China avisa que ninguém vencerá guerra comercial

Intervenção de Xi Jinping no Fórum Económico Mundial esteve repleta de críticas a Donald Trump, sem nunca citar o seu nome.
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"Num mundo marcado por grandes incertezas e pela volatilidade, esse mundo lança o olhar para a China", declarou Klaus Schwab, o fundador do Fórum Económico Mundial de Davos, ao apresentar o presidente Xi Jinping, que proferiu ontem a conferência inaugural da 47.ª edição dos encontros a decorrerem até sexta-feira naquela localidade dos Alpes suíços.

Na primeira vez que um presidente chinês participou no Fórum, Xi Jinping teve uma mensagem clara e direta à altura das expectativas enunciadas pelo responsável dos encontros ao apresentar o dirigente máximo do regime de Pequim. No final da intervenção de cerca de 60 minutos, o antigo chefe de governo sueco Carl Bildt escreveu no Twitter: "Há um vazio na liderança económica global e Xi Jinping pretende preencher esse vazio. E está ter algum sucesso". Para o presidente do Banco Europeu de Investimento, Werner Hoyer, as palavras de Xi foram "notáveis"; um discurso "diferente do habitual", disse à Reuters Ian Bremmer, que dirige a consultora de risco Eurasia Group.

Sem nunca o citar pelo nome, Xi dirigiu uma série de críticas ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. "Ninguém sairá vencedor de uma guerra comercial", afirmou para definir a seguir os perigos do protecionismo: as pessoas "fecham-se a si próprias num quarto escuro" à espera de protegerem-se dos perigos. O vento e a chuva ficam lá fora, mas também a luz e o oxigénio". E, à maneira de um pedagogo explicou que "é verdade que a globalização económica criou novos problemas, mas isto não justifica, de modo algum, pôr de parte a globalização económica". Palavras com destinatário óbvio: Donald Trump. O presidente eleito prometeu denunciar ou renegociar acordos multilaterais de comércio e prometeu criar taxas alfandegárias para desincentivar as importações e proteger a produção nacional.

O dirigente chinês, que falava perante uma plateia onde, além de sua mulher, Peng Liyuan, estava o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, recorreu às palavras usadas por Abraham Lincoln no célebre discurso de Gettysburg para defender o direito de todos ao desenvolvimento, que "não pode ser visto como propriedade de um só país" - "o desenvolvimento é do povo, pelo povo e para o povo", disse. Recorrendo a metáforas capitalistas e provérbios chineses, Xi apresentou a China como um modelo de país "totalmente aberto" ao comércio livre. "Sabemos demasiadamente bem que não há almoços grátis no mundo e que as tartes não caem do céu". Em 2016, segundo o FMI, a China contribuiu em 39% para o crescimento da economia mundial.

Xi garantiu que não irá recorrer à desvalorização da moeda nacional, o renminbi, para incentivar as exportações e apelou aos signatários do acordo de Paris sobre o clima para honrarem os compromissos assumidos. Mais uma vez, o destinatário destas palavras só podia ser um: Trump. No passado, o novo presidente dos EUA, que toma posse sexta-feira (no mesmo dia em que finda a reunião de Davos), acusou Pequim de recorrer à manipulação do renminbi para criar vantagens injustas para as suas exportações e declarou ter a intenção de desvincular-se do acordo de Paris.

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