China: autoridades dizem que situação está controlada

"As autoridades estão a controlar a situação", assegurou hoje na televisão o presidente da câmara de Urumqi, Jerla Isamudin, cidade que desde domingo é palco de confrontos entre membros das etnias han e uigure.<br />
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Segundo jornalistas estrangeiros em Urumqi, a capital regional de Xinjiang foi hoje novamente palco de incidentes violentos.

Um jornalista da agência noticiosa francesa AFP relatou que, atraído por gritos, se deslocou a um bairro próximo da Praça do Povo e assistiu ao espancamento de um homem que estava no chão.

Segundo o jornalista, cerca de 20 homens da etnia han (maioritária na China), alguns armados com paus, bateram na vítima.

O incidente foi interrompido pela chegada de militares, que estavam a cerca de 200 metros do local junto a uma barreira impedindo o acesso a um bairro uigure, que dispersaram os atacantes e levaram a vítima.

Uma testemunha han, uma jovem de cerca de 20 anos, disse ao jornalista que "o homem atacado era uigure".

Num outro incidente também testemunhado por um jornalista da AFP, um grupo de pessoas da etnia han perseguiu três uigures que passaram por eles. Dois conseguiram escapar mas o terceiro foi violentamente espancado por meia dezena de homens e mulheres.

A cena prolongou-se por cerca de meio minuto, altura em que a polícia interveio.

Em ambos incidentes, segundo a AFP, a polícia dispersou os atacantes mas não tentou identificar ninguém.

O mesmo grupo que perseguiu os três uigures atacou em seguida um outro uigure, encurralando-o num beco onde o jornalista não conseguiu ver o que se passou.

Este episódio foi seguido de momentos de grande confusão, com pessoas a perseguirem também polícias e a forçarem-nos a libertar pelo menos um homem da etnia han interpelado no beco.

Líder uigur afirma que polícia matou 400 pessoas

A dissidente uigur no exílio Rebiya Kadeer afirmou hoje que a polícia matou 400 membros da sua comunidade étnica em Urumqi, onde, segundo as autoridades chinesas, 156 pessoas morreram nos confrontos de domingo à noite.

A dirigente do Congresso Mundial Uigur (CMU) escreve no diário Wall Street Journal Asia que 400 uigures, muçulmanos turcófonos, foram abatidos por "tiros da polícia e depois de terem sido espancados" na capital da região autónoma de Xinjiang no domingo à noite.

Rebiya Kadeer cita fontes uigures no "Turquestão oriental", nome que os militantes muçulmanos utilizam para designar aquela região do noroeste da China.

Escreve ainda que os tumultos se estenderam a outras zonas do Xinjiang e nomeadamente a Kashgar, no extremo oeste, onde relatos não confirmados deram conta de 100 mortos.

A presidente do CMU denuncia também medidas securitárias dirigidas aos uigures quando, segundo essas fontes, "as autoridades chinesas estão a efectuar buscas casa a casa e a prender homens uigures".

As autoridades chinesas estabeleceram um balanço de 156 mortos e 1.080 feridos em Urumqi, sem fazerem distinção étnica entre as vítimas nem dar outros pormenores, e anunciaram a detenção de mais de 1.400 pessoas ligadas aos incidentes.

A China acusa Rebiya Kadeer, 62 anos, que vive exilada nos Estados Unidos desde 2005, de ter fomentado os tumultos, o que ela desmente.

No jornal, a dirigente uigur repete que os acontecimentos degeneraram depois das autoridades terem reagido com "excesso de força" a uma manifestação inicialmente pacífica e afirma condenar inequivocamente "o recurso á violência por certos uigures durante a manifestação, tal como o recurso à força excessiva pela China contra os manifestantes".

Hu Jintao cancelou visita a Portugal

Devido à situação na região de Xinjiang, o Presidente chinês, Hu Jintao, cancelou a sua participação na cimeira do G8, que começa hoje em Itália, onde já se encontrava, e adiou a visita que deveria efectuar sexta-feira e sábado a Portugal.

Nova manifestação de uigures num bairro muçulmano de Urumqi

Cerca de 200 uigures, munidos de armas improvisadas, manifestaram-se hoje contra a a comunidade han num bairro muçulmano de Urumqi, capital da região autónoma de Xinjiang, num tenso desafio às forças da ordem, segundo um jornalista da AFP.

Os protestos marcam o quarto dia consecutivo de incidentes interétnicos na cidade entre uigures, a etnia predominante na região, e hans, maioritários na China, que fizeram 156 mortos no domingo, de acordo com fonte oficial.

A situação em Urumqi forçou o Presidente chinês, Hu Jintao, a adiar a visita oficial de dois dias a Portugal que deveria iniciar sexta-feira, e a anular a sua participação na cimeira do G8, que decorre entre hoje e quinta-feira, em Itália.

Os manifestantes uigures juntaram-se perto de um cordão formado pela polícia para os separar dos bairros han, com o objectivo de protestar contra actos de violência cometidos, segundo eles, por membros desta etnia contra a sua comunidade.  

"Na noite passada, cerca de 300 hans furaram o cordão de segurança e atacaram casas e saquearam um restaurante", afirmou um muçulmano, Akbar, 20 anos, acrescentando que "chegaram mesmo a espancar um homem de 50 anos".

Não foi possível confirmar imediatamente estas informações.

O número de manifestantes cresceu quando helicópteros lançaram no bairro panfletos em que se lia que Rebiya Kadeer, chefe dos exilados uigures no exílio nos Estados Unidos, tinha fomentado os tumultos de domingo.

Os manifestantes empunhavam paus, canos e pedras e desafiavam as forças da ordem com injúrias numa zona próxima dos bairros han.

A polícia impediu o acesso de jornalistas ao local, impossibilitando-os de testemunharem os acontecimentos.

Na terça-feira, as forças da ordem estiveram presentes em grande número nesta cidade de mais de dois milhões de habitantes onde a tensão continua muito viva, mantendo uma separação física entre as duas comunidades para evitar novas violências. 

Milhares de han invadiram as ruas de Urumqi armados de bastões, pás e facas, clamando a sua cólera e a sua sede de vingança contra os uigures, mas a polícia, já em grande número, conseguiu evitar os confrontos.

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