"Chegámos a ter quase 40% de abandono escolar precoce e hoje estamos entre os melhores da Europa"

A frase é de João Santos, perito da Comissão Europeia, que destaca os progressos conquistados pelo país, embora alerte para a importância de continuar a apostar na requalificação de adultos.
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Formar trabalhadores cada vez mais bem preparados, técnica e socialmente, é um dos grandes objetivos do Programa Operacional Capital Humano (PO CH), integrado no Portugal 2020, cuja atividade está prestes a terminar no atual quadro de financiamento comunitário. Ao longo dos sete anos de execução, conseguiu garantir ações de formação a quase 900 mil jovens e adultos e já esgotou a dotação orçamental no valor de 3,8 mil milhões de euros. "Os progressos [nas qualificações dos portugueses] são extraordinários e sem dúvida que os fundos estruturais foram absolutamente decisivos para que o país pudesse recuperar em dimensões como o ensino profissional", reconhece Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação. A qualificação de adultos é, refere, um dos principais desafios para o futuro. O tema das competências esteve no centro do debate «Capital Humano: E.Volui» promovido pelo PO CH em parceria com o Diário de Notícias esta terça-feira, dia 15.

"Falta-nos um impulso mais forte e mais convicto no que respeita à qualificação dos adultos. Aí diria que está quase tudo por fazer", acredita a ex-governante e atual reitora do ISCTE. Esta é uma forma de preparar o país para as exigências do futuro, nomeadamente as relacionadas com o desenvolvimento económico, tecnológico e social. "Chegámos a ter quase 40% de abandono escolar precoce e hoje estamos entre os melhores da Europa", recorda João Santos, especialista da Comissão Europeia nos temas do emprego, assuntos sociais e inclusão. Apesar destas conquistas, sublinha que o cenário não é tão positivo nas regiões autónomas, onde a taxa de abandono escolar permanece mais elevada do que no Continente. Sobre os adultos, João Santos reforça a urgência de mostrar à população a importância da aprendizagem ao longo da vida, que será essencial para garantir que os trabalhadores se mantêm atualizados em termos de competências. "Sem dúvida que o Estado tem um papel nisso, mas penso que as empresas também têm de contribuir muito mais e entender que a qualidade do sistema de ensino depende do envolvimento das empresas", afirma.

Em causa está a adaptação dos currículos escolares e universitários às necessidades reais das organizações dos mais diferentes setores de atividade, que devem contribuir com sugestões para o seu desenho e planeamento. "Ainda se nota, embora cada vez menos, algum hiato entre aquilo que são as competências que as empresas precisam e a preparação escolar com que os alunos são colocados no mercado de trabalho", acrescenta Mariana Canto e Castro. A diretora de recursos humanos da Randstad Portugal reconhece que o desenvolvimento do ensino profissional tem sido "notório e muitíssimo importante para este gap ficar mais pequeno". Para os especialistas, é preciso que o Estado diversifique a oferta escolar e académica que se adequem aos diferentes alunos, tornando-os profissionais mais bem preparados. "A capacidade de um profissional se manter relevante hoje em dia no mercado de trabalho passa muito pela sua capacidade de absorver este conceito de aprendizagem contínua", diz Mariana Canto e Castro. Aprender novas funções e competências será essencial para o sucesso, acredita.

Para Maria de Lurdes Rodrigues, a aprendizagem contínua ao longo da vida deve estar na base formativa de todas as pessoas, independentemente da sua idade, profissão e área académica. "São competências básicas e de conhecimento que lhes permitam, quando chegam ao mercado de trabalho, enfrentar os desafios da mudança tecnológica e dos progressos que vão ocorrendo", garante. Esta lógica, diz, é particularmente relevante quando falamos em transição digital, processo que a professora defende que deve ser feito por todos e não apenas por "engenheiros". O domínio do digital é, por isso, fundamental para qualquer profissional. "A informática é uma nova linguagem que todos têm de compreender", afiança. Neste campo, aliás, o ISCTE está a preparar a construção daquela que diz ser a primeira do género em Portugal, localizada em Sintra. Será uma escola "centrada e especializada nas tecnologias digitais aplicadas a diferentes setores" como a cibersegurança, o desenvolvimento de software ou a indústria, entre outros. Para assegurar a adequação da oferta formativa às necessidades do mercado, a instituição convocou 150 empregadores de várias áreas de atividade para ajudar a definir as competências abordadas em cada curso. "É a primeira escola em Portugal na área das tecnologias aplicadas", destaca Maria de Lurdes Rodrigues.

No que respeita à tecnologia, Joaquim Bernardo, presidente do PO CH, lembrou que o programa operacional sofreu uma reprogramação em resposta aos desafios da pandemia, que permitiu reforçar o investimento no projeto Escola Digital. "Aumentámos a dotação em 100 milhões de euros", refere. Este financiamento divide-se entre a aquisição de material informático e a formação dos docentes, de forma que possam tirar partido das oportunidades oferecidas pelos computadores. "Isto está a ser acompanhado por um investimento de mais de 15 milhões de euros na formação contínua de docentes", remata o responsável.

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