta-feira, aos 91 anos, começou o seu discurso de aceitação do Óscar, em 2012, olhando para a estatueta dourada na sua mão. Estava perante a evidência de ser o ator mais velho a receber esse prémio da Academia, no caso, pelo papel (secundário) de um pai que se assume homossexual pouco antes da morte, com um cancro, em Assim é o Amor, de Mike Mills. A seguir a este bateu ainda outro recorde: em 2017, aos 88 anos, tornou-se o mais velho ator a ser nomeado para o Óscar, desta vez no filme de Ridley Scott Todo o Dinheiro do Mundo, em que substituiu o então proscrito Kevin Spacey na pele do magnata Jean Paul Getty.

Nascido em Toronto, a 13 de dezembro de 1929, Plummer foi um dos rostos mais regulares de Hollywood - depois de ter começado no teatro e na televisão -, com uma carreira prolífica que no grande ecrã arrancou definitivamente com o gigante sucesso Música no Coração (1965), de Robert Wise, ao lado de Julie Andrews; mas só alcançou verdadeira gravitas depois dos 70 anos. Para que conste, a famosa personagem do capitão Von Trapp em Música no Coração foi mesmo uma espécie de arrependimento que guardou durante algum tempo (em parte porque se colou à sua imagem assim como James Bond se colou à de Sean Connery): "Eu não estava particularmente feliz com o papel porque não achei que fosse, enfim, a coisa mais emocionante. Quer dizer, não se compara a Hamlet ou a Lear, e eu era um pouco snobe acerca disso na época", disse em entrevista à Deadline. Isto numa altura em que já vivia, de algum modo, apaziguado com a memória do filme que não estava entre as suas preferências e orgulhos da profissão, e a que sempre se referiu como "The Sound of Mucus" (o som do muco), fazendo o trocadilho com o título original The Sound of Music.

Mas depois de Von Trapp, e apesar da sombra desta personagem, não lhe faltaram papéis de figuras ilustres. Vestiu a pele do escritor Rudyard Kipling em O Homem que Queria Ser Rei (1975), de John Huston, foi Sherlock Holmes em Processo Arquivado por Ordem Real (1979), de Bob Clark, Tolstoi - primeira nomeação para o Óscar - em A Última Estação (2009), de Michael Hoffman, e por essa altura já estava a ganhar a tal gravitas em filmes como O Informador (1999), de Michael Mann, Uma Mente Brilhante (2001), de Ron Howard, O Novo Mundo (2005), de Terrence Malick, e Infiltrado (2006), de Spike Lee.

Com o avançar da idade, a sua carreira não abrandou. Entre uma série de produções, foi ainda o patriarca em Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres (2011), de David Fincher, protagonizou O Número (2015), de Atom Egoyan, interpretando um homem com demência, e mais recentemente fez parte do ensemble de Knives Out: Todos São Suspeitos (2019), de Rian Johnson.

Plummer não pensava na reforma. A já muito longa carreira estava para continuar, não terminasse com este adeus súbito - na sequência de uma queda em casa - de um dos nobres e "jovens" atores da família de Hollywood.

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