China bate EUA e já é o gigante diplomático

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A China acaba de ultrapassar os EUA como a maior potência diplomática se tivermos em conta o número de representações no exterior, 276 no total, incluindo 169 embaixadas. Os americanos, líderes desde longa data, são agora segundos, com 273, das quais 168 com estatuto de embaixadas. O terceiro lugar é ocupado pela França, e Portugal é um muito honrado 23.º, segundo o Global Diplomacy Index do Lowy Institute, think tank australiano.

É duplamente simbólica esta liderança chinesa, pois acontece num momento em que a República Popular proclamada em 1949 por Mao Tsé-tung celebra 70 anos e deve-se em boa medida ao esforço de Pequim para tirar aliados a Taiwan, a ilha onde se refugiaram os nacionalistas de Chiang Kai-shek e que oficialmente se chama República da China.

Desde a eleição de Tsai Ing-wen em 2016 como presidente taiwanesa, a China de Xi Jinping adotou uma atitude de cerco à província rebelde para travar quaisquer tentações de proclamar uma independência formal. Parte da estratégia consiste em oferecer vantagens em termos de ajuda económica aos países que se mantinham fiéis a Taiwan. São Tomé e Príncipe, República Dominicana, El Salvador, Burkina Faso, ilhas Salomão e Kiribati cortaram assim com Taipé e passaram a reconhecer Pequim.

A Taiwan, que se recusa a usar a diplomacia do cheque como fazia no passado para manter aliados, restam agora 15 países com os quais mantém relações diplomáticas, apesar de serem muitos mais aqueles que têm laços oficiosos com a ilha, 21.ª economia mundial apesar de mais ser pequena do que Portugal. Desses 15, sobressaem pelo peso histórico a Santa Sé e pelo território o Paraguai.

Claro que o crescimento da presença diplomática chinesa no mundo se deve a muito mais do que à competição com Taiwan. O colosso económico em que a China se tornou depois das reformas semicapitalistas lançadas no final da década de 1970 por Deng Xiaoping fizeram que hoje grande parte dos países a tenha já como maior parceiro comercial e isso aplica-se a Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. Com a União Europeia no seu todo surge em 2.º.

Assim, é evidente que a iniciativa Uma Faixa, Uma Rota, tão querida ao presidente Xi, faz parte de um projeto geopolítico que visa fazer da China o centro do mundo como de certa forma o foi até ao tempo do imperador Qianlong e sem dúvida até ao momento da expansão marítima europeia nos séculos XV e XVI. Não é por acaso que China em mandarim é Zhongguo, ou "Império do Meio".
Governo chinês, bancos, empresas, tanto estatais como privadas, agem em sintonia para proteger os interesses do Estado, numa espécie de diplomacia do cheque muito mais sofisticada. Em teoria, há ganhos para ambos os lados, como parecem acreditar muitos países, até na Europa. Recorde-se como, em plena crise, Portugal e Grécia venderam ativos aos chineses, mesmo que por falta de alternativa, pois nem empresas europeias nem americanas se interessaram.

No campo da diplomacia multilateral, a China tem ganho também terreno e já ultrapassou o Japão para ser o segundo financiador das Nações Unidas, atrás dos EUA. Com o seu direito de veto - restringido no Conselho de Segurança às cinco potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial - condiciona muito do que acontece no mundo, como é o caso da Síria, onde zela pelo regime de Bashar Al-Assad quase tanto como a Rússia.

Ainda mais fortes do ponto de vista económico e sobretudo militar (em todas as vertentes, do arsenal nuclear aos porta-aviões, passando pelo orçamento de Defesa), os Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump parecem estar a reagir à emergência da China, conscientes de que a cada ano a sua vantagem como superpotência se reduz. Daí a ameaça de guerra comercial, dai também as pressões sobre vários países, incluindo Portugal, para que desista da tecnologia 5G da Huawei.

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