A amputação das duas pernas ao soldado comando Aliu Camará, após o recente acidente numa operação ao serviço da ONU, levou os chefes militares a equacionar soluções para a entrada dos militares contratados deficientes nos quadros permanentes..A iniciativa, a concretizar-se, permitirá atingir dois objetivos: no curto e médio prazo, garantir a integração socioprofissional desses novos deficientes das Forças Armadas (DFA); a longo prazo, evitar que um militar contratado como Aliu Camará, de 23 anos, saia do Exército no final do contrato de seis anos e com direito a uma pensão correspondente ao posto de soldado e com base nos descontos de seis anos, admitiram fontes militares ouvidas pelo DN sob anonimato, por não estarem autorizada a falar sobre uma matéria sensível com implicações políticas e legislativas..A decisão das chefias foi dada pelo porta-voz do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), comandante Santos Serafim, ao ser questionado pelo DN sobre a situação de Aliu Camará após o PCP ter requerido informações ao ministro da Defesa quanto aos apoios que esse militar contratado - e a família - poderá receber da ONU e do Estado português.."O Conselho de Chefes de Estado-Maior decidiu criar um grupo de trabalho que tem a incumbência de analisar a legislação em vigor e efetuar uma proposta de alteração de modo a que os militares em regime de contrato ou de voluntariado que sofram acidentes em serviço possam prosseguir as suas carreiras militares em circunstâncias apropriadas às suas deficiências", disse Santos Serafim..Instado a precisar os termos dessa iniciativa, o porta-voz do EMGFA disse nada ter a acrescentar a algo que ainda está numa fase embrionária e carece de análise com a tutela política..Outras fontes, contudo, admitiram que a finalidade é garantir a entrada desses jovens adultos nos quadros permanentes das Forças Armadas para que não passem pelas dificuldades sofridas pelos DFA - militares do serviço militar obrigatório, muitos deles naturais das antigas colónias - que participaram na guerra colonial (1961-1974)..Dito de outra forma e tomando Aliu Camará como exemplo, trata-se de evitar que fique "condenado a uma vida de miséria ou de caridade, como acontece a muitos antigos combatentes do Ultramar", afirmou uma dessas fontes..Em termos práticos, as soluções a encontrar permitirão que esses DFA continuem nas fileiras, podendo desempenhar funções adequadas às suas condições e limitações físicas - o que deverá incluir a frequência de cursos de especialização e, tão ou mais importante, de promoção..Voltando ao caso concreto do soldado comando Aliu Camará, de origem guineense, "ele terá uma vida digna e contribuirá para a missão" das Forças Armadas, argumentou um oficial..Além da análise à legislação aplicável aos DFA, deverá ser também necessário estudar quais as áreas em que os militares com limitações físicas possam ser colocados. Em termos empíricos, é possível admitir que lhes possam atribuir muitas das funções administrativas agora desempenhadas por militares em perfeitas condições físicas - bem como, por exemplo, estarem nos bares ou limparem as paradas..Mas como?.A existência no topo da hierarquia castrense de muitos oficiais generais que entraram para as academias militares depois do 25 Abril, os efetivos serem agora todos voluntários e o facto de os DFA estarem a entrar na última fase das suas vidas explicará esta maior sensibilidade para o problema dos DFA criados pelas novas missões militares - e a recente decisão do Ministério da Defesa em criar o Estatuto do Antigo Combatente..Certo é que a própria Assembleia da República, através dos seus presidentes e dos deputados da comissão parlamentar de Defesa, tem-se mostrado publicamente empenhada na defesa de soluções e mecanismos para os DFA que, muitas vezes pelas respetivas implicações financeiras, acabaram por ficar na gaveta..Mas agora, quando as Forças Armadas e o poder político dizem haver grandes carências de efetivos (a exemplo do que sucede na generalidade dos países aliados) nos regimes de voluntariado (RV) e contrato (RC), haverá mais possibilidades de criar condições para aproveitar as capacidades que muitos desses novos DFA continuam a ter e com as quais poderão continuar ao serviço da República, admitiram algumas das fontes..Daí que, segundo algumas dessas fontes, a intenção de criar quadros permanentes na categoria de praças para atrair mais candidatos para o Exército e para a Força Aérea possa incluir mecanismos para integrar esses novos DFA - algo de que não beneficiou o cabo adjunto comando Horácio Mourão, gravemente ferido em 2005 no Afeganistão..Certo é que esse quadro permanente de praças existe na Marinha, pelo que deverá ser neste ramo que os novos DFA terão acesso garantido aos quadros permanentes, reconheceu um dos oficiais ouvidos pelo DN..Militar amputado nos EUA ou na Alemanha.Aliu Camará, gravemente ferido num acidente ocorrido a 13 de junho na República Centro-Africana, continua internado no Hospital das Forças Armadas (HFAR) e a receber "os cuidados médicos diferenciados, necessários à sua recuperação", disse o porta-voz do EMGFA ao DN..O militar de 24 anos - que recebeu no sábado a visita do futebolista Pizzi - "já se desloca em cadeira de rodas e revela uma atitude muito positiva, corajosa e resiliente, como é próprio dos militares comando, perante as consequências deste acidente", adiantou o comandante Santos Serafim..Além do "acompanhamento diário de família e amigos, dos quais se destacam os camaradas dos Comandos", Santos Serafim realçou as visitas frequentes ao militar internado que têm sido feitas pelo Presidente da República, pelo ministro da Defesa e pelos chefes do EMGFA e do Exército..Quanto à evolução do militar amputado no curto e médio prazo, Santos Serafim disse estar a ser equacionada a sua deslocação "para um hospital na Alemanha ou nos Estados Unidos" - especializados na "implantação de próteses em mutilados de guerra" - assim que esteja recuperado. "Logo que as zonas das pernas onde foi efetuada a cirurgia de amputação tenha a maturidade adequada, o soldado Camará será dotado de próteses que lhe permitirão readquirir mobilidade."