Chegada à Lua acontece no CCB
No dia em que se comemoram os 50 anos do pequeno grande passo de Neil Armstrong na superfície lunar, ver o filme O Primeiro Homem na Lua ao ar livre não poderia ser um programa noturno mais sugestivo e adequado. Esta última obra do realizador do badalado La La Land: Melodia de Amor, Damien Chazelle, é uma incursão íntima na história do astronauta cujo drama da morte de uma filha, ainda bebé - antes do seu grande feito -, lhe marcou profundamente tanto a vida familiar como a profissional.
Odisseia do foro privado protagonizada por Ryan Gosling, este é um filme que se afasta da mais óbvia abordagem pelo ângulo da espetacularidade, para antes cruzar os bastidores do programa espacial Apollo - o conjunto de missões que conduziram ao histórico momento em que Armstrong pisou a Lua - com esse universo mais reservado da sua pessoa. Alguém tomado pela angústia, depois da tragédia pessoal, que teve consequências no próprio ambiente doméstico. Daí que faça particular sentido ser O Primeiro Homem na Lua a abrir o ciclo de verão organizado pelo CCB: trata-se de sessões de cinema ao ar livre que respondem ao mote Os Meus Pais. No fundo, olhares à volta dos laços de família.
Ainda focando o lugar da figura paterna, na sessão seguinte (dia 27) exibe-se - sempre na praça central do Centro Cultural de Belém - Capitão Fantástico, de Matt Ross, a narrativa de um pai (Viggo Mortensen num notável papel) que criou os seus seis filhos nas florestas do Pacífico Norte, conjugando uma rigorosa educação com a vivência em absoluta harmonia com a natureza. Só que um dia o regresso à civilização acontece e o embate humano não será fácil...
Dentro do registo não ficcional, para além de dois títulos inéditos no circuito português - Tudo é Projeto (3 de agosto), da dupla brasileira Joana Mendes da Rocha e Patricia Rubano, e My Father, The Genius (dia 17), de Lucia Small - destaca-se também o documentário que Nick Willing fez sobre a artista, sua mãe, Paula Rego: Histórias e Segredos (dia 31), uma conversa à volta da(s) memória(s) de uma vida e da sua expressão na arte.
O cinema de animação está representado numa única sessão (dia 24) com Bambi, o belo e trágico clássico da Disney, de 1942, sobre uma cria de veado que, depois da morte da mãe, terá de aprender a enfrentar os perigos da floresta, para isso contando com a ajuda do seu melhor amigo, o coelho Tambor. Uma ocasião ideal para juntar pais e filhos diante da grande tela.
Com uma forte vibração indie, outra das grandes propostas deste ciclo é The Florida Project (dia 10), de Sean Baker, um filme que procura o encanto escondido nos cenários mais desfavorecidos. Aqui vemos crianças em estado "selvagem" a viver com familiares em quartos de motel, precisamente nos arredores dos parques Disney (a marca registada da magia infantil, leia-se a ironia), que passam os dias ora a fazer travessuras ora no encalço do simples feitiço das tardes soalheiras. Baker filma tudo isto com cores muito vivas - desde o cabelo azul da mãe de uma dessas crianças à fachada lilás do motel - para sublinhar uma aparência que alberga a degradação. E é também neste filme que vemos uma das mais afetuosas interpretações de Willem Dafoe, como o paternal gerente do motel, e o espantoso lançamento da pequena atriz Brooklynn Prince, que deixa qualquer um de queixo caído com o seu jeito espevitado.
Já em setembro, no dia 7, o programa encerra com O País das Maravilhas, de Alice Rohrwacher, uma delicada fábula rural, situada na Toscana, em torno de uma família a viver da apicultura que vê a sua existência agitada por um programa de televisão recentemente chegado àquele lugar. A apresentadora, interpretada por Monica Bellucci, é outra das maravilhas deste conto estival.
As sessões do ciclo Os Meus Pais têm lugar sempre aos sábados, pelas 21.30.